Dessalinização de água do mar, um mercado a ser explorado no Brasil

Com tantos recursos hídricos existentes no País, dessalinização da água do mar se torna uma alternativa de negócios futuros


Dessalinização de água do mar, um mercado a ser explorado no Brasil

Devido a escassez de recursos hídricos e uma constante preocupação com o uso inteligente da água no planeta, a dessalinização de água do mar vem sendo utilizada como forma alternativa para obtenção deste recurso tão precioso. Esta tecnologia já é uma realidade em alguns países do Oriente Médio, como Israel e Kuwait, assim como Austrália, França e Estados Unidos, e que vem tornando-se uma alternativa viável em solo brasileiro, mas para que esta nova opção esteja disponível a todos é preciso investir em novos projetos, ideias, pesquisas e estudos, analisando as necessidades e o mercado em geral para facilitar a inovação em qualquer campo. Existem pesquisadores, empresas, captadores e produtores interessados em expandir este mercado, que se mostra promissor, apesar de pouco explorado aqui no Brasil.
"Ainda há poucas pesquisas e estudos sobre dessalinização no Brasil", aponta Dr. Kepler França, cientista e pesquisador do Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes), do Departamento de Engenharia Química e do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no Estado da Paraíba. Em comparação, segundo ele, afirma que, no mundo, "existem mais de 6 mil sistemas de dessalinização da água do mar". O motivo é que o Brasil tem uma das maiores redes hidrográficas do mundo e não precisou recorrer a este recurso ainda. Apesar de, por muitos anos, termos visto em determinadas regiões do Brasil, principalmente no Nordeste, a falta de água potável.

Dessalinização de água do mar, um mercado a ser explorado no BrasilEsforço por novos projetos
O Labdes coordena projetos de ordem social e ambiental trabalhando com dessalinização de água do mar e salobra, água menos salgada que a do mar. Dr. Kepler e uma equipe instalaram o processo de dessalinização no arquipélago de Fernando de Noronha em parceria com a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), esta necessidade de abastecer o arquipélago foi detectada há dez anos, já que estava se tornando inviável o fornecimento anterior existente na ilha. O sistema da ilha produz atualmente cerca de 900 mil litros de água por dia com projeção a chegar a 1 milhão de litros por dia pela necessidade da ilha e o turismo crescente.
O cientista e pesquisador acredita muito no potencial de uso destas águas para suprir o mercado de hotelaria, resorts, shoppings, hospitalar, capitais próximas aos oceanos, entre outros. Para que isso ocorra, a Labdes se empenha junto ao governo federal para que estes projetos sejam implementados e pela importância de uma expansão maior do segmento. Segundo Dr. Kepler, é preciso minimizar os custos da água para levar ao desenvolvimento geral. Cita como exemplo o Beach Park, parque de diversões aquático de Fortaleza no Ceará, onde aponta que poderia ser usado outro tipo de água para abastecê-lo.

Água do mar potável à venda
Durante 11 anos, a Aquamare desenvolveu no País a tecnologia Aqua, para purificação da água do mar para o consumo humano. Comercializada para os Estados Unidos desde 2008, a venda no Brasil teve início somente a partir de janeiro de 2011 depois de muita insistência da empresa. Conforme esclarecimentos da assessoria de imprensa, havia muita burocracia para liberação da comercialização da água na legislação do mercado brasileiro. Em 2008, os laudos Dessalinização de água do mar, um mercado a ser explorado no Brasilinternacionais, inclusive o FDA (Food and Drug Administration), órgão que atesta a qualidade de alimentos e remédios nos Estados Unidos, já haviam autorizado a venda. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou no ano passado e, mesmo assim, segundo eles, com a nomenclatura de água purificada adicionada de sais. "Não acrescentamos, apenas mantemos no processo os nutrientes saudáveis do mar na água que produzimos." Para atender a esta exigência da lei, a empresa adiciona bicarbonato de sódio na água comercializada aqui no Brasil. Na vendida para o exterior, não existe esta necessidade.
O produto ainda sem concorrentes no Brasil é voltado ao mercado de bem-estar e saúde, representado por 6% da população que consome produtos saudáveis, frequenta academias e busca novidades. Focada nesse público-alvo, a água é vendida em restaurantes vegetarianos, lojas de produtos naturais e orgânicos, entre outros. A empresa desenvolve pesquisas e tem um estudo que comprova que a água do mar não apresenta características de toxicidade. Um dos diferenciais, segundo explica Rolando
Viviani Jr., diretor de marketing da Mundo Aqua, é ser uma água muito leve quando comparada com outras águas dessalinizadas, que são mais pesadas, isto já inicia-se no tratamento pelo qual a água do mar passa, também é um diferencial da empresa mantido em segredo. "O nosso processo é de osmose reversa, com uso de nanotecnologia e de membranas especiais em um equipamento compacto."

Rica em minerais e nutrientes
O processo de purificação utilizado pela Aquamare, segundo informa, tem início na captação da água em alto mar. O motivo de se ir distante da orla marítima é que a mais de 20 km da costa, a área tem menor presença de materiais em suspensão, como areia, por exemplo, e são 30 metros ou mais de profundidade e a água encontra-se mais límpida e livre da poluição da costa. Depois de captada, a água passa por um processo de tratamento e filtragem, que utiliza estruturas de osmose reversa para o balanceamento dos minerais. Todo sal e impurezas são retirados da água, permanecendo apenas os minerais e nutrientes naturais. Durante este processo, nenhum tipo de substância é acrescentado. Para atender à legislação brasileira e manter a sinergia com a estrutura da água, no final da produção é adicionado bicarbonato de sódio, conforme foi explicado acima.
O local da captação da água feita pela empresa é Bertioga no Litoral Norte paulista, onde fica a fábrica, que chega a retirar de 20 mil a 30 mil litros de água do mar por dia. Estudos feitos na Austrália, onde são captados da água do mar 30% do consumo da ilha, demonstram que a retirada da água e devolução do sal ao mar em excesso podem provocar um desequilíbrio no ecossistema, já que o sal pode formar uma camada no fundo do mar. Na opinião de Rolando, não é necessário alarde quanto a esta questão porque 97%, ou seja, 2/3 da água do planeta está no mar, o que garante um universo amplo a ser explorado. Quanto ao sal devolvido ao mar, explica que é uma quantidade que o ecossistema reabsorve e se recupera rapidamente por conta dos ingredientes do mar. "Para isso, não retiramos a água sempre do mesmo ponto. O problema pode ocorrer quando se retira do mesmo ponto porque o mar é um organismo vivo", aponta.

Dessalinização de água do mar, um mercado a ser explorado no Brasil

O diferencial em que a empresa aposta para conquistar o mercado e vender seu produto são os minerais e nutrientes que conseguem manter na água produzida, que fazem bem à saúde e bem-estar do ser humano. Rolando cita a história dizendo que na antiquidade já se utilizava a dessalinização e desde a década de 40 do século passado também. Segundo ele, o processo de purificação (dessalinização) é padrão em todo o mundo. "O nosso diferencial é o aperfeiçoamento desse processo que permite reter grande parte dos minerais, da composição natural do mar e a leveza da água", explica o diretor de marketing. Conforme esclarece, no mar, é possível encontrar cerca de 86 diferentes minerais em sua composição natural, além de diversos nutrientes essenciais para a qualidade da vida.
Pelo processo de tratamento que a empresa desenvolveu para a água, afirma que conseguem manter mais de 60 destes minerais em estrutura de oligoelementos, ou seja, menos de 0,002 mg/L. Rolando compara o processo à homeopatia por ser a milésima parte que traz nestas doses mínimas contidas na água os essenciais benefícios do mar para o ser humano. Trata-se de um composto físico-químico de proporção menor que apresenta grande quantidade de nutrientes pela diversidade e a quantidade destes oligoelementos presentes na água que produzem. O diferencial do qual a Aquamare foca seu negócio é em oferecer mais de 60 minerais enquanto as demais águas do mercado, em sua maioria, possuem, em média, 12 minerais, conforme explica.
A Aquamare aposta também em estudos de outros nichos para aumentar seu leque de abrangência no segmento. Como no caso de uma das pesquisas realizadas pela empresa apontando que houve melhoria nos pacientes em recuperação em hospitais que ingeriram a água. O objetivo, segundo esclarece a assessoria, é justamente o de fortificar as pessoas que estão passando por problemas de saúde para enfrentá-los melhor.


Relação custo-benefício
De acordo com o Dr. Kepler França, do Labdes, a relação custo-benefício fica assim:
- Custo/metro cúbico água do mar (mil litros)/qualidade de vida = 1 dólar
- Custo/metro cúbico água salobra (mil litros)/qualidade de vida = 1 real
 

Osmose reversa é a mais usada
Um dos processos mais utilizados para produzir água potável captada da água do mar, além de métodos como destilação, dessalinização térmica e congelamento, é o de osmose reversa e membranas, trabalhando em altas pressões. Ao escolher entre os vários dessalinizadores existentes no mercado deve-se atentar para a qualidade das peças utilizadas, a tecnologia, o grau de automação, o know-how do fornecedor e a assistência técnica fornecida.
Segundo Luis Guilherme Pozzani da Rocha, gerente de processos da MANN+HUMMEL Fluid Brasil, a tecnologia de dessalinização de água do mar por osmose reversa é um processo consolidado mundialmente, mas pouco aplicado no Brasil devido à grande abundância de água salobra. Os equipamentos utilizados nestes sistemas são específicos para este uso devido principalmente a alta salinidade e suas implicações no processo, o que garante um processo estável e reduz custos operacionais com energia, manutenção, etc.
Conforme explica, os principais clientes de equipamentos de dessalinização por osmose reversa são empresas localizadas na costa, onde não há grandes volumes ou nenhum de água salobra disponível para captação, como plataformas de exploração de petróleo, centrais de geração de energia, entre outros. Em todos os sistemas oferecidos pela empresa aos clientes, sempre são feitas análises sobre os possíveis impactos que as variações na água de alimentação podem causar. "O principal fator para o bom funcionamento de um sistema de osmose reversa está na escolha do pré-tratamento a ser utilizado", aponta Rocha.

Maior sistema
A empresa também aposta neste mercado e percebe que tende a crescer muito nos próximos anos. "Já estamos trabalhando em oportunidades reais, fazendo parcerias com empresas ao redor do mundo para fornecermos aos nossos clientes a melhor relação custo-benefício possível em cada caso", afirma o gerente de processos. Conforme Rocha, a MANN+HUMMEL Fluid Brasil investe muito também no desenvolvimento e aplicação de membranas de ultrafiltração para o pré-tratamento de sistemas em seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, localizado em Cingapura. "Além de grandes avanços nas tecnologias de pré-tratamento, vêm ocorrendo também em matérias, equipamentos para recuperação de energia, entre outros", indica.
Para o gerente de processos, que está de acordo com o que diz Dr. Kepler e Rolando, existem poucos sistemas instalados hoje no Brasil, sendo em sua maioria de pequenas vazões. "Hoje, estamos na fase final de partida do maior sistema de dessalinização já instalado no Brasil, com dois bancos de osmose reversa, cada um com capacidade de produção de 110 m³/h, com os quais obteremos números reais sobre todos os aspectos envolvidos na operação do sistema", destaca.

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