Preservação Hídrica: Um Compromisso com a sustentabilidade
Por Carla Legner
Edição Nº 85 - Junho/Julho de 2025 - Ano 15
À medida que a pressão sobre os recursos naturais se intensifica, a preservação hídrica emerge como um dos pilares fundamentais para garantir um futuro sustentável. A escassez de água já é realidade em diversas regiões do planeta, e as mudanças climáticas
À medida que a pressão sobre os recursos naturais se intensifica, a preservação hídrica emerge como um dos pilares fundamentais para garantir um futuro sustentável. A escassez de água já é realidade em diversas regiões do planeta, e as mudanças climáticas apenas acentuam o desafio.
O ponto é que esse cuidado vai além da simples economia de água. Envolve a preocupação com as nascentes, rios, lagos, aquíferos e bacias hidrográficas, além da gestão eficiente do uso doméstico, agrícola e industrial. Também implica no combate à poluição hídrica, tratamento de esgoto, reflorestamento de áreas de mananciais e incentivo ao reúso em processos industriais e urbanos.
Assim, a preservação hídrica é um esforço coletivo e estratégico, que deve envolver todos os setores da sociedade. Projetos de captação de água da chuva, uso de tecnologias de irrigação mais eficientes na agricultura e sistemas de reúso em indústrias são exemplos de soluções que ajudam a preservar esses recursos sem comprometer o desenvolvimento econômico.
“Na prática, a conservação da água requer a integração entre a sociedade, o poder público e a iniciativa privada, buscando a implementação de tecnologias de tratamento e reúso, a adoção de processos produtivos mais eficientes e a conscientização da população sobre o valor desse líquido tão importante”- afirma Emílio Bellini Neto - diretor da Alphenz.
Para ele, trata-se de uma ação fundamental, pois estamos falando de um recurso insubstituível para a manutenção da vida, o equilíbrio dos ecossistemas e o funcionamento das atividades humanas e econômicas. Sem uma gestão responsável e a proteção dos recursos hídricos, há risco de escassez, conflitos pelo uso da água, perdas na produção agrícola, industrial e energética, além de impactos diretos na saúde pública.
Além disso, essa preservação também é essencial para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, que já alteram o regime de chuvas e aumentam a frequência de eventos extremos como secas e enchentes. Proteger a água é, portanto, uma estratégia crucial para garantir a segurança hídrica, a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental, social e econômica das comunidades.
Atuação responsável
As ações que envolvem a preservação hídrica são diversas e complementares, cada uma abordando um aspecto crítico para uma gestão sustentável. A primeira que podemos citar é o uso racional da água, que consiste na adoção de práticas que reduzam o desperdício tanto no consumo doméstico, quanto industrial e agrícola.
Em seguida, destacamos o tratamento de efluentes, que visa garantir que a água utilizada em processos produtivos ou urbanos seja devidamente tratada antes de ser devolvida aos corpos hídricos, prevenindo a poluição e protegendo a qualidade da água. A proteção de nascentes e áreas de recarga de aquíferos também é fundamental, já que essas regiões são fontes naturais de abastecimento e sua degradação compromete o fluxo e a qualidade da água disponível.
Outra ação relevante é o incentivo ao reúso, principalmente em atividades industriais e agrícolas, reduzindo a demanda por água potável e aliviando a pressão sobre os mananciais. Além disso, é essencial a implementação de políticas públicas de gestão integrada dos recursos hídricos, que envolvam planejamento de uso, fiscalização, investimento em infraestrutura e educação ambiental, promovendo uma cultura de responsabilidade e preservação.
A restauração de áreas degradadas, como matas ciliares, também é uma medida estratégica para recuperar a capacidade natural dos ecossistemas, além de proteger e filtrar a água, contribuindo para a manutenção do ciclo hidrológico.
“Entendemos esse compromisso envolve não apenas a otimização do uso da água dentro das nossas unidades produtivas, mas também a forma como interagimos com os ecossistemas nos quais estamos inseridos, junto de nossos clientes e com a sociedade civil” - afirma Santiago Ricco Pavão, gerente sênior de energias & utilidades na BASF para América do Sul.
Ainda segundo ele, o uso responsável da água está no centro do programa global de sustentabilidade da BASF e é parte do compromisso com o Atuação Responsável® (iniciativa voluntária da indústria química para a melhoria contínua nas áreas de proteção ambiental, saúde e segurança) e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente o ODS 6, voltado à água potável e ao saneamento.
“Nossa atuação envolve minimizar a captação, maximizar o reúso, tratar adequadamente os efluentes, proteger bacias hidrográficas e desenvolver tecnologias que promovam a eficiência hídrica. Monitoramos riscos locais e operamos com metas claras e mensuráveis, consolidando uma abordagem integrada e colaborativa” - complementa Pavão. Ele cita algumas ações que combinam preservação da água, eficiência operacional, inovação e impacto socioambiental:
Gestão sustentável da água nas unidades produtivas: As condições locais dos recursos hídricos são monitoradas continuamente, sempre avaliando os riscos relacionados à escassez e à qualidade da água. Um exemplo é o Complexo Químico da BASF, em Guaratinguetá (SP). No local, é avaliada a situação da água das operações com o intuito de identificar riscos e oportunidades de melhoria. Além disso, há a previsão de implementar o modelo de gestão sustentável em todas as unidades em áreas de estresse hídrico até 2030, cobrindo 90% da captação total. Até 2024, já foi atingido 65% dessa meta. Eficiência hídrica nos processos: São realizadas ações para otimização do uso da água com reúso interno, recirculação e eliminação de desperdícios. Ainda no Complexo Químico, foi implementado sistemas de circuito fechado para resfriamento e limpeza que reduziram drasticamente a necessidade de água nova. Recuperação e tratamento avançado de efluentes: A BASF conta com estações de tratamento de efluentes em todas as unidades, mas Pavão cita como exemplo a de Guaratinguetá, que opera em regime contínuo e recupera cerca de 900 mil m³ de água por ano. “Esse volume é suficiente para abastecer 24 mil pessoas por dia, devolvendo ao meio ambiente uma água dentro dos mais altos padrões de qualidade” - destaca o gerente. Projetos de proteção de bacias hidrográficas: No Programa Produtor de Água de Guaratinguetá, a empresa atua junto com a prefeitura, agricultores locais e parceiros institucionais para proteger nascentes, restaurar matas ciliares e conservar o solo. Só nesse projeto, já foram recuperadas 65 nascentes e restaurados mais de 120 hectares de floresta, gerando impacto direto na disponibilidade de água para o município. Florestas corporativas e biodiversidade: Desde 1984, por meio do programa Mata Viva®, promovem o reflorestamento de áreas próximas às unidades industriais, que já resultou na plantação de mais de 1,3 milhão de árvores em 875 hectares. Essas áreas funcionam como “esponjas naturais”, ajudando na infiltração da água no solo e contribuindo para a regulação dos ciclos hidrológicos.
A Alphenz, por sua vez, tem a preservação hídrica como um dos pilares centrais de sua atuação. A empresa desenvolve e implementa tecnologias que permitem às indústrias reduzir seu consumo de água potável por meio do reúso e da reciclagem de efluentes tratados, além de oferecer sistemas de alta eficiência para tratamento de águas residuais, garantindo a qualidade dos corpos hídricos receptores.
Neto explica que cada projeto é concebido de forma personalizada, buscando a melhor solução técnica e ambiental para cada cliente, com foco na maximização da eficiência hídrica e na redução do impacto ambiental, além de atuar na conscientização dos seus clientes sobre a importância da gestão responsável da água, muitas vezes integrando programas de monitoramento, manutenção contínua e capacitação técnica, reforçando seu compromisso com a sustentabilidade.
“Com uma abordagem que combina engenharia de ponta, responsabilidade socioambiental e atendimento próximo ao cliente, contribuímos ativamente para a preservação dos recursos hídricos, apoiando as indústrias na construção de um futuro mais sustentável” - destaca Neto.
Tecnologia como aliada
Diversas tecnologias têm desempenhado um papel crucial no fortalecimento da preservação hídrica, atuando tanto na redução do consumo quanto na melhoria da qualidade da água. Entre elas, destaca-se o reúso, viabilizado por sistemas de tratamento avançados que permitem a recuperação de efluentes para fins não potáveis, como irrigação, processos industriais e até recarga de aquíferos. Essa prática diminui a pressão sobre os mananciais e contribui para a sustentabilidade do ciclo hídrico.
Outra tecnologia importante é a ultrafiltração por membranas, que proporciona a remoção eficiente de partículas, microrganismos e sólidos em suspensão, melhorando a qualidade da água para reúso ou potabilização. As Estações de Tratamento de Esgoto com processos biológicos avançados, como o lodo granular aeróbio e os biorreatores de membrana (MBR), também representam grandes avanços, permitindo o tratamento de efluentes com alta eficiência em espaços compactos e com menor consumo energético.
A dessalinização, apesar de ser mais intensiva em energia, é outra tecnologia estratégica em regiões costeiras e semiáridas, convertendo água do mar ou salobra em água doce por meio de processos como a osmose reversa. Além disso, sistemas de captação e aproveitamento de águas pluviais têm sido amplamente utilizados, permitindo o armazenamento e uso da água da chuva para diversas finalidades, reduzindo a dependência da água potável para atividades que não exigem alta qualidade.
“As tecnologias de monitoramento e automação, por sua vez, permitem o controle em tempo real do consumo e da qualidade da água, possibilitando respostas rápidas a eventuais desvios e promovendo uma gestão hídrica mais eficiente. Todas essas soluções, combinadas, formam a base tecnológica para promover o uso mais sustentável dos recursos hídricos” - complementa Neto.
Na BASF, há sistemas inteligentes de resfriamento e reúso que otimizam significativamente o uso da água. Em unidades como a de General Lagos, na Argentina, essas tecnologias permitiram uma redução de 22% no consumo de água desde 2018. São ganhos operacionais importantes, que mostram o valor da eficiência aplicada à escala industrial.
A empresa também atua com ações voltadas ao setor agrícola, por meio da marca global de agricultura digital, o xarvio® Digital Farming Solutions. Como exemplo, a solução Mapeamento Digital de Plantas Daninhas realiza o mapeamento de plantas com alta precisão, permitindo uma economia média de 61% nos insumos, além de 3,6 mil litros de água e 4 horas-máquina a cada 1000 hectares de cultivo, com uma redução significativa também na utilização de combustível, contribuindo assim para uma agricultura mais eficiente e sustentável.
Outro exemplo, é a parceria com a Ecolab Nalco Water, focada nos sistemas de tratamento de água e geração de vapor. A iniciativa combina tecnologias avançadas, análises laboratoriais e suporte técnico especializado.
Implementada entre 2023 e 2024 no Brasil e no Chile, essa solução, segundo Pavão, eliminou a necessidade de manutenção de sistemas de dosagem de produtos químicos e trouxe ganhos significativos como: redução de 162 mil m³ de água por ano, otimização no uso de produtos químicos, economia de energia, corte nas emissões de CO2 e uma redução anual de custos de aproximadamente 200 mil dólares.
Ainda há muitos desafios
Os principais desafios relacionados à preservação hídrica envolvem uma combinação de fatores técnicos, econômicos, culturais e regulatórios. Um dos grandes obstáculos é a conscientização ainda limitada sobre o real valor da água, o que resulta em práticas de desperdício e uso ineficiente em diversos setores. Além disso, muitas regiões enfrentam infraestrutura defasada ou insuficiente para o tratamento de efluentes e a gestão de recursos hídricos, o que compromete a qualidade da água disponível.
Outro ponto relevante é a dificuldade de integrar as políticas públicas de preservação hídrica com o crescimento urbano e industrial, exigindo um planejamento mais estruturado e investimentos consistentes em saneamento, reúso e proteção de mananciais.
“Do ponto de vista tecnológico, embora existam soluções avançadas disponíveis, o alto custo inicial de implantação ainda pode ser um entrave para a adoção em larga escala, especialmente em pequenas e médias empresas. Soma-se a isso a necessidade de regulamentações mais claras e de fiscalização efetiva, garantindo que boas práticas sejam adotadas de forma consistente” - enfatiza Neto.
Por fim, as mudanças climáticas ampliam a imprevisibilidade na disponibilidade de água, trazendo a urgência de desenvolver sistemas resilientes, capazes de se adaptar a cenários de escassez e de eventos climáticos extremos. Segundo o diretor da Alphenz, superar esses desafios exige esforço conjunto entre governos, empresas, instituições de ensino e sociedade civil, com foco em educação, inovação tecnológica e gestão integrada dos recursos hídricos.
“O maior desafio é envolver todos os atores sociais nesse processo, e não apenas a indústria. Isso exige uma governança coletiva que envolva governos, setor privado, agricultores, ONGs, comunidades e demais setores da economia que têm na água um recurso essencial para o negócio. Muitas vezes, o impacto maior está fora dos muros da empresa no uso do solo, no saneamento básico, no desmatamento de matas ciliares” - complementa Pavão.