Antes de os cardeais da Igreja Católica Romana se reunirem no Vaticano para eleger o líder da maior igreja cristã do mundo — escolhendo, por fim, o Cardeal Robert Francis Prevost como Papa Leão XIV — eles compareceram a uma missa especial na imponente grandeza da Basílica de São Pedro.
A magnífica catedral, concluída há quase 400 anos, tem sido o centro das atenções nas semanas desde a morte do Papa Francisco, na segunda-feira de Páscoa, aos 88 anos. Foi lá que Francisco foi velado enquanto os fiéis desfilavam para prestar suas últimas homenagens. Foi de seus degraus que o Cardeal Giovanni Battista Ré presidiu a missa fúnebre do papa em 28 de abril, diante de mais de 250 mil pessoas em luto na Praça de São Pedro. E de sua sacada, o sucessor de Francisco, o Papa Leão XIV, apareceu na quinta-feira diante da multidão expectante reunida abaixo, logo após ouvir a famosa frase “Habemus papa” — “Temos um papa”.
O anúncio da eleição de um novo papa segue tradições seculares. Há a fumaça branca sobre a Capela Sistina e o toque dos sinos de São Pedro ecoando por todo o Vaticano. Mas, com o início do papado de Leão XIV, a Basílica, uma maravilha arquitetônica do Renascimento e local de sepultamento do Apóstolo Pedro, também conta com uma inovação típica do século XXI: digital twin, or virtual 3D replica

O digital twin foi criado pela maior empresa de engenharia da Itália, a Italferr, para ajudar a preservar esta peça única do patrimônio religioso e cultural pelos próximos séculos.
A Italferr, mais conhecida por seu trabalho em estradas e pontes, construiu o digital twin da Basílica com o auxílio de software da Bentley Systems, empresa de software para engenharia de infraestrutura. Primeiro, os engenheiros usaram a tecnologia mais recente, incluindo escaneamento a laser e fotogrametria — juntamente com dispositivos aéreos para fazer flutuar um balão especial dentro da estrutura, com 136 metros de altura e 218 metros de comprimento — para coletar imagens e medições internas e externas, incluindo pequenas rachaduras e outros detalhes com apenas milímetros. Eles usaram um conjunto completo de softwares da Bentley — incluindo o iTwin, a plataforma da Bentley para digital twins de infraestrutura — para combinar 26.000 arquivos contendo mais de três terabytes de dados díspares — o suficiente para armazenar 700 filmes em alta qualidade de vídeo. O software e os dados permitiram que eles criassem o modelo do digital twin em uma plataforma baseada em nuvem.
“Para muitos softwares, é realmente difícil combinar todos esses diferentes tipos de dados, e com o iTwin Capture, eles conseguiram combinar isso, criar modelos de alta fidelidade e compartilhá-los com 30 pessoas no projeto”, diz Aude Camus, gerente sênior de marketing de produtos do iTwin Capture da Bentley. Camus descreve o digital twin da Basilica como o melhor projeto de captura da realidade que ela já viu.
Além disso, o uso dessa tecnologia economizou centenas de horas, “reduzindo as necessidades de inspeção no local”, disse Davide Porzio, da Italferr, à Bentley.

Uma solução mais leve que o ar

Um grande desafio era como capturar com segurança o inestimável interior da Basílica, com todos os detalhes, onde drones convencionais poderiam causar danos. A solução: um dirigível composto por um balão de hélio da altura de uma pessoa, equipado com sistemas de captura da realidade.
O digital twin permite que os usuários “subam” à cúpula da Basílica ou ampliem uma obra-prima da arte e arquitetura italiana, como o mármore La Pietà de Michelangelo ou o Baldaquino de bronze e ouro de Bernini, que emoldura o Altar Papal.
A principal aplicação do projeto será ajudar na manutenção e preservação da icônica Basílica, que tem capacidade para 60.000 pessoas.
“Milhares de pessoas vão lá todos os dias. Com um digital twin, é possível monitorar remotamente, sem precisar fechar o Vaticano”, diz Camus. “E como é um monumento muito antigo, eles não tinham a planta 2D de tudo. Então, agora eles conseguem saber exatamente a geometria, e usar isso para fins de monitoramento.”
Por fim, o sistema de monitoramento incluirá dados de sensores da internet das coisas (IoT) para fornecer informações claras e oportunas sobre o estado das características físicas da Basílica, ajudando a otimizar reparos e manutenção.
O projeto tem “valor extraordinário” não apenas em termos de engenharia, mas também em termos sociais, afirma Daniela Aprea, da Italferr: “Ele permitirá preservar nas próximas décadas a plena funcionalidade da obra que é a peça central da fé cristã em todo o mundo”. 
Kathleen Moore