Perigos, desafios e tratamentos do necrochorume de cemitérios e chorume de aterros sanitários

Necrochorume são os líquidos que saem dos cadáveres em decomposição nos cemitérios. De cheiro forte, este líquido viscoso castanho-acinzentado é composto por sais minerais, substâncias orgânicas biodegradáveis e diversa patogenicidade


Necrochorume são os líquidos que saem dos cadáveres em decomposição nos cemitérios. De cheiro forte, este líquido viscoso castanho-acinzentado é composto por sais minerais, substâncias orgânicas biodegradáveis e diversa patogenicidade. Devido aos tratamentos hospitalares pelos quais as pessoas passam antes de ir a óbito, o necrochorume pode ter resíduos de fármacos. Enquanto o chorume, como são chamados os lixiviados de aterro sanitário, são efluentes líquidos, compostos por matéria orgânica biodegradável e não biodegradável, gerados quando a água da chuva percola entre os resíduos sólidos que estão em aterros sanitários e da umidade natural deles. 

Necrochorume
A decomposição ou putrefação de um corpo tem várias fases. A fase humorosa ou coliquativa da dissolução pútrida das partes moles do corpo, que se inicia seis meses após o sepultamento, é a que mais preocupa ambientalmente. O líquido humoroso (liquame, putrilagem), chamado de necrochorume, é liberado nesta fase. A decomposição total de um cadáver dura, em média, de dois a três anos ou mais e este período depende de condições, como tamanho do corpo; causa da morte, se houve uso de medicamentos; local e forma de sepultamento (embalado). 
“Após morto, o corpo humano inicia o processo de putrefação e passa a servir de ecossistema para microrganismos patogênicos e decompositores de matéria orgânica, bactérias e vírus” – explica Juliano de Almeida Andrade, CEO da OXI Ambiental. O necrochorume tem alta carga orgânica e substâncias infectocontagiosas, como a cadaverina e a putrescina, que transmitem doenças, como hepatite e a febre tifoide. Ao se degradarem, essas substâncias geram NH4, que, em altas concentrações, apresenta toxicidade. 
Como a densidade do necrochorume é maior que a da água favorece a infiltração pelo solo até atingir o aquífero subterrâneo. “Sua mobilidade no solo varia de acordo com a pedologia e a geologia. Por exemplo, solos argilosos retêm mais que solos arenosos. Quando um contaminante chega à água subterrânea, segue pelo fluxo da água, aumentando a velocidade e a extensão da contaminação” – conta Andrade.

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Chorume
Líquido escuro, turvo e ácido, de cheiro desagradável, o chorume provem da decomposição da matéria orgânica e de outros materiais. “A partir de reações e processos físicos, químicos e biológicos de resíduos, essa matéria orgânica e materiais se dissolvem com o líquido da massa de lixo e a água da chuva que se acumula nos grandes lixões e aterros sanitários, gerando esse líquido escuro” – explica Mauro Miguel Narciso, engenheiro sanitarista e ambiental  especialista em desenvolvimento sustentável e consultor ambiental. 

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A composição predominante desse lixiviado é de matéria orgânica e compostos nitrogenados. “O lixiviado é formado tanto pela decomposição da fração orgânica dos resíduos quanto pela infiltração e passagem das águas pluviais pelo maciço de resíduos” – ressalta Antonio Januzzi, gerente de inovação da Estre Ambiental.
Fazem parte ainda compostos húmicos, metais pesados e sais inorgânicos. “O chorume libera substâncias potencialmente tóxicas que podem se infiltrar no solo até atingirem águas subterrâneas ou escoarem para águas superficiais. Mesmo anos após de exaurida a capacidade de receber resíduos sólidos urbanos em aterros, ele continua a gerar o lixiviado” – explica Fábio Campos, doutor em Ciências FSP/USP, responsável pelo Laboratório de Saneamento PHA/EPUSP e coordenador da Câmara Setorial de Filtros para Estações de Tratamento de Água, Efluentes e Reúso – CSFETAER.
O chorume resulta da junção da decomposição biológica, física e química de resíduos e da água pluvial que percola no solo. “Esse processo ocorre natural por bactérias e intempéries ambientais. Suas características são heterogênicas, compostas, em sua maioria, por grande concentração de substâncias tóxicas, altamente solúveis, e de baixa biodegradabilidade” – salienta Andrade, da OXI.
“Na ausência de tratamento adequado, o chorume que se desprende do lixão se infiltra no solo, carregando microrganismos, metais pesados, nitratos, fosfatos e outros poluentes, e contamina o lençol freático, os córregos e os rios, podendo causar diversos impactos ambientais e de saúde pública” – adverte o consultor Mauro Narciso. 

Problemas e perigos
Tanto o necrochorume quanto o lixiviado de aterro sanitário são fortemente  poluentes. “Se não forem tratados, o perigo é a contaminação dos corpos d´agua e do lençol freático, causando grande impacto negativo ao meio ambiente, que sempre é um prejuízo para a sociedade” – aponta o presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP) João Gianesi Netto.
Os microrganismos infectocontagiosos do necrochorume proliferam doenças. O contato com o necrochorume e a poluição de águas e solo causa: tétano, tuberculose, febre tifoide, febre paratifoide, disenteria bacilar, vírus da hepatite A, gastroenterite, amebíase, diarreia e febre, leptospirose, febre intestinal, cólera, infecções respiratórias, meningite, erupções cutâneas, entre outras.
Isso porque na sua composição, existem sais minerais, água, substâncias orgânicas degradáveis, como a cadaverina e putrescina, elevada quantidade de vírus e bactérias, metais pesados, entre outros. “A contaminação se estende pela água subterrânea e águas pluviais, não somente nos cemitérios, mas também nos seus arredores, aumentando o risco de doenças em pessoas que venham a ter contato” – relata Andrade, da OXI.
Historicamente, os cemitérios foram construídos em locais mais distantes dos centros ou em terrenos de muito declive. “A expansão das cidades acabou por absorver os terrenos próximos e hoje há toda uma população que vive no entorno desses locais” – aponta Lívia Baldo, gerente comercial da Tera Ambiental.
Antes da pandemia da Covid-19, a produção do necrochorume em cemitérios sem estrutura de coleta e armazenamento já era preocupação recorrente. “Hoje em dia, o alarme soa mais alto. Com mais sepultamentos, os órgãos ambientais precisam estar prontos para qualquer emergência nesses locais e problemas derivados da má gestão do efluente” – alerta Lívia.
Na opinião do Prof. Dr. Fábio Campos, na verdade, a questão que devemos nos preocupar é que a geração de necrochorume não é atividade devidamente monitorada e controlada nos cemitérios do Brasil e oferece risco real de contaminação ambiental e da população. “Só o aumento da concentração natural de substâncias orgânicas e inorgânicas presentes no solo já seria o suficiente para que seus riscos fossem analisados” – aponta.
Como agravante, segundo ele, ainda há duas formas nas quais pode ocorrer a contaminação do aquífero: 
• Uma é pela ação das águas da chuva que lavam a sepultura e transportam o necrochorume para o solo e o subsolo; 
• E a outra é pela elevação do nível do aquífero pela infiltração de água, inundando a sepultura.
Os danos ambientais provocados pelo chorume também são significativos. “O grande risco dos aterros sanitários é que são construídos entorno de áreas rurais e Áreas de Preservação Permanente (APPs), arrastando a contaminação por chorume para áreas agrícolas e moradores locais. Altamente nocivo para a fauna, flora e sociedade, o chorume também causa diversas enfermidades” – adverte Andrade.

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O tratamento do chorume é fundamental para o meio ambiente. “Por isso, são essenciais o gerenciamento de resíduos e a conscientização socioambiental” – alerta Andrade. 
Entre os problemas que causam:
• Viscosos, escuros e fétidos, atraem vetores de doenças, como moscas e roedores;
• Eutrofização dos rios;  
• Contaminação de solo, depreciando a pedologia;  
•  Restrição do consumo de água subterrânea devido ao perigo de contaminação.
Fontes: OXI Ambiental e Tera Ambiental.
Devido à quantidade significativa de resíduos degradada diariamente, a construção e a manutenção dos aterros sanitários precisam da atenção das empresas que fazem a operação e dos órgãos públicos que fiscalizam. “Caso não sejam bem operados, correm risco de sofrer deslizamentos e o local de armazenamento de chorume pode se romper, causando impactos ambientais consideráveis. A logística de retirada no chorume durante o período de chuvas deve ser bem organizada para evitar transbordamentos” – alerta Lívia.
Um grave problema é o envio de chorume para destinações irregulares, como solo, rios e galerias pluviais. “Por vezes, o próprio transportador fica responsável pela escolha do local de tratamento e, sem o conhecimento necessário, opta por lugares não licenciados. Com isso, é importante rastrear toda a cadeia de destinação e tratamento” – adverte a gerente comercial da Tera.

Recursos e tratamentos
Devido às suas características, tanto o chorume quanto o necrochorume são resíduos líquidos de difícil tratabilidade. “Demandam esforços para criar uma configuração de processos conjugados que atendam à geração de um efluente tratado em conformidade com a legislação” – esclarece o Prof. Dr. Fábio Campos.
É possível combinar processos físico-químicos e biológicos. Um exemplo citado por ele é o de fluxograma, que envolve filtro anaeróbio, seguido de flotação com ar dissolvido, Processos Oxidativos Avançados (POAs) e, por fim, um processo biológico. Outro exemplo é de utilizar apenas processos biológicos, de MBR (Reator Biológico de Membrana) ou MBBR (Reator Biológico com Leito Móvel), que tratam altas cargas. “Quanto à automatização dos processos, esse segmento está bem desenvolvido no mercado, é muito mais questão de custo de implantação (Opex) e manutenção (Capex)” – avalia.  
Para tratar chorume de aterros sanitários de Classe I e Classe II, os novos recursos da OXI são: ensaios de tratabilidade com catalisadores que potencializam as reações, trazendo resultados rápidos e eficazes; condicionantes que adaptam o meio reacional; complexantes que impedem a reação com outros compostos de menor interesse; oxidantes e redutores que geram espécies bem reativas; e polímeros micelares que dão maior estabilidade e equilíbrio ao processo. 
Após desenvolver as soluções adequadas, os reagentes são produzidos em larga escala e aplicados em estação de tratamento compacta e automatizada. “Em sites onde há estações preexistentes, adaptamos o tratamento por meio da nossa Unidade Móvel de Tratamento (UMT), otimizando a performance sem que haja grandes reformas estruturais. Nosso expertise em combinações químicas avançadas permite processo 100% sustentável e eficiente, com padrões de descarte e/ou reúso desse efluente com melhor custo-benefício” – destaca Juliano de Almeida Andrade.
O chorume de aterros sanitários hoje passa por tratamento terciário. “Ele é feito com membranas de ultrafiltração, nanofiltração ou osmose reversa, e existem sistemas completos de automação que englobam cada uma das etapas de tratamento, permitindo o controle remoto das estações” – ressalta Januzzi, da Estre Ambiental.
No caso do necrochorume, para o consultor ambiental Narciso, o estudo e a busca de alternativas são fundamentais para tratá-lo e evitar impactos ao meio ambiente. “Soluções definitivas ainda não existem, nem são consensuais, mas há a clara intenção de propiciar segurança ambiental às populações de forma sustentável. Existem sistemas de tratamentos automatizados com programas de gerenciamentos, mas que dependem da questão econômica para implantação” – afirma Narciso.
Existem projetos para criação de estação anaeróbia para tratar necrochorume in loco. As cargas orgânicas do material seriam removidas para um tanque fechado, sendo o necrochorume tratado e reutilizado para irrigação da terra do próprio cemitério.
Lívia, da Tera Ambiental, cita que o necrochorume pode ser tratado por sistema biológico aeróbio, feito por lagoas de aeração com difusores de membrana. “O sistema biológico aeróbio é uma opção ainda para tratar aterro sanitário na própria planta, onsite, ou fora das instalações dele, offsite, por empresa especializada” – salienta.
Em ETES, existem vários tipos de efluentes sendo tratados. “A origem dos efluentes que recebemos e são tratados na ETE é bem diversa e inclui chorume e necrochorume. O tratamento feito não é exclusivo/separado para chorume ou necrochorume, a não ser em aterros que fazem o tratamento onsite do próprio chorume que produzem” – explica a gerente comercial.

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Dois cenários
Primeiro cenário:
os cemitérios construídos antes de 2003 não se atentavam às regras de segurança para evitar a contaminação do solo e da água subterrânea. Em muitos casos, por falta de entendimento. Neste cenário, a OXI recomenda fazer a remediação in situ e, para isso, a empresa desenvolveu técnicas sem precisar remover o solo e fazer o bombeamento da água subterrânea para a superfície por processos químicos combinados.
Segundo cenário: após a implantação dos Conamas 335/2003, 368/2006 e 402/2008, surgiram exigências para proteger o solo e a água subterrânea de áreas destinadas a cemitérios, indicando filtros biológicos, pastilhas e mantas absorventes para auxiliar na proteção.
No âmbito legal federal, a Resolução Conama 335, de 3 de abril de 2003, exige dos cemitérios licenciamento ambiental para serem construídos e operados para regulamentar aspectos essenciais, observando os possíveis riscos ambientais, e define os tipos de sepultamento e demais nomenclaturas. Depois, em 28 de março de 2006, foi publicada a Resolução Conama 368, devido às particularidades das áreas de proteção de mananciais em regiões metropolitanas.
Como alternativa para contornar esse problema, estão os cemitérios verticais, que têm dois ou mais pavimentos com lóculos ou gavetas para o sepultamento. “Esse método requer área bem menor comparada à dos cemitérios tradicionais, além de ser opção ecológica correta, porque possui infraestrutura para coletar o necrochorume, impedindo sua infiltração no solo e poluição nos lençóis freáticos” – aponta. 
A cremação dos cadáveres é outra prática que colabora para equacionar com o necrochorume. “Porém, essa prática acaba entrando em uma esfera muito particular e importante a ser considerada, a da religiosidade” – adverte. No caso de se desejar manter a prática usual. “Deveriam existir ao menos a impermeabilização do solo e a existência de rede coletora de necrochorume” – especifica o Prof. Dr. Campos.
Com a exigência de licenciamento ambiental para os cemitérios, são necessários alguns estudos e laudos. “O objetivo é para saber qual é o tipo do solo, as peculiaridades climáticas de cada região e um mapeamento rigoroso sobre os níveis de profundidade dos lençóis freáticos. A coleta e o armazenamento do efluente também precisam contar com uma estrutura bem preparada e administrada” – explica Lívia, da Tera Ambiental.
A OXI iniciou novo Projeto de P&D em seu laboratório próprio, Latipa, em São Paulo. “Já se encontra em estágio avançado e permitirá o tratamento in-loco deste contaminante, evitando destinação e tratamento fora do local do cemitério” – revela Andrade. 

Alternativas no mercado para tratar o necrochorume:
Solução de ácido peracético 

• Procedimento periódico (ácido acético + peróxido de hidrogênio + estabilizante);
• Deixa um residual de oxigênio dissolvido na água subterrânea; 
• Solução antisséptica para fungos, vírus e bactérias; 
• Técnica simples e econômica; 
• Aplicação nos poços de monitoramento ou furos a trado – a montante do sentido do fluxo. 
Solução de peróxido de hidrogênio 
• Procedimento com alto custo.
Processos mais complexos 
• Barreiras reativas permeáveis.
Pastilhas 
• São formadas por bactérias consumidoras de matérias orgânicas sintetizadas em esporos e colocadas nas urnas junto do corpo. 
Mantas absorventes 
• Plástico impermeável que fica no fundo do túmulo ou da urna. A manta deverá permanecer durante a decomposição do corpo. O corpo vai expelindo o líquido, e o necrochorume penetra na camada de celulose em pó presente na manta que se transforma em um gel que reterá o líquido, impedindo que ele extravase. 

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Filtros biológicos
• Sistema anaeróbio que recebe o necrochorume por drenagem das urnas para ser tratado antes da destinação final. Antes de instalá-los, deve-se colocar a manta impermeabilizante debaixo dos túmulos para proteger o solo e as águas subterrâneas da contaminação pelo necrochorume. Em seguida, são instalados drenos que coletam e conduzem o líquido até os filtros biológicos onde ocorre a degradação em meio poroso, por pedras, cascalhos e concreto. Este método é usado mais em cemitérios-parques, para outros tipos de cemitérios, são indicadas outras técnicas. 
Fonte: OXI Ambiental e consultor ambiental Mauro Narciso.

Desafios a vencer
“Precisamos de uma política governamental que obrigue e subsidie os municípios a implantar novas tecnologias que de fato contribuam para a conservação ambiental e da saúde pública e que esteja alinhada às políticas ambientais” – afirma Mauro Miguel Narciso. 
“São necessárias também políticas públicas e ações que incentivem alternativas de destinação nobres aos resíduos orgânicos industriais e urbanos que reduzam o esgotamento dos aterros e o volume do chorume” – enfatiza Lívia Baldo, da Tera Ambiental. 
“A compostagem de resíduos orgânicos em escala industrial é sustentável por ser um tratamento ambiental correto e seguro de valorização, reciclando os resíduos e transformando-os em fertilizantes” – indica. Ela devolve à natureza e cadeia produtiva matéria orgânica rica em nutrientes para aplicação na agricultura e paisagismo. 
Implantar sistemas de tratamento dedicados, onsite, é um desafio. Devido à grande concentração de matéria orgânica, o tratamento isolado do chorume se torna complexo e de alto custo. “É preciso avaliar a localização do aterro, se há corpo d’água e se a classificação dele permite lançar o chorume tratado. Por esses motivos, o armazenamento e o tratamento offsite do chorume se tornam mais viáveis, sendo avaliado caso a caso” – orienta a gerente comercial.

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Ao optar pelo offsite, é preciso escolher o melhor parceiro para esta prestação de serviços. “Para isso, é importante avaliar a estrutura da ETE, a logística de envio por caminhões, carretas ou bitrens, o licenciamento do fornecedor e demais autorizações ambientais por meio de visitas/auditorias. Assim, os resíduos orgânicos deixariam de ser estocados e desperdiçados nos aterros sanitários e a produção de chorume seria fortemente impactada” – ressalta Lívia.
A idade do aterro sanitário influencia na qualidade dos contaminantes. Segundo Andrade, da OXI, em um aterro jovem, o pH é ácido e as concentrações de DQO (demanda química de oxigênio), DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e COT (carbono orgânico total) são muito elevadas, denominada fase ácida. Após cinco anos, durante a fase metanogênica, as concentrações de DQO, DBO e COT diminuem e a concentração de nitrogênio amoniacal aumenta de forma exponencial.
Pesquisas recentes mostram diversos meios de tratamento para os líquidos de aterros sanitários. “É fundamental conhecer, qualitativa e quantitativamente, as características desses percolados que variam muito em sua composição e volume gerado. Outra questão é a desconformidade em cumprir as legislações específicas, principalmente na etapa de implantação do aterro sanitário, resultando, em muitos casos, na contaminação ambiental” – alerta o CEO da OXI.
”A oscilação da composição de lixiviados nos diversos períodos anuais, especialmente dos compostos nitrogenados, com destaque para o nitrogênio amoniacal, que se encontram presentes em grandes concentrações, é um dos principais desafios devido à sua complexa tratabilidade” – explica Januzzi, da Estre Ambiental. Segundo ele, outra questão é o rejeito dos processos de membranas que contém altas concentrações dos componentes do chorume.
Os atuais aterros sanitários têm projetos específicos de drenagem nos interiores das valas. “Os lixiviados são enviados para tanques de estocagem e posterior tratamento, visando atender às legislações vigentes. Por terem concentrações altas de DBO e DQO,  exigem alta qualidade de tratamento” – explica Gianesi Netto, da ABLP. O melhor tratamento, hoje, para ele, é o de Osmose Reversa, que precisa de investimentos maiores, porém a qualidade é muito superior aos outros sistemas.

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Em relação ao necrochorume, o consultor ambiental Narciso cita que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece critérios que devem ser integralmente seguidos na elaboração dos projetos de implantação de cemitérios para proteger as águas subterrâneas da infiltração do necrochorume. “Cemitérios precisam de licenças ambientais para operar e o não cumprimento das normativas implica sanções penais e administrativas” – aponta.
“O Necrochorume passou a ser observado e acompanhado pelos técnicos quando do surgimento dos ‘cemitérios verticais’. Neles, os necrochorumes são coletados, canalizados e armazenados para tratamentos físicos-químicos” – aponta Gianesi Netto. Esta já é uma exigência técnica contida nas  licenças de funcionamento emitidas pelos órgãos ambientais estaduais. Nos demais cemitérios, não há nenhum controle. “Portanto, os cemitérios são responsáveis pela contaminação do lençol freático das áreas onde estão instalados” – afirma.

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Em áreas contaminadas, o líquido gerado pelos cadáveres pode ser tratado. “Deve-se avaliar o cemitério, se existe um local onde é armazenado o necrochorume e de onde poderá ser extraído para serem feitos estudos. Após fazer os ensaios de tratabilidade, verifica-se se é possível reduzir os níveis de contaminação e se esse líquido pode ser tratado até atingir os níveis de concentração para reúso e descarte em vias públicas” – explica Andrade.
O processo de remediação é outra alternativa. “Nesse caso, será necessário coletar amostras do solo e da água subterrânea e avaliar os índices e os níveis de contaminação para estudo da melhor forma de tratar e remediar essa área, levando em conta existir contaminação ativa dos novos sepultamentos” – avalia o CEO da OXI.

Licenças
O Serviço Funerário da Prefeitura de São Paulo cita que, de acordo com o Artigo 5º da Lei 997, de 31 de maio de 1976, são necessárias três licenças ambientais para a construção de cemitérios: 
• LAP (Licença Ambiental Prévia); 
• LAI (Licença Ambiental de Instalação);
• LAO (Licença Ambiental de Operação).
Está em andamento na Cetesb processo para a Licença Ambiental de Operação (LAO) dos 22 cemitérios municipais de São Paulo, que foram construídos antes desta lei. O Crematório Municipal Dr. Jayme Augusto Lopes tem licença ambiental válida até 26 de abril de 2023. O impacto do solo foi realizado antes da construção dos cemitérios para que eles funcionassem.

Resíduos e energia
As áreas dos aterros sanitários são locais com preparação técnica para receber resíduos e proteger o meio ambiente para evitar contaminação do lençol freático, solo e rios. Os resíduos não ficam a céu aberto, são cobertos com camadas de solo. Após seu esgotamento, as áreas dos aterros são totalmente cobertas. Depois do nível de contaminação quase zerado, poderão virar áreas de lazer.  
A cidade de São Paulo, conforme a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), da Prefeitura de São Paulo, tem um único aterro municipal, a Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL). Além do aterro próprio, a autarquia utiliza os serviços de mais dois aterros privados: Aterro Sanitário Caieiras e Centro de Disposição de Resíduos (CDR) Pedreira.

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A Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL) recebe 7 mil toneladas/dia de resíduos domiciliares e de serviços de saúde do agrupamento Sudeste da Capital. Na CTL, o biogás gerado segue para a Estação de Queima de Biogás. Nela, é realizada a combustão dele em flares enclausurados, deixando de emitir o gás metano na atmosfera. Além disso, parte do biogás é redirecionada à Usina Termelétrica – UTE da empresa São João Energia Ambiental para gerar energia elétrica.
O aterro CTR Caieiras recebe os resíduos domiciliares e de serviços de saúde do Noroeste da Capital. No CTR, está a usina Termoverde Caieiras, maior termelétrica movida a biogás de aterro sanitário do Brasil e uma das maiores do mundo. Nela, o gás metano do biogás gerado da decomposição dos resíduos orgânicos é usado como combustível para gerar energia elétrica por motogeradores a biogás.
Centro de Disposição de Resíduos (CDR) Pedreira recebe resíduos dos serviços indivisíveis de limpeza pública do município.

Lixões e transbordos
É orientado ao munícipe que souber de área que exerça a atividade de lixão na cidade de São Paulo, denunciar ao órgão ambiental competente. Os pontos de destinação intermediários dos resíduos foram criados devido à distância entre a área de coleta e o aterro sanitário. O resíduo domiciliar é descarregado dos caminhões compactadores e depois colocados em uma carreta que leva os resíduos até o aterro sanitário. A cidade tem três Estações de Transbordo que juntas movimentam cerca de 11 mil toneladas/dia.
O Transbordo Ponte Pequena, por exemplo, é mais moderno ambientalmente e dispõe de fosso de recepção, pressão negativa e lavagem de gases. Recebe até 6 mil toneladas/dia de resíduos domiciliares que seguem para o CTR. O equipamento atende a Região Noroeste nos bairros: Butantã, Casa Verde, Freguesia do Ó, Formosa, Brasilândia, Jaçanã, Tucuruvi, Lapa, Vila Maria, Vila Guilherme, Mooca, Penha, Pirituba, Jaraguá e Perus.
O Transbordo Vergueiro recebe de 2.500 a 3 mil toneladas/dia e transporta os resíduos domiciliares para disposição final no CTL.

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 O equipamento atua nas regiões de Vila Mariana, Ipiranga, Vila Prudente, Aricanduva, Vila Formosa e Jabaquara.
O Transbordo Santo Amaro recebe também de 2.500 a 3 mil toneladas/dia e leva os resíduos domiciliares ao CTL. A operação dele fica na Cidade Ademar, Campo Limpo, Capela do Socorro, Jabaquara, Vila Mariana, Santo Amaro, M´Boi Mirim e Parelheiros. 

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Contatos
ABLP - Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública:
www.ablp.org.br
Estre Ambiental: www.estre.com.br
Mauro Miguel Narciso: Consultor ambiental
OXI Ambiental: www.oxiambiental.com.br 
Prefeitura de São Paulo: www.prefeitura.sp.gov.br
Prof. Dr. Fábio Campos: FSP/USP
Tera Ambiental: www.teraambiental.com.br

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