Região Da Barra Da Tijuca No Rio De Janeiro Sofre Com Poluição E Descaso

Há tempos que uma das regiões mais valorizadas do Rio de Janeiro sofre com a poluição proveniente da Lagoa de Marapendi e com o descaso dos órgãos públicos.


Há tempos que uma das regiões mais valorizadas do Rio de Janeiro sofre com a poluição proveniente da Lagoa de Marapendi e com o descaso dos órgãos públicos.
Segundo o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), a área da praia entre o Pepê até o Quebra-Mar está imprópria para banho, mas não em razão da presença de algas, e sim pela quantidade de coliformes fecais. Estudos recentes apontam que grande quantidade destes poluentes são provenientes da Lagoa de Marapendi, que fica paralela e que é a fonte de contaminação das praias da Barra e do Recreio.
A Engenheira em Geografia Física e Meio Ambiente Mariana Basílio, formada pela Universidade de Auckland, Nova Zelândia desenvolveu um projeto para a limpeza da Lagoa de Marapendi, utilizando tecnologia sustentável que promete ser a solução definitiva para os problemas da região, a Revista TAE falou com exclusividade com Mariana.

TAE – Como encontra-se atualmente as condições da Lagoa de Marapendi?
Mariana – Eu diria lamentável!! Nota-se proliferação de algas, aumento de temperatura, péssimo odor, redução de oxigênio e pouca capacidade de digestão da matéria orgânica!! A falta de tratamento de esgoto e a inexistência de uma troca abundante entre as águas interiores e oceânicas causadas por descaso do governo e por uma obra de engenharia feita na década de 60, tem evitado a revitalização do sistema hídrico da lagoa. Estando confinada entre as Avenidas Sernambetiba e das Américas a lagoa vem acumulando crescentes quantidades de dejetos, que formam ilhas de lodo mal cheirosas que são verdadeiros criadores de insetos. Essas ilhas diminuem ainda mais a circulação de "água" e pioram a qualidade de vida dos residentes e de diversas espécies silvestres e aquáticas.

 

Região Da Barra Da Tijuca No Rio De Janeiro Sofre Com Poluição E Descaso

 

TAE – O Governo vem tomando algumas providências com relação a descontaminação desta área? E as opções são efetivas?
Mariana – O Governo do Estado vem percebendo a necessidade, e agora, a urgência em melhorar as condições das lagoas para que as mesmas não causem o envergonhamento da cidade em meio ao público internacional com as Olimpíadas de 2016. Até então as medidas, publicadas, a serem tomadas pelo Governo do Estado constituem-se em 1) dragar os sedimentos contaminados que estão depositados no fundo das lagoas e 2) evitar o despejo de esgoto nas lagoas por meio de aumento em penalidades tributárias aos condomínios. Essas duas medidas sem dúvida irão auxiliar na melhoria da situação do complexo lagunar. Porém para se obter um resultado mais visível e duradouro é necessário que exista um fluxo de água limpa no sistema e que medidas de tratamento de contaminantes sejam adotados urgentemente.

TAE – Já se é sabido que a dragagem por si só não resolverá os problemas de uma lagoa como a de Marapendi, que não recebe águas para regeneração e diluição dos compostos orgânicos, além das ligações dos condomínios nas redes coletoras de esgoto serem muito morosas e demandarem altos investimentos por parte dos órgãos públicos, quais as ações principais que seu projeto contempla?
Mariana – Esse projeto sugere algumas ações simples, sustentáveis e viáveis economicamente como:
- A reconexão do Canal de Sernambetiba com o Canal das Taxas, que geograficamente deveria ser o início do complexo lagunar da lagoa de Marapendi;
- A adoção de ilhas de tratamento;
- A implantação de sistemas de tratamento de esgoto/efluentes compactos para tratar os esgotos lançados na lagoa;
- A fiscalização e autuação do Inea fazendo-se cumprir as diretrizes e normas para emissão de efluentes.
A reconexão do Canal de Sernambetiba (Rio Morto) com o complexo lagunar é essencial, pois o Canal de Sernambetiba que é alimentado por águas das montanhas do Parque do Maciço da Pedra Branca poderia voltar a ser uma fonte de água capaz de regenerar, diminuir a temperatura e aumentar a capacidade de absorção de matéria orgânica do complexo lagunar da Barra e do Recreio.

 

Região Da Barra Da Tijuca No Rio De Janeiro Sofre Com Poluição E Descaso

 

TAE - Notícias recentes publicadas pelos principais jornais regionais e nacionais relatam a aparição de forte espuma branca nas regiões litorâneas do Rio de Janeiro, principalmente na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, de acordo com o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), trata-se de floração e decomposição de algas (fitoplânctons) causadas pela alta temperatura, você acredita que a poluição da Lagoa pode estar contribuindo diretamente para este fenômeno?
Mariana – A proliferação de algas acontece por um excesso de matéria orgânica e é acelerada em altas temperaturas. Por isso, com certeza a contaminação por esgoto das lagoas de Marapendi e também a de Jacarepaguá tem sido a maior contribuição para essa espuma branca vista nas praias da zona oeste da cidade, uma vez que as águas das lagoas acabam no mar. As lagoas recebem muitos contaminantes e no caso da lagoa de Marapendi, a mesma não recebe nenhuma fonte de água limpa para diluir a concentração de esgoto. Com a chegada do verão infelizmente a ação de decomposição de matéria orgânica se torna ainda maior, o que acaba piorando a qualidade da água vista pelos banhistas.

TAE – Qual a importância da Lagoa para a região?
Mariana – A Lagoa está inserida em um dos principais pontos da orla da Barra da Tijuca, e em seu entorno ficam: condomínios de luxo, hotéis e demais pontos comerciais. A região será também um dos principais pontos para os turistas nas Olimpíadas de 2016. Os turistas assim como os residentes serão atingidos diretamente pela poluição e pelo mau odor gerado pela Lagoa, ocasionando em prejuízos formalizados pela mídia internacional para a cidade do Rio de Janeiro e para a economia local no futuro.

TAE – Quando começou a piorar a situação da Lagoa?
Mariana – Antes da construção da Avenida das Américas na década de 70 o Canal de Sernambetiba era conectado ao complexo lagunar da Barra e Recreio. As águas desciam das montanhas, do Parque do Maciço e da Pedra Branca e eram transportadas pelo canal de Sernambetiba alimentando a lagoa de Marapendi. Porém com a construção da ponte e com o Artigo 122, do Título VII, Capitulo Único, do Código de Águas de 1934, concedendo preferência às redes de transporte, essa conexão foi bloqueada. Com o passar do tempo, e com a ocupação residencial, a poluição na lagoa aumentou, trazendo consequências para aqueles que vivem próximos aos seus cursos d’água. Sem mais fluxo d’agua o complexo lagunar de Marapendi vem acumulando esgoto, excesso de sedimento e água pluvial contaminada. Além disso, o Canal de Sernambetiba passou somente a escorrer para o mar (na Praia da Macumba), se tornando dependente da maré, o que tem levado a um maior número de enchente na região de Vargem Grande, quando a maré está cheia e o Canal não consegue desaguar no mar.

TAE – Dentro de seu projeto você utiliza métodos sustentáveis de tratamento de efluentes, comente um pouco sobre estes sistemas.
Mariana – É extremamente importante usar métodos de tratamento de água que não tragam nenhum risco ao meio ambiente, por isso esse projeto propõe usar ilhas de tratamento com espécies nativas. Estas ilhas calculadas em tamanhos proporcionais ao volume de água a ser tratado agregam valor estético e melhoram biologicamente o ecossistema. Elas funcionam como wetlands convencionais de tratamento, porém 1) não ocupam espaço, 2) tem menos custo de manutenção, 3) são mais eficientes devido à maior exposição das raízes de suas plantas à contaminações. Por suas raízes e reações biológicas elas conseguem absorver matéria orgânica e patogênica. É importante notar que as ilhas não são um substituto aos métodos de tratamento de esgoto, porém elas trazem benefícios visíveis enquanto parte do esgoto ainda não é coletado.
Essas ilhas de tratamento, que ainda não existem no Brasil, podem trazer muitos ganhos ao meio ambiente. Elas não só melhoram a qualidade da água, mas também agregam valor estético ao local por serem agradáveis e naturais; se tornam mais um rico habitat para espécies aquáticas e aviárias; controlam a proliferação de algas; limpam a água naturalmente sem a adição de produtos químicos.

 

Região Da Barra Da Tijuca No Rio De Janeiro Sofre Com Poluição E Descaso

 

TAE – Qual a importância da população local neste projeto?
Mariana – O projeto usa um sistema sustentável eficiente e de baixo custo visando resultados futuros a curto e longo prazo e a população precisa saber disso para respeitar os componentes nos quais eles poderiam vir a ter contato, como as ilhas de tratamento, por exemplo. Todos da região devem entender o que está sendo proposto e como manter os recursos investidos. Essa comunicação pode ser dada através de reuniões e palestras com a comunidade, ou através de anúncios pela radio local. Eu considero que só é possível implementar modos não convencionais quando as pessoas afetadas entendem sobre o assunto, participam ou ajudam a mantê-los, nem que seja simplesmente respeitando-os.

TAE – Este projeto possui uma versatilidade de aplicação? Pode ser aplicado em outros casos como o da Lagoa de Marapendi?
Mariana – Sim, existe uma versatilidade na aplicação desse projeto. Eu vejo muitos outros lugares com as mesmas necessidades. Porém, é claro que é preciso estudar cada caso de forma única, para investigar as necessidades hidrológicas e a adoção de métodos de tratamento específicos. Em meus projetos eu acho essencial considerar a geografia do local, as modificações feitas na região e como os corpos hídricos têm sido afetados ao longo do tempo. A partir dessas informações torna-se mais fácil desenvolver um projeto melhor fundamentado.

TAE – Quais os próximos passos para a implantação efetiva deste projeto?
Mariana – O Instituto Estadual do Ambiente responsável pelas ações a serem tomadas a respeito das lagoas está ciente sobre a proposta deste projeto e pretende integrá-lo ao projeto de dragagem, licitado pela segunda vez em dezembro de 2013 em 640 milhões de reais. Com os jogos olímpicos temos uma grande oportunidade de fazer algo duradouro que favoreça os residentes da região não só a curto, mas a longo prazo. Eu espero que o projeto saia mesmo do papel, pois seria uma tristeza desperdiçar a oportunidade de fazer algo sustentável em um projeto que constroem somente uma grande dragagem, mas que não trata as causas do problema.

 

Mariana Pereira Basilio
Tel.: +64 22 1860685
Email: marididi46@hotmail.com
Skype: marididibasilio

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