Dessalinização Da Água É Processo Irreversível Nos Dias Atuais

Qualquer imagem da Terra vista do espaço mostra um imenso planeta azul. Não é preciso esforço para entender o motivo da denominação, já que 71% dele são feito de água.


Dessalinização Da Água É Processo Irreversível Nos Dias Atuais

 

Qualquer imagem da Terra vista do espaço mostra um imenso planeta azul. Não é preciso esforço para entender o motivo da denominação, já que 71% dele são feito de água. Desse total, 97% do líquido estão nos oceanos e apenas 3% é formado por água doce.
A Região Metropolitana da Baixada Santista, composta por nove municípios, tem oito cidades à beira mar, o que comprova essas porcentagens. E, em épocas em que os olhos se voltam para os cuidados com recursos hídricos, ignorar certas saídas para a água pode significar um retrocesso, como acredita Kepler Borges França, coordenador do Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba.
"Em uma região litorânea, a dessalinização (retirar o sal da água) é um caminho absolutamente viável. A construção de miniusinas seria responsável por abastecer de 30% a 35% das casas da orla. Isso desafogaria o restante dos bairros das cidades", afirma o pesquisador, que há mais de 25 anos estuda o tema.
Em sua opinião, tirar o sal da água é um processo inovador que poderá ser observado a curto prazo. "O que temos hoje, em termos de transporte de águas tratadas em adutoras quilométricas e necessidade de serviços de manutenção, às vezes, não compensa o abastecimento das cidades que ficam às margens do oceano, principalmente quando o problema é falta de água potável".
Ele reforça a importância da dessalinização como alternativa e cita o exemplo de capitais que já sofrem com esse abastecimento de água tradicional. "Com o desenvolvimento de obras e construções de edificações e condomínios próximo das orlas brasileiras, sente-se essa dificuldade".

Qualidade
Mas uma dúvida que povoa o imaginário diz respeito à qualidade da água tirada do mar, especialmente porque os índices de balneabilidade variam muito. De qualquer forma, o professor tranquiliza os moradores da região. Ele garante que assim como tira o sal, o processo também é capaz de absorver qualquer microrganismo e bactéria que possam afetar os seres humanos. "A água é de excelente qualidade".
França se diz esperançoso quanto aos avanços da dessalinização e prevê que, em função da demanda, há perspectivas do aumento da produção de água tratada para 1 milhão de litros por dia. "Independentemente do processo de tratamento de água, o povo precisa se conscientizar que ele envolve custo, desde a captação até a torneira de casa. Estamos falando de um produto finito e a realidade, hoje, é outra. Não dá para ficar usando como se fosse há 100 anos".
Estimativas internacionais dão conta que em meados de 2025, o problema se agravará. Daqui a apenas 11 anos, estima-se que a população no mundo seja de oito bilhões de pessoas.
Embora o Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista (CBH-BS) confirme que a dessalinização torna a água própria para o consumo, ainda não foi realizado nenhum estudo sobre o tema nesta região.
"A água dos estuários é salobra, sendo necessário processá-la para obter a qualidade necessária para o uso adequado. Entretanto, a legislação ainda é incipiente", frisa Wanda Iório, secretária executiva do comitê.
Para o arquiteto e urbanista Nelson Urbano Portéro Júnior, membro suplente do CBH-BS, uma alternativa é a demanda subterrânea. "Mas, sua aplicação é muito pequena dada à característica da região costeira, em que a salinidade interfere no lençol freático".
Enquanto a dessalinização ainda é distante de nossa realidade, em outros pontos do Brasil e no exterior a técnica tem alcançado excelentes resultados, lembra o pesquisador Kepler Borges França, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Atualmente, o Nordeste do país concentra o maior número de projetos de dessalinização, com 1.500 pontos. E não apenas na porção litorânea, mas em todo o polígono da seca, pois o solo dessa região é caracterizado por rochas cristalinas e alta concentração de sais minerais. O arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco, conta com um projeto implantado pelo programa Água Boa, que beneficia a comunidade com água dessalinizada para usos múltiplos.

Exterior
A dessalinização de água dos oceanos tem se tornado uma prática nos Estados Unidos e em países que necessitam de água potável, ressalta França. "Recentemente, foi acordado com o governo da Venezuela a construção de uma usina de dessalinização de 200 litros por segundos, com perspectivas de 800 litros a curto prazo".
De acordo com o pesquisador, a usina será construída a partir de outubro deste ano, a 550 quilômetros a oeste de Caracas. "Essa decisão foi tomada após a longa seca no país, que provocou a morte de 200 mil cabeças de gado e levou o racionamento de água para o consumo humano".

País continental
O Brasil é um país continental com discrepâncias geográficas imensas onde há regiões com escassez de água e outras onde o recurso é abundante.
Talvez esta seja uma explicação para a demora no despertar dos órgãos públicos em utilizar a tecnologia de dessalinização de água do mar visando o abastecimento das cidades.
Para os técnicos da Unitek "esta consagrada tecnologia traz custos de implantação e tratamento comparáveis aos gastos com o tratamento de água doce, que já apresenta os níveis de sais dissolvidos dentro da faixa adequada para consumo humano. Em áreas próximas ao mar onde não há suficiente disponibilidade de água doce para atendimento da demanda o processo é uma alternativa. É o que ocorre por exemplo em Fernando de Noronha onde a água doce de superfície disponível atende parcialmente às necessidades do abastecimento público da ilha".
A região da Grande São Paulo é um caso à parte. Uma das maiores metrópoles do planeta com mais de 20 milhões de habitantes requer água tratada para as crescentes demandas concentradas no conglomerado urbano. A região dispõe de mananciais importantes mas há certa fragilidade. As vazões são muito grandes e qualquer eventualidade pode afetar o sistema. Vivemos hoje um período de baixos índices de chuva na região, e com o bombeamento constante da água disponível nos reservatórios, os seus níveis baixam.
Os engenheiros da Unitek afirmam que "a tecnologia do saneamento tem muito a oferecer dentro deste cenário e as empresas responsáveis já estão se mobilizando. Há em andamento projetos de redução do desperdício em toda a malha hidráulica e projetos de utilização de água de reúso onde o esgoto tratado substitui a água potável fornecida pela rede pública em aplicações onde isto é possível, como por exemplo irrigação de praças e jardins das cidades.
Infelizmente parece que foi necessário sofrer com a falta de água no Estado de São Paulo para que os responsáveis pelas áreas de projetos e meio ambiente das empresas definitivamente decidissem investir nas novas tecnologias para não dependerem da disponibilidade do abastecimento público."

Dessalinização de água do mar por osmose reversa (SWRO)
Para garantir um fornecimento consistente e confiável muitas comunidades, autoridades governamentais e empresas privadas estão buscando a alternativa da dessalinização.
Os sistemas de dessalinização da RWL Water podem produzir água potável a partir de praticamente qualquer origem, incluindo água do mar, superficial e salobra. Personalizados, eles são desenhados em função dos requerimentos da qualidade da água produto e de alimentação que cada cliente possui.
Distante do mar a região do semiárido nordestino tem índices pluviométricos baixos. Por outro lado, há disponibilidade de água no subsolo da região, mas o problema seria outro: a água extraída de grande parte dos poços apresenta níveis de salinidade acima do limite de potabilidade. Em centenas de localidades do nordeste do país o processo de dessalinização de água de poços é empregado no abastecimento público.
As plantas dessalinizadoras de água de mar pelo processo de osmose reversa possibilitam a remoção de quase todos os sólidos totais dissolvidos (STD) existentes na água bruta produzindo água potável com um valor de salinidade dentro do estabelecido no Código Alimentar Brasileiro.
Normalmente as etapas do processo de dessalinização de água de mar são as seguintes:
1- Captação de água de mar: depende do lugar de onde se obtém a água, podendo ser um pouco da praia, diretamente do mar, etc.
2- Pré-tratamento: elimina todas aquelas partículas em suspensão (algas, peixes, matéria orgânica) que possam provocar o entupimento das membranas.
3- Sistema de osmose reversa: permite a redução da salinidade original (em média 35.000 mg/l) até valores aptos para o consumo humano (menos de 1.500 mg/l).
4- Pós-tratamento: evitaria uma nova contaminação da água produto (pode incluir remineralização e adição de biocida).
Por se tratar de elementos do tipo modular sua capacidade pode ser ampliada adicionando novos elementos (módulos).

A capacidade global de dessalinização aumentou devido a escassez
E os próprios técnicos da Unitek completam sua linha de raciocínio: "A capacidade das plantas de dessalinização aumentou 57% nos últimos cinco anos, de acordo com a informação recentemente publicada pela Internacional Desalination Association (IDA) e Global Water Intelligence (GWI). A base instalada de plantas de dessalinização em todo o mundo tem atualmente uma capacidade de processo de 78,4 milhões de metros cúbicos por dia. Mundialmente os desenvolvimentos tecnológicos avançam ano a ano. Hoje temos uma realidade de custos bastante inferior a períodos anteriores, por um lado geradas pelo aumento de escala das demandas de plantas de dessalinização e de empresas fornecedoras de serviços e materiais, e por outro pelo significativo avanço na tecnologia contemplando sistemas de recuperação de energia, novos materiais, sistemas de gerenciamento e materiais que consomem menos energia. Empreendimentos em que num passado recente não eram justificados pelo lado econômico-financeiro agora já são reconsiderados."

 

Dessalinização Da Água É Processo Irreversível Nos Dias Atuais



Pouca estrutura
Para Nelson Guanaes, presidente da Perenne, o assunto da dessalinização é ainda tabu no Brasil: "na realidade Fernando de Noronha é a única usina existente para abastecimento público no Brasil utilizando a água do mar.
A Perenne foi responsável por sua instalação, ampliação e operação durante três anos. Há outras unidades menores nas ilhas São Pedro e São Paulo, os pontos mais distantes das águas brasileiras no Oceano Atlântico. A água ali é usada pela Marinha do Brasil. E também há outras para residências particulares na Bahia e também em Angra dos Reis (RJ)", disse.
Guanaes continua em suas considerações: "Em recente matéria da revista Exame um escritor americano recomenda a aplicação de tecnologias para permitir o aproveitamento de água do mar para fins potáveis e reúso da água do esgoto sanitário devolvida para ETAs. Nenhuma novidade nisso e não precisamos recorrer a atentos estudiosos externos para essa afirmativa. Os professores Ivanildo Espanhol e José Carlos Mierzwa do CIRRA - Centro Internacional de Referência e Reúso de Água e, há tempos incentivam a aplicação de tecnologias de membranas para dessalinizar água do mar e tratar o esgoto sanitário para reúso da água tratada para diversos fins e um dia por que não para beber? É bem verdade que os nossos exemplos aplicados não são muitos, o único sistema público de água do mar é o de Fernando de Noronha que tem uma população máxima de 3.000 pessoas nos finais de semana incluindo os nativos que não passam de 1.000 pessoas. Mas, lá desde 2006 tem água potável captada do Atlântico, ainda com vazões que não passam de 30 m3 por hora, ainda insuficiente para abastecer nos picos do turismo local. Antes disso, no início da mesma década no ponto mais distante da costa brasileira, o arquipélago São Pedro São Paulo, oficiais da Marinha brasileira .também já bebiam água do mar dessalinizada. Esse recurso de tratar água do mar para fins potáveis também faz parte de barcos importados e de casas de alto luxo em nosso litoral, mas aí o preço final da água não importa muito."
O presidente da Perenne acredita que transformar a água do mar em potável é uma das saídas para a crise hídrica: "Antes que os céticos de plantão se arvorem em dizer que ‘pode ser, mas custa muito caro’, pode-se passar as experiências que a Perenne acumulou desde a dessalinização de água salobra do Nordeste, perto de 5.000 poços tubulares, antes tamponados, aos dias de hoje após ampliar e operar os sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário de Fernando de Noronha por quase cinco anos. Mesmo o equipamento de baixa vazão de São Pedro - SP deu subsídios operacionais para assimilação da tecnologia de osmose reversa, vista há 30 anos com olhos de complexo de vira-lata que compõe a célebre frase de Nelson Rodrigues após a perda da Copa do Mundo de 1.950 a respeito de nós brasileiros, ao subestimarmos nossas capacidades", explica.
E continua em tom enfático: "Nosso pais tem empresas, cientistas e profissionais de engenharia para viabilizar a aplicação das tecnologias tanto para dessalinizar água do mar, como para tratar o esgoto sanitário, carência nacional, desde as principais capitais, a partir da maior de todas, São Paulo, até os menores municípios de todas as regiões do país, principalmente do Norte e Nordeste. Bem, isso basta? Categoricamente não, não basta. Há que se ter vontade política e mais atenção com as empresas inovadoras que investem anos em tecnologia e vivem à espera de um programa para que, enfim, possam aplicar seus conhecimentos para produzir soluções não apenas acadêmicas, mas produtos e serviços especializados para suprir carências crônicas do setor de abastecimento de água pública e industrial, estes com atividades ameaçadas por falta desse insumo vital para produção de bens de primeira necessidade como bebidas, cosméticos, farmacêuticos e comodites para exportação que tanto precisamos."
Nelson Guanaes é um entusiasta dessa tecnologia: "Voltando às nossas experiências e agora sem falsa modéstia, a Perenne é a empresa brasileira que mais detém tecnologia em dessalinização de água, embora tenha aplicado essa expertise mais no exterior do que em águas nacionais. O Bayovar no deserto do Peru é um dos maiores projetos da América Latina com 600 m3/hora de água do mar para uso em mineração de fosfato. Porto Príncipe no Haiti produz cerca de 250 m3 por hora em unidades com tecnologia de Ultra Filtração e Osmose Reversa combinadas e sob patente registrada com o nome de UFOR 2012. Esse volume de água produzida, se modestos comparados às usinas gigantes do Oriente Médio e Ásia, não devem nada em complexidade de engenharia e operação pois foram projetadas para suportar as intempéries da maré vermelha do Pacífico e dos abalos sísmicos comuns àquelas regiões."
E Guanaes finaliza: "Dessalinização e reúso são viáveis em nosso país? A seca que assusta a todos pode ser remediada? Temos como contribuir, empresa, cientistas, estudiosos e técnicos do setor de água e efluentes? Com preços competitivos? As respostas são afirmativas e comprovadas ."

Projetos em andamento
Marcelo Ferreira, gerente técnico da ProMinent Brasil explica que "no país temos projetos que estão em definição. Exemplo: um projeto com capacidade de 100 m3/h para abastecimento de água potável na cidade de Niterói-RJ, ou em fase de afirmação da tecnologia na Baixada Santista."
Ele continua a falar sobre a dessanilização: "Os maiores desafios estão em definir o ponto de captação e um pré-tratamento eficaz. Captar água em mar aberto apresenta um custo elevadíssimo, considerando que a unidade de dessalinização esteja em terra, comparado a outras alternativas de captação e de variação de correntes marítimas podem interferir na qualidade de água captada. Por outro lado captações próximas às areia ou em baías apresentam elevado teor de contaminantes que prejudica a operação, inclusive de tecnologia avançada de pré-tratamento, tal como, ultrafiltração. Os principais fatores de contaminantes estão relacionados a algas e presença de óleos e graxas. Portanto além de tecnologia avançada de pré-tratamento é fundamental um oxidante eficaz para controle de algas. Tecnologia como ozonização e ou dióxido de cloro são extremamente eficazes para o controle microbiano em água do mar", diz.
Captação através de poços radiais nas praias, seguida de oxidante eficaz e ultrafiltração são uma sequência de tecnologia eficaz na performance do sistema de dessalinização: "Evidentemente que captações com garantia de qualidade de água sem os contaminantes acima mencionados são passivos de pré-tratamento com tecnologia convencionais seguida de dosagem de coagulantes; filtração multimídia; filtração de carvão; UV, demonstram eficiência e é possível especificar a qualidade requerida para alimentação do sistema de dessalinização", afirma.
E continua em sua explanação: "Após a definição do ponto de captação e um pré-tratamento eficaz a unidade de dessalinização deverá ser projetada com taxas de fluxos conservativas e sistema de enxague com permeado, sempre que houver necessidade de parada da unidade por controle de nível de reservatórios e em período pre determinados durante o clico de operação. Planta com capacidades acima de 5 m3/h necessariamente devem ser projetadas com sistema de recuperação de energia, pois a redução energética poderá atingir percentuais de aproximadamente 45%", finaliza.

 

Contatos:
Ivanildo Espanhol e José Carlos Mierzwa:
Centro Internacional de Referência e Reúso de Água (Cirra)
Kepler Borges França: Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
Perenne: www.perenne.com.br
ProMinent: www.prominent.com.br
Unitek: www.unitekdobrasil.com.br
Wanda Iório e Nelson Urbano Portéro Júnior: Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista (CBH-BS)

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