Sistemas Alternativos De Tratamento De Água E Efluentes

A água está cada vez mais se tornando um bem precioso, além dos problemas pela falta desse item nas grandes metrópoles, algumas regiões ainda não tem acesso à água de qualidade. A implantação de sistemas alternativos tem sido a solução para levar o abaste


A água está cada vez mais se tornando um bem precioso, além dos problemas pela falta desse item nas grandes metrópoles, algumas regiões ainda não tem acesso à água de qualidade. A implantação de sistemas alternativos tem sido a solução para levar o abastecimento a comunidades pequenas do Brasil. Diferentes de grandes redes de distribuição de água este sistemas são mais baratos e não necessitam da operação de grandes instalações.
São sistemas simples, de fácil operação e podem ser mantidos apenas pelos moradores de cada região, que mais tarde podem ser capacitados para administrar sua própria água. Para o bom resultado desses projetos, é importante sempre manter a comunidade envolvida nos serviços, mas não descartar, quando necessário a assistência de um especialista.
Entre os processos novos e tecnologias inovadoras para o tratamento de águas em pequenas comunidades, destaca-se o uso da luz solar. Esse sistema é um método alternativo, simples e que destrói os microrganismos patogênicos (vírus, bactérias, protozoários e fungos) presentes na água pelo efeito sinérgico da luz solar e da elevação da temperatura.
O procedimento é fácil, basta expor uma garrafa PET transparente de até 2,5 litros cheia de água ao sol por algumas horas, mas deixando um espaço com ar entre o gargalho e a tampa com o intuito de manter a oxigenação e facilitar a destruição microbiana pelo efeito tóxico do O2.
Outro método, ainda em estudo pela UNESP de Rio Claro, o tratamento eletrolítico, que usa a eletricidade para separar elementos químicos da água, também pode ser uma boa opção. O processo consiste na aplicação de energia elétrica em eletrodos separados, dispostos de forma paralela e inseridos na solução a ser tratada. Esse procedimento produz alterações de oxidação e redução em substâncias presentes na água, como microrganismos ou substâncias químicas.

Projetos e sistemas
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) faz diversos trabalhos de acesso à água, os moradores de Sepé Tiarajú uma comunidade localizada nos arredores de Ribeirão Preto, em São Paulo, por exemplo, aprenderam a construir cisternas para captação de água da chuva e dispõem de um serviço individualizado de tratamento de esgoto, que aduba o solo e despolui os efluentes próximos. Esse projeto se tornou referência para a criação de uma cartilha explicativa e incentivo à implantação de sistemas alternativos.
Também em parceria com a Funasa, foi inaugurado em abril, na Bahia, um Sistema de Abastecimento de água em São José do Rio Grande, município de Riachão das Neves. Trata-se de um projeto de captação flutuante diretamente do Rio Grande e percorre uma adutora de 900 metros para dois reservatórios. O projeto possuiu Estação de Tratamento de água (ETA), rede de distribuição de 6,5Km e ligações domiciliares atendendo, hoje, cinco mil habitantes.
No litoral norte, o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), implantou o sistemas de esgotos na Microbacia 3 de Ubatuba.
O projeto visou o saneamento nas comunidades isoladas da região, garantindo que os domicílios de famílias de baixa renda tenham acesso a instalações sanitárias adequadas, melhorando a qualidade dos recursos hídricos e da qualidade de vida da comunidade. Houve um aumento de 59% no tratamento dos esgotos, com 90 famílias carentes atendidas.
Após alguns estudos relativos às condições sanitárias e geotécnicas do local, ficou concluído que o sistema de tratamento de esgoto a ser adotado era o sistema individual e coletivo de tanques sépticos (fossa, filtro anaeróbio e sumidouro). As etapas de implantação do sistema foram divididas em: mobilização das comunidades no desenvolvimento dos trabalhadores locais voluntários; acompanhamento técnico por profissional habilitado; emissão de ART específica para a execução das obras e a execução dos mutirões com a própria comunidade e construção das alvenarias.
Outro projeto bastante interessante é o desenvolvido pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. Trata-se um sistema para tratamento de esgoto doméstico composto por um cilindro de aproximadamente 1,5m de altura por 0,76m de diâmetro com fundo de forma cônica. Dentro, 70 quilos de caule de bambu cortados em pedaços de 6 cm de comprimento.
Os reatores cilíndricos, que possuem em seu interior os caules de bambu, recebem o esgoto bruto que passa da parte inferior para a superior, entram em contato com microrganismos que aderem a superfície dos pedaços de bambu, os mesmos utilizam os compostos orgânicos e nutrientes contidos no esgoto.
O resultado é o processo metabólico que gera a decomposição do material poluente. Depois de passar por esse processo, o esgoto vai para um tratamento complementar em um filtro de areia. É um sistema de baixa utilização mecânica, utiliza materiais baratos e de fácil acesso, tornando o sistema vantajoso e visivelmente econômico.

Saneamento rural
Muitos desses sistemas alternativos são pensados para o Saneamento Rural, de acordo com o Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2001, no Brasil cerca de 29,9 milhões de pessoas residem em localidades rurais, totalizando aproximadamente 8,1 milhões de domicílios. O grande problema é que grande parte dessas residências capta água de chafarizes e poços diretamente de cursos de água sem nenhum tratamento ou de outras fontes que geralmente são inadequadas para consumo humano. O quadro piora ainda mais se pensar no esgoto sanitário, a maioria das famílias lançam seus dejetos diretamente no solo ou em águas correntes.
Em alguns casos são usadas as chamadas fossas negras, uma escavação sem revestimento interno onde os dejetos também caem no buraco do terreno, como um túnel. Esse processo também oferece os mesmos riscos de contaminações e doenças. Uma alternativa para substituir esse processo é a Fossa Séptica Biodigestora. Trata-se de um sistema de saneamento básico que transforma os dejetos em adubo líquido orgânico para as plantas.
Três caixas de água são enterradas no solo e conectadas entre si, a primeira é ligada ao sistema de esgoto sanitário, e recebe uma vez por mês, 10 litros de uma mistura de água e esterco bovino fresco, esses materiais junto com as fezes humanas fermentam gerando o processo de biodigestão anaeróbia. Com essa fermentação os organismos que podem gerar doenças são eliminados. Ao final desse processo é gerado um líquido que pode ser usado como adubo.
Pouco antes de completar dois anos de implantação, os primeiros resultados do Projeto Piloto Vila Ouro em Uibaí, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba, na Bahia, são positivos e confirmam que a produção agrícola familiar com uso de sistema simplificado de irrigação em modelo agrovila pode ser uma boa alternativa para assentamentos e comunidades rurais.
O plantio das primeiras sementes já foi o suficiente para consumo e venda.
O sistema consiste num conjunto de obras e serviços que proporciona a disponibilização de fonte de água para irrigação (poço, rio, lago), implantação de sistema de bombeamento, adução, reservamento elevado e distribuição de água e instalação de kits de irrigação por gotejamento em áreas aptas. A ação ainda contempla o preparo e a adubação corretiva do solo para receber o cultivo.
Sua estrutura é composta por um sistema de bombeamento por energia elétrica, cerca para proteção do poço tubular e da bomba, sistema adutor, sistema de reservatórios elevados (com capacidade para 20 mil litros) e 12 kits de irrigação com capacidade para irrigar 500m2 via sistema de gotejamento, além de todo equipamento, ferramentas e insumos para plantação.
Outras formas de dar acesso a sistemas alternativos de tratamento de água é através de projetos que ensinam nesse processo. O Instituto Supereco, por meio do projeto Tecendo as Águas ofereceu, em 2014, aulas gratuitas para produtores rurais da Bacia do Rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba. Na oficina eles puderam conhecer alternativas para tratamento de esgoto doméstico e os benefícios desse processo para a qualidade das águas, meio ambiente e principalmente para saúde. Além de todo conteúdo teórico também foi implantado um sistema alternativo de tratamento de esgoto doméstico em propriedade rural por mutirão.

Pequenos passos
Alguns projetos de sucesso podem vir de qualquer pessoa, não apenas de grandes empresas ou do governo. O engenheiro ambiental Jonas Rodrigo dos Santos, pensando em acabar com o problema das áreas rurais que não tem tratamento de esgoto, desenvolveu um sistema natural, que retira a maior parte das impurezas das fezes e evita a contaminação da água.
A experiência de implantação foi feita em Capanema, na área rural do Paraná. O processo é feito em 5 fases de limpeza. A fossa séptica e o tanque de zona de raízes é dividido em filtros de pedras grossas, filtro de pedras brita, filtro pedrisco e carvão ativado. Para potencializar ainda mais aplicação foram utilizadas plantas (bananeiras e taiobas) para a purificação. Após passar por todo o processo, a água residual teve um alto índice de qualidade. O sucesso foi tão grande que o sistema teve destaque em um dos concursos realizados pela Agência Nacional de águas (ANA).
Em Londrina, também no Paraná, uma moradora, pensando em evitar desperdício, desenvolveu um sistema para aproveitar água da chuva em vários cômodos da sua casa.
O processo começa no telhado, passando pelas calhas levando a água para uma cisterna subterrânea. Nesse momento a água já está pré-filtrada e é puxada para a parte superior da casa através de um motor, o sistema de filtração é feito através de carvão ativado.
A armazenagem da água é feita em cinco tambores de 500 litros cada.
Os conhecimentos em escotismo ajudou Alexandre Junior, morador da cidade de São Paulo, a mostrar como é possível tratar água da chuva. Ele usou uma garrafa pet, um garrafão de plástico, carvão ativo, areia grossa e fina, cascalho fino e grosso e feltro, gastou com todos os itens aproximadamente R$ 30,00. O jovem explica que para o processo dar certo basta passar a água da chuva pelo filtro seis vezes e já está apta para uso.
Nesse sistema ele utiliza a garrafa pet como uma espécie de filtro, após cortá-la o feltro é colocado perto da tampa, depois é colocado o carvão, outra camada de feltro, o cascalho e a areia, dos grãos grossos para os mais finos. Em seguida é só passar a água suja e está pronto, é recomendado pingar duas gotas de cloro para cada 1 litro de água tratada.

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