As Geotecnologias E O Controle Do Chorume: O Uso Da Geociência Na Aquisição De Ambientes Adequados Para Aterros Sanitários Controlados

Tão inevitável quanto a geração de resíduos sólidos – lixo, ao desempenhar atividades corriqueiras do cotidiano, é a necessidade de tratar de forma inteligente as iniciativas condizentes a seu destino adequado


As Geotecnologias E O Controle Do Chorume: O Uso Da Geociência Na Aquisição De Ambientes Adequados Para Aterros Sanitários Controlados

 

Tão inevitável quanto a geração de resíduos sólidos – lixo, ao desempenhar atividades corriqueiras do cotidiano, é a necessidade de tratar de forma inteligente as iniciativas condizentes a seu destino adequado. O assunto excluído das pautas tratadas por grande parcela da população, que em diversos casos, preocupa-se apenas com a retirada deste, do ambiente doméstico, abriga toda uma problemática e está impregado de preconceitos. Acerca dos resíduos sólidos há entidades, organizações e famílias vivendo direta ou indiretamente dos procedimentos de coleta, venda, tratamento e reutilização destes materiais, que muitas vezes, retiram a sua fonte de renda dos ambientes deposicionais de resíduos sólidos não controlados, popularmente conhecidos como lixões.
Os lixões são ambientes altamente inóspitos, onde há, além da presença de animais sinantrópicos (ratos, baratas e escorpiões), alimentos em estágio de putrefação, resíduos cortantes e infecciosos, podendo comprometer a qualidade da saúde de qualquer pessoa que se exponha a estes. Seus processos de decomposição acarretam o chorume, líquido escuro e malcheiroso que em contato direto com os lençóis freáticos ou corpos hídricos, inviabiliza seu uso. O solo também pode ser contaminado pelo chorume tornando os seres vivos vulneráveis às enfermidades pela proximidade direta ou indireta por meio da agricultura, pecuária ou habitação. Vale ressaltar que o consumo de produtos contaminados acarreta graves danos à saúde. Neste sentido, destaca-se quatro divisões de compostos encontradas no chorume: matéria orgânica dissolvida, compostos orgânicos xenobióticos, macrocomponentes inorgânicos e metais pesados (LEGNER, 2017).
Observando tal problemática, o Brasil promulgou a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, estabelecida pela Lei 12.305/2010, onde previa o fim dos lixões não controlados em todo território brasileiro até o ano de 2014. Todavia, muitos municípios ainda mantêm seus lixões em exposição, alegando a falta de capital para gerir tal procedimento ou então, ausência de um local adequado, assim, mesmo sendo alvo de diversas multas ambientais, ainda se perpetua ambientes deposicionais não controlados em toda a esfera nacional, tais como o Lixão da Estrutural, em Brasília, o Lixão municipal de Itapeva, São Paulo e no município de Atalaia, Alagoas por exemplo (IMA, 2017; SAP, 2017; G1, 2017a, 2017b). Ainda em meio as mudanças concernentes à transição dos lixões não controlados para aterros sanitários, um local adequado para esses ambientes, de forma que seja reduzida o contato do resíduo sólido e o chorume entre vilas e bairros próximos, corpos hídricos, áreas preservadas e agricultáveis, a geotecnologia se inclui, sendo um grande aliado no que se refere a solução na gestão pública ou privada nas grandes e pequenas cidades.
Em âmbito internacional, pesquisadores de países emergentes como a China, Índia e Egito utilizam processos oriundos das geociências para detectar e aplicar da forma mais eficiente possível, novas áreas potenciais de aterros controlados. Utilizaram uma série de dados georreferenciados e interpolados, como proximidade de rios, córregos e barragens; uso do solo e da terra; proximidade com aeroportos, centros comerciais e de entretenimento; declividade da área; estrutura viária; tipo de solos; proximidade a áreas inundáveis e centros urbanos/ históricos e fluxo populacional, para só então assim, apontar áreas potenciais a instauração de aterros sanitários. Controlando deste modo, a problemática do lixo e do chorume (MONSEF, 2015; CHOUDHURY; DAS, 2012; OHRI et al., 2015; YANG et al., 2008). No Brasil, trabalhos envolvendo temática semelhante, analisando séries robustas de informações interpoladas são observadas em 2012 (BORTOLATTO, AHLERT, 2012), contudo, o uso mais acurado das técnicas é recente, sendo verificado nos trabalhos de Rezende, Leite e Carriello (2015) e Amaral e Lana (2017), onde os produtos destes retratam ambientes de maior potencialidade no controle e gestão do chorume, lixo e seus derivados (Figura 2).

 

As Geotecnologias E O Controle Do Chorume: O Uso Da Geociência Na Aquisição De Ambientes Adequados Para Aterros Sanitários Controlados


Cabe então, a gestão municipal e estadual considerar estes estudos técnicos-acadêmicos da geociência na aquisição de novas áreas para aterros sanitários, absorvendo profissionais em setores estruturais e ambientais. Uma vez que, através destes estudos pode-se haver redução significativa direta, no que tange a redução de capital financeiro na compra de terreno ou/ e indiretas, referentes a melhor qualidade de vida da população de entorno, fauna e flora. Através dos aterros controlados, escolhe-se o mais eficaz tratamento do chorume (lagoas anaeróbicas, aeróbicas ou estabilização [figura 3]), podendo ser físico-químicos ou biológicas e visando sempre o baixo custo.

 

As Geotecnologias E O Controle Do Chorume: O Uso Da Geociência Na Aquisição De Ambientes Adequados Para Aterros Sanitários Controlados

 

 


Jadson Freire da Silva e Rutt Keles Alexandre da Silva
Mestrandos(a) pelo programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/PE

Ana Lúcia Bezerra Candeias
Professora Doutora Orientadora no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/PE

 


Referências Bibliográficas:
AMARAL, D. G. P.; LANA, C. E. Uso de geoprocessamento para indicação de áreas favoráveis à construção de aterro sanitário no município de Ouro Preto (MG). Caderno de Geografia, v.27, n.49, 368 - 3382, 2017.
AMBIENTE LEGAL. Fotos. Disponível em: < http://www.ambientelegal.com.br/lixo-e-chorume/ >. Acesso em 14/07/2017.
BORTOLATTO, G. R.; AHLERT, S. Geotecnologias para a escolha de um local para possível construção de um aterro sanitário em Bento Gonçalves, RS. Anais... 3º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente, 1-8, 2012.
CHOUDHURY, C.; DAS, S. GIS and Remote Sensing for Landfill Site Selection—A Case Study on Dharmanagar Nagar Panchayet. IOSR (International Organization of Scientific Research) Journal of Environmental Science, Toxicology and Food Technology. v.1, n.20, p. 36-43, 2012.
G1. Após o fim do prazo lixão irregular continua sendo usado pela prefeitura. 2017a. Disponível em: < http://g1.globo.com/sao-paulo/itapetininga-regiao/noticia/2017/03/apos-fim-do-prazo-lixao-irregular-continua-sendo-usado-pela-prefeitura.html >. Acesso em 14/07/2017.
G1. Maior lixão da américa latina será fechado até outubro. 2017b. Disponível em: < http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/maior-lixao-da-america-latina-sera-fechado-ate-outubro-garante-governo-df.ghtml >. Acesso em: 14/07/2017.
IMA – Instituto de Meio Ambiente do Estado de Alagoas. Prefeitura fecham lixões para cumprir política nacional de resíduos sólidos. 2017. Disponível em: < http://www.ima.al.gov.br/ima-e-prefeituras-fecham-lixoes-para-cumprir-politica-nacional-de-residuos-solidos/ >. Acesso em: 14/07/2017.
LEGNER, C. Principais problemas causados pelo Chorume. Revista TAE. Edição Nº 37, Ano VII. junho/julho de 2017. Disponível em: < http://www.revistatae.com.br/edicoes.asp?link=ultima&fase=C&id=413 >. Acesso em 15/07/2017.
MONSEF, H. ABD-EL. Optimization of municipal landfill siting in the Red Sea coastal desert using geographic information system, remote sensing and a analytical hierarchy process. Environmental Earth Sciences, v 74, n. 3, pp 2283–2296, 2015.
OHRI, A.; SINGH, P. K.; MAURYA, S. P.; MISHRA, S. Sanitary Landfill Site Selection by Using Geographic Information System. Proceedings of National Conference on Open Source GIS: Opportunities and Challenges Department of Civil Engineering, IIT (BHU), Varanasi, p 170 – 180, 2015.
POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS. 2ª edição, publicada no Diário Oficial da União, Seção 1. 3 de agosto de 2010; Atualizada 18/5/2012.
REZENDE, F. S.; LEITE, M. B. A.; CARRIELLO, F. Áreas potenciais para implantação de aterro sanitário em Ilha Grande – RJ. Anais XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, João Pessoa-PB, Brasil. 1-8, 2015.
SAP – Sistema Ambiental Paulista. Interdições motivam prefeituras a regularizarem lixões. 2017. Disponível em: < http://www.ambiente.sp.gov.br/2017/03/09/interdicoes-motivam-prefeituras-a-regularizarem-lixoes/ >. Acesso em 14/07/2017.
YANG, K.; ZHOU, X-N.; YAN, W-A.; HANG, D-R.; STEINMANN, P. Landfills in Jiangsu province, China, and potential threats for public health: Leachate appraisal and spatial analysis using geographic information system and remote sensing. Waste Management, v.28, p.2750–2757, 2008.

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