O mundo investiu US$ 49 bilhões em soluções naturais para segurança hídrica
Approach Comunicação -
Uma análise de 10 anos elaborada pela The Nature Conservancy (TNC) e a Forest Trends, englobando investimentos em 140 países entre 2013 e 2023
A avaliação mais abrangente já publicada sobre o fluxo de dinheiro para soluções baseadas na natureza (SbNs) voltadas para a segurança hídrica revela que o investimento total neste setor duplicou durante a década de 2013-2023, crescendo de aproximadamente US$ 22,4 bilhões em 2013 para cerca de US$ 49 bilhões ao final desse período.
Publicado pela The Nature Conservancy (TNC) e a Forest Trends, o novo relatório Dobrando a aposta na natureza: situação dos investimentos em soluções baseadas na natureza para a segurança hídrica, 2025 (Doubling Down on Nature: State of Investment in Nature-based Solutions for Water Security, 2025) ressalta a crescente confiança no poder dessas abordagens entre investidores e formuladores de políticas. Embora o setor seja dominado por financiamento governamental (97%), as constatações destacam a aceleração da velocidade com que o financiamento privado está aumentando apesar de também demonstrar de que forma, até mesmo desacelerações econômicas, como a pandemia de COVID, não arrefeceram esse interesse crescente.
O relatório explora dez anos de dados de 140 países, criando uma comparação irrefutável, região por região, de como o poder da natureza está sendo cada vez mais explorado – em mais de 1645 iniciativas individuais – para proteger as fontes de água potável, reduzir o risco de inundações e preservar os ecossistemas de água doce. Examina também as iniciativas para mitigar os perigos, incluindo deslizamentos de terra e inundações por meio de intervenções como recuperação de florestas e gestão de planícies aluviais.
Comentando sobre a publicação do relatório, Daniel Shemie, Diretor Global de Resiliência da Água Doce da The Nature Conservancy, disse: “À medida que as crises climática e de biodiversidade se aceleram, é fantástico ver os gastos públicos e privados reconhecerem o poder da natureza para salvaguardar os suprimentos de água potável e reduzir o impacto dos desastres naturais.
“Mais importante do que o discurso é o dinheiro e, embora a proporção do financiamento privado neste setor ainda seja uma gota no oceano, a taxa de 30 vezes de crescimento sobre a década anterior, mais o impulso crescente por trás dos investimentos orientados por usuários, dão motivo para otimismo, especialmente quando o financiamento público e a assistência estrangeira sofrem pressão em muitas partes do mundo”, acrescentou.
Apesar de importantes blocos econômicos – China, União Europeia e Estados Unidos – terem sido responsáveis por 94% do investimento total entre 2013 e 2023, surpreendentemente foi a África que apresentou o crescimento mais rápido durante esse período (5 vezes). Outras regiões que não as “Três Grandes”, como a Oceania, também ganharam impulso significativo. O rápido crescimento dos investimentos impulsionados pelos usuários, financiados por beneficiários diretos dos serviços de bacias hidrográficas, como serviços públicos, cidades e empresas, foi outra importante tendência durante o período, enquanto mecanismos inovadores, como fundos de água, conversões de dívidas e títulos verdes, continuam a proliferar neste espaço.
O Brasil, também tem grande potencial no investimento em SbNs para a segurança hídrica "O país tem uma oportunidade estratégica para expandir esses investimentos, com as ações de revitalização de bacias hidrográficas e no saneamento básico. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), estima que ao menos R$ 500 bilhões serão investidos para universalizar o serviço de saneamento no país nos próximos 15 anos. Destinar uma pequena fração desse montante às SbNs fortaleceria e complementaria a resiliência hídrica, garantindo abastecimento de água para a população, assim como os benefícios sociais e a manutenção das atividades produtivas decorrentes desses investimentos”, destaca Samuel Barrêto, da TNC Brasil.
A mitigação do risco de inundações foi identificada como estímulo mais potente para as intervenções em SbNs durante esse período. A qualidade da água foi outro impulsionador importante por trás das intervenções que em geral visavam à proteção e à restauração de florestas e ecossistemas ribeirinhos, além de pradarias, savanas e pantanais.
O relatório também faz recomendações sobre como diversificar e acelerar o investimento em SbNs para a segurança hídrica, desde criação de modelos de receita resiliente e fortalecimento de estruturas de políticas para capacitar o conhecimento e a liderança locais.
“Pela primeira vez em uma década, temos um conjunto de dados verdadeiramente global e abrangente que mostra como e onde os investimentos na natureza relacionados à água estão crescendo e por quê”, disse Gena Gamie, Diretora da Iniciativa Global de Água da Forest Trends. “Este relatório deixa claro que as soluções baseadas na natureza não são mais soluções secundárias. Elas estão se tornando ferramentas convencionais para o gerenciamento da água e dos riscos climáticos. Isso nos dá uma excelente oportunidade de nos concentrarmos no que está funcionando, aprender com inovações emergentes e direcionar recursos para onde eles produzem o maior impacto. Nunca foi tão urgente escalonar soluções eficazes.”
Para baixar o relatório completo, Doubling Down on Nature: State of Investment in Nature-based Solutions for Water Security 2025, acesse o site da TNC Brasil.
Para saber mais sobre como a The Nature Conservancy está trabalhando globalmente para proteger a resiliência dos ecossistemas de água doce para as pessoas e o planeta, acesse: Link
Notas para os editores: Tendências por Localização Geográfica
• Brasil
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O Fundo de Água de São Paulo, demonstra que a integração entre infraestrutura verde e cinza é essencial para a segurança hídrica da Grande São Paulo, que abriga mais de 20 milhões de habitantes. Com quase 23 mil hectares conservados e restaurados em três bacias hidrográficas, além de avanços no manejo do solo e saneamento rural, a iniciativa fortalece um modelo sustentável de gestão da água. Com investimentos superiores a R$ 29 milhões, a colaboração entre os setores público, privado e da sociedade civil tem protegido e recuperado fontes hídricas?essenciais.
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África – Lidera o crescimento global em SbNs para a água, conduzido pela ajuda
externa, Investimentos multilaterais e expansão do investimento público.
• A África é a região de mais rápido crescimento no investimento em SbNs para a água, tendo o financiamento crescido 5 vezes, de US$ 57 milhões em 2013 para US$ 288 milhões em 2023, amplamente concentrado na África Ocidental. Além disso, iniciativas públicas em larga escala estão se expandindo com 16 programas que representam um gasto de mais de US$ 1 milhão em 2023 em comparação com apenas um programa em 2013. Dez desses programas receberam o apoio de empréstimos multilaterais.
• Ásia – a China lidera o investimento global em SbNs para a segurança hídrica, impulsionada pela despesa pública e existe um rápido crescimento em SbNs para investimento em água em toda a Ásia liderado por Japão, Índia, Vietnã e Coreia do Sul.
• A China é a líder global em investimento em SbNs para a água, tendo gasto US$ 26 bilhões em 2023, mais do que o resto do mundo todo. Isso reflete décadas de evolução em políticas públicas após importantes crises ambientais nos anos 1990.
• O investimento em SbNs na Ásia (excluindo a China) atingiu US$ 1,6 bilhão em 2023, tendo crescido 2,3 vezes desde 2016, superando a taxa de crescimento da China. Japão (25%), Índia (21%), Vietnã (20%) e Coreia do Sul (17%) são responsáveis por mais de 80% do investimento total.
• Europa – Amplia e diversifica Investimento em SbNs para a segurança hídrica.
• O investimento em SbNs na Europa mais que dobrou, de US$ 4,7 bilhões em 2016 para US$ 10,8 bilhões em 2023, sendo 96% do financiamento oriundo de fontes públicas, principalmente no apoio ao controle de inundações e qualidade da água. Fundos da União Europeia conduzem o investimento com o Fundo Europeu Agrícola (US$ 5,7 bilhões) e Fundo de Desenvolvimento Regional (US$ 124 milhões) respondendo por mais da metade do investimento total.
• América Latina e Caribe (LAC) – O crescimento em investimentos em SbNs para a água na região é conduzido por financiamento multilateral e investimentos domésticos.
• O investimento em SbNs na América Latina e no Caribe atingiu US$ 390 milhões em 2023, um aumento de 2,6 vezes desde 2016. Além disso, o financiamento multilateral e externo foram responsáveis por 53% dos investimentos, incluindo US$ 160 milhões em apoio direto (ex.: projeto GCF na Argentina) e US$ 42 milhões em empréstimos para apoiar programas de incentivos a proprietários de terras. O investimento governamental interno ampliou-se com 24 programas nacionais despendendo mais de US$ 1 milhão no ano de 2023.
• EUA e Canadá – Constatam Crescimento Orientado por Políticas e Fluxos de Financiamento Emergentes para SbNs.
• O investimento em SbNs alcançou US$ 9,3 bilhões em 2023, impulsionado quase inteiramente por governos (97%), com mais de US$ 52 bilhões comprometidos por meio de políticas futuras – embora a implementação futura seja incerta em razão de possíveis cortes no orçamento federal. Também os mecanismos orientados pelos usuários e baseados no mercado, como serviços hídricos, programas de comercialização e fundos florestais estão crescendo, apesar de os dados privados permanecerem limitados.
• Oceania – impulsiona a inovação mediante mecanismos baseados no mercado e Liderança Indígena
• O investimento em SbNs chegou a US$ 261 milhões em 2023, liderado pela Austrália (US$ 165 milhões) e Nova Zelândia (US$ 89 milhões) tendo os volumes de investimento aumentado 3,4 vezes desde 2013. O investimento governamental predomina (97%), com programas importantes, como Reef Trust e Urban Rivers da Austrália. O programa Jobs for Nature da Nova Zelândia comprometeu mais de US$ 700 milhões em projetos ambientais que criam oportunidades econômicas.
Gabriel Orion - Approach (gabriel.orion@approach.com.br)