PANACEA foi concebida para integrar estudos epidemiológicos realizados com base no monitoramento de esgotos

Cientistas de 14 países vão produzir dados em tempo real a partir de monitoramento de esgotos


A PANACEA – Rede Pan-Americana de Epidemiologia Ambiental, lançada nessa semana, foi concebida para integrar estudos epidemiológicos realizados com base no monitoramento de esgotos, com geração de dados em tempo real, com o objetivo de detectar riscos microbiológicos e químicos nos países da América Latina.

A Rede visa desenvolver e implementar novas ferramentas moleculares para aplicação em epidemiologia ambiental, além de formar profissionais capazes de produzir, analisar e interpretar esses dados.

No Brasil, além da CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo e do Laboratório de Virologia Aplicada da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, pontos focais da Rede, integram o projeto a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz/RJ; Universidade FEEVALE/RS; e Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

“O trabalho em rede é essencial para o fortalecimento das instituições e construção de capacidade técnico-científica para o enfrentamento da pandemia, como de outras ações de vigilância ambiental em uma região vulnerável, como a América Latina. A CETESB, com seu esforço local, vai colaborar para a consolidação da Rede”, afirma a diretora-presidente da agência ambiental paulista, Patrícia Iglecias

Segundo o diretor de Engenharia e Qualidade Ambiental da CETESB, Carlos Roberto dos Santos, a companhia emprega a vigilância ambiental em esgoto no estado de São Paulo desde os anos 70, como sistema de alerta à vigilância epidemiológica de cólera e poliomielite. “Mais recentemente, também atuamos para identificar outros patógenos de veiculação hídrica como hepatite A, vírus entéricos, Cryptosporidium, Giardia etc. Esse trabalho é realizado em parceria com a Vigilância Epidemiológica do Estado e com a SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado.”

No total, participam da PANACEA 14 países latino-americanos representados por instituições governamentais e acadêmicas. A iniciativa conta com a colaboração da University of Newcastle, Universidad de Santiago de Compostela, Instituto Karolinska e MGI Tech.

Além dessas instituições, também recebe apoio do Northumbrian Water Group e do Suez Group, que desejam expandir as atuais capacidades analíticas dos países da América Latina e do Caribe, para implementar os programas de Epidemiologia Baseada em Águas Residuais (WBE).
O projeto de cocriação da Rede, liderado pela University of Newcastle, começou a sequenciar amostras históricas e contemporâneas em toda a América Latina para determinar as variantes do SARS-CoV-2 que circulam na região.

A pesquisa avalia a prevalência em tempo real e as variantes genômicas do vírus nas principais cidades do continente. A equipe ainda se prepara para expandir o trabalho da Rede com o AMR – Monitoramento Resistência Antimicrobiana e outros agentes infecciosos, bem como para realizar análises de microbioma usando o serviço Rocket High-Performance Computing, da Newcastle University.

Os técnicos consideram que a PANACEA é uma forma de fortalecer e dar sustentabilidade à epidemiologia baseada em monitoramento de esgoto na Região da América Latina, por permitir avaliar a exposição da comunidade a contaminantes, praticamente em tempo real. “A ferramenta é uma sentinela que emitirá alerta precoce suplementar de suma importância à vigilância epidemiológica em saúde”, afirma Maria Inês Zanoli Sato que, em conjunto com a gerente da Divisão de Microbiologia e Parasitologia, Mikaela Renata Funada Barbosa, coordenam o projeto pela CETESB.

Mikaela acrescenta que a Rede proporcionará avanços no sequenciamento genético das variantes que circulam entre a população. “Esse trabalho tem sido um grande desafio, mas é essencial para apoiar as ações de combate a COVID-19. O esforço dos cientistas da região, em colaboração internacional, permite construir capacidades analíticas necessárias para o enfrentamento da pandemia e de outras ações de vigilância ambiental”, conclui.

 

Texto: Cris Olivette.
Revisão: Cristina leite
Fotografia: Divisão de Amostragem e Mikaela Renata Funada Barbosa – CETESB

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