Sessão especial da Brazil Water Week debate o tema “Água – Direitos Humanos e esperança”

Especialistas trouxeram o questionamento perante o fornecimento de água para as pessoas e como devemos proteger esse recurso hídrico


Por Jéssica Marques 

Uma sessão especial da Brazil Water Week  (Semana da Água no Brasil), realizada nesta quinta, 15 de outubro, tratou do tema “Água – Direitos Humanos e esperança”. O webinar reuniu diversos especialistas no tema para falar sobre o direito humano à água potável e saneamento, reconhecido pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). 

A sessão integra o Tema 1 do evento, que é “Água, Esgoto e Saúde para todos”, e faz parte da série de webinares gratuitos que acontecerão até 22 de outubro, antecedendo a BWW, mais importante evento internacional sobre água realizado no País. A realização conta com patrocínio da Sabesp, Miya, ANA, Suez, Aegea, Cedae e Iguá Saneamento.

A moderação do webinar foi feita por Adriano Cândido Stringhini, diretor de Gestão Corporativa da Sabesp. 

“Em pleno século 21, em que estamos nesse evento virtual, muitos com celulares com a última tecnologia, temos acesso a enciclopédias inteiras nas palmas das nossas mãos e infelizmente temos milhões de seres humanos que não possuem acesso à infraestrutura mais básica: a água. Água potável para beber e até para lavar as mãos nesse momento de pandemia. É disso que estamos falando nesse painel. É algo que nos entristece e que cobra uma posição de autorresponsabilidade e urgente, uma ação de todos nós”, ressaltou Stringhini, durante a abertura da sessão.

Além disso, Dom Claudio Hummes, cardeal emérito de São Paulo, também fez considerações sobre o tema. “Na abertura do Sínodo [da Amazônia], em Roma, nós afirmamos que a água é um capítulo importante, porque é indispensável para a vida humana e para a manutenção dos ecossistemas terrestres e aquáticos. A escassez de água é uma ameaça crescente em todo o planeta. O problema não é algo de detalhe marginal, mas sim algo fundamental e urgente. A água é vida material e espiritual. Essa pandemia que parece interminável, deve nos obrigar a trabalhar nos aprendizados institucionais para a resiliência e a mudança urgente”, considerou.

Na ocasião, Patricia Gualinga, referente ambiental Líder del Pueblo Sarayaku e membro da Rede Eclesial Pan-Amazônica, do Equador, compartilhou reflexões sobre a importância da Amazônia no abastecimento de água.

“Como eu venho da Amazônia, é importante refletir ao se dizer que esse ecossistema depende de uma das maiores fontes de água doce do planeta. Devemos entender a Amazônia como isso, uma das fontes de água doce mais importantes. Partindo dessa reflexão, quero dizer que o ecossistema amazônico, com uma grande biodiversidade, que é importante para a água, sempre está sob ameaça de grandes indústrias extrativistas, petróleo, mineração, hidrelétricas, que de alguma maneira querem danificar esse perfeito ecossistema”, disse.

Por sua vez, Enrique Cresto, administrador del Ente Nacional de Obras Hídricas de Saneamiento falou sobre política de água e saneamento na Argentina e detalhou como funciona o governo local neste setor.

“Sou administrador do ente nacional de obras hídricas e de saneamento da República Argentina, que é um organismo que foi criado para democratizar o acesso à água, criado para redistribuir acesso à água e ao saneamento”, disse.

Sandoval Alves Rocha, assessor do Foro del Agua de la ciudad de Manaos Representante del servicio del Servicio Amazónico de acción social, reflexión y Educación – SARES, falou sobre o processo de privatização e as dificuldades enfrentadas no estado do Amazonas no setor de saneamento.

“Quando houve o processo de privatização, no ano 2000, criamos também a Agência Reguladora De Saneamento Do Estado Do Amazonas, que fiscalizou até 2017. A partir de 2017, ingressou uma outra agência, municipal, que começou a fiscalizar. Mas o que a gente percebe ao longo desses 20 anos é uma clara atitude de uma certa conivência com as quatro empresas que foram se sucedendo. É uma clara convivência no sentido que a gente vê muitas reclamações por parte dos próprios moradores”, relatou.

Durante a sessão especial, Luis Liberman, fundador e diretor do Instituto Para el Diálogo Global y La Cultura del Encuentro, da Argentina, afirmou que os desafios ambientais têm um caráter moral, ético, social, econômico e espiritual.

“Devemos estar focados na base de todo o propósito. Sabemos que a educação deve ser contínua, permanente e de qualidade ao longo da vida da pessoa, portanto devemos entender que se acontece ao longo da vida, devemos estar prontos para novas cidadanias e entender que a base da sociedade, que vai melhorar nossas democracias e formar novas cidadanias, é o desafio por parte da educação. Nós somos um projeto de criação de um instituto universitário de água e saneamento da educação superior e aspiracional, com aceitação de praticamente 95% das sociedades e não é 95% das sociedades as que têm acesso à universidade”, afirmou Liberman.

Também da Argentina, Gabriela Sacco, fundadora e diretora executiva do Instituto Para el Diálogo Global y La Cultura del Encuentro, falou sobre a questão dos fundos multilaterais e financiamento de dívidas.

“A questão do financiamento, acho que não apenas para as questões próximas e exclusivas sobre água, mas a partir de uma visão mais ampla, demonstra que há uma interconexão, inclusive da mesma questão do aquecimento global e o papel dos fundos de investimento e de pensão, para a possiblidade de avançar mais rapidamente para eliminar as emissões de carbono”, avaliou.

Por sua vez, José Luis Lingeri, presidente da Fundación de los Trabajadores Sanitaristas para la Formación y el Desarrollo, falou sobre o Dia Mundial de Lavar as Mãos, celebrado nesta quinta-feira, 15, e o que mudou mundialmente com a pandemia de Covid-19.

“Devemos entender que o mundo mudou. Já não é o mesmo mundo que conhecíamos antes da pandemia, que trouxe uma série de problemas sociais, de saúde, de educação, da questão dos relacionamentos humanos. Hoje em dia somos prisioneiros dessa pandemia, praticamente, e vemos como no mundo ficou reconfigurada a questão econômica e de financiamento mundial.

Para representar a Rede Eclesial Pan-Amazônica, o secretário executivo João Gutenberg Coelho falou sobre a causa da rede, que é a ecologia integral a partir de uma ótica amazônica, e a relação com as dificuldades evidenciadas pela pandemia.

“Nós temos um ambiente também que precisamos reforçar a esperança, senão a gente desanima. Mas não é uma esperança passiva, mas ativa, que propõe ações. Nosso tema da questão da água está em um ambiente onde o Papa Francisco convoca um pacto global pela educação. Que educação queremos para essa ecologia integral? E também convoca uma reflexão sobre a economia, convoca especialmente os jovens a pensar novos modelos de economia. E creio que seja um fio condutor de toda a problemática que nós refletimos nesse fórum nessa tarde. Que modelos nós queremos de vida, com a economia a serviço da vida?”, questionou.

Além destes pontos, outros tópicos foram abordados durante a sessão especial. O conteúdo pode ser acessado gratuitamente, na íntegra: versão em português, English version e versión en español

Sessões especiais

Promovida pela ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, a Brazil Water Week fará, ao todo, nove sessões especiais online, abertas ao público e gratuitas, abordando diversos assuntos ligados à universalização dos serviços de saneamento no Brasil.

O próximo encontro está marcado para o dia 20 de outubro, às 14h, e terá como tema “ESG, Liderança Sustentável e Estratégias Integradas: os 2 lados da mesma moeda”. Clique aqui, confira a programação completa e faça já sua inscrição. 

Brazil Water Week

Durante uma semana, de 26 a 30 de outubro, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES promoverá em plataforma digital a Brazil Water Week (Semana da Água no Brasil), o mais importante evento internacional sobre água realizado no Brasil.

Durante os cinco dias de transmissão online, convidados de países da Europa, América, África e Ásia estarão reunidos para discutir a água em seus diversos aspectos e apresentar experiências, com foco no ODS 6 da ONU: Água e Esgoto para todos até 2030.

Ao todo, serão 26 sessões, divididas em 8 temas principais, mais de 50 horas de conteúdo online e mais de 100 palestrantes. As inscrições para o evento podem ser feitas neste link.

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