Reúso Indireto da água: Benefícios e principais métodos

O crescimento populacional, o aumento na necessidade de água para abastecimento, agricultura de maior escala e a criação de mais indústrias, por exemplo, consomem cada vez mais água. Ademais, estudos climáticos mostram riscos de secas severas em algumas


Reúso Indireto da água: Benefícios e principais métodos

O crescimento populacional, o aumento na necessidade de água para abastecimento, agricultura de maior escala e a criação de mais indústrias, por exemplo, consomem cada vez mais água. Ademais, estudos climáticos mostram riscos de secas severas em algumas regiões, potencializando a questão da falta desse recurso tão importante.
Nesse sentido, a reutilização ou o que chamamos de reúso de água é cada vez mais comum, recuperando e tratando a água de diversas fontes para ser utilizada com fins benéficos, ou seja, trata-se de um processo onde a água pode ser reutilizada para outros propósitos, como irrigação, limpeza de ruas, viveiros de plantas etc, tendo como principal foco diminuir o desperdício de água potável.
De acordo com Alexandre Rocha, diretor técnico da Fusati, a reutilização de água pode ser direta ou indireta, decorrentes de ações planejadas ou não. “A principal diferença entre o reúso indireto e o reúso direto é o ponto de descarga do efluente após seu tratamento na forma como a água é utilizada ” - explica. 
No reúso direto, o uso é planejado e deliberado de esgotos tratados para certas finalidades, sendo totalmente específico. O reúso indireto, por sua vez, após descarga nos corpos hídricos, pode ter diversas e  indefinidas aplicações. 
Atualmente o reúso direto não é suficiente, pois atende apenas algumas aplicações específicas, assim, as opções de reúso indireto se tornam mais relevantes. Uma vez que o alcance é maior, consequentemente traz uma eficácia maior na mitigação do risco de escassez hídrica e redução dos potenciais impactos.

Reúso Indireto da água: Benefícios e principais métodos

Reúso indireto Não planejado: ocorre quando a água, já utilizada uma ou mais vezes em alguma atividade humana, é lançada no ambiente e novamente utilizada a jusante, de maneira não controlada, ou seja, após o efluente ser lançado em um corpo hídrico, ele será diluído e estará sofrerá os processos de autodepuração, sedimentação, além de eventuais misturas com outros despejos.
“Resumindo, a água utilizada em atividades humanas é descarregada no meio ambiente e reutilizada de forma diluída, de maneira não intencional  e  não controlada. Ao caminhar até o ponto de captação para o novo usuário, a mesma está sujeita a diluição e depuração” - complementa Luiz Carlos Xavier, responsável pela adaptação às mudanças climáticas e governança hídrica na Braskem.
Reúso indireto Planejado: ocorre quando os efluentes, depois de tratados, são lançados de forma planejada nos corpos d’água superficiais e subterrâneos, para serem utilizados de forma diluída, porém controlada para obtenção de uma água com melhor qualidade. A água tratada é despejada em rios, lagos e outros corpos hídricos.
Neste caso, o reúso indireto planejado admite que existe algum controle sobre as novas descargas que ocorrem durante o caminho, não alterando os requisitos de qualidade de reúso objetivado. “Pressupõe que além do controle do tratamento antes do descarte, também se tenha um eventual controle de novos lançamentos no percurso” - enfatiza Alexandre Rocha.

Reúso Indireto da água: Benefícios e principais métodos

Reúso indireto e seus benefícios 
O reúso indireto da água desempenha um papel fundamental na gestão sustentável dos recursos hídricos. Ao reduzir a demanda por captação de água e preservar os mananciais naturais, ele contribui significativamente para enfrentar a escassez de água e promover a sustentabilidade ambiental. 
O manejo da água no ciclo do chamado reúso indireto planejado desencadeia uma série de benefícios ambientais, sociais e econômicos. Além disso, há uma relevância adicional devido à possibilidade de uso pela sociedade, até porque em situações de secas severas o impacto será para todos os usuários, não somente para a indústria e agricultura.
Alguns benefícios ambientais estão associados à redução da captação de águas superficiais e subterrâneas, possibilitando uma situação ecológica mais equilibrada, aumento da disponibilidade de água para usos mais exigentes, como abastecimento público, hospitalar e outros. 
Quanto aos benefícios econômicos, temos a redução dos custos de produção, o aumento da competitividade da rede empresarial, com uma legislação adequada e a habilitação para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da cobrança pelo uso da água. Xavier explica que quando uma empresa se compromete com a segurança hídrica e o consumo consciente da água, ela está melhorando a disponibilidade operacional de água.
Nos benefícios sociais, por sua vez, podemos citar a ampliação da oportunidade de negócios para as empresas fornecedoras de serviços e os equipamentos, e em toda a cadeia produtiva, a ampliação na geração de empregos diretos e indiretos, a melhoria da imagem do setor produtivo junto à sociedade, com reconhecimento de empresas socialmente responsáveis, e principalmente a redução de potenciais conflitos pelo uso de água.
“Além da conservação dos mananciais e dos ecossistemas, essa forma de reúso contribui com a segurança hídrica (manutenção do abastecimento de água das cidades e do setor produtivo), com a redução do desperdício, a minimização da escassez de água em regiões áridas, a redução de substâncias poluentes nos cursos d’água e a qualidade da água bruta” - complementa Rocha. 
Vale observar ainda que o reúso indireto planejado, quando bem executado, é um processo que atende as diretrizes técnicas e a legislação vigente relacionadas ao padrão de lançamento de efluentes (Resolução CONAMA Nº 430/2011). Ou seja, diz respeito à conformidade legal ambiental. 
Na esfera da gestão institucional, na medida em que aprimora um processo ambiental, o reúso indireto apoia a implantação e a prática das políticas ESG (Environment, Social and Governance) nas empresas.    

Reúso Indireto da água: Benefícios e principais métodos

Reúso Indireto da água: Benefícios e principais métodos

Sustentabilidade e ações na prática
A princípio, toda forma de reúso da água é uma ação sustentável, mas Rocha destaca que o indireto é aquela modalidade que colabora decisivamente com a reposição da água/efluentes tratados nos corpos d’água, ou seja, no local de origem da água bruta anteriormente captada. 
Portanto, é um processo ambiental fundamental, já que fomenta o ciclo hidrológico completo e sustentável. Mas isso só acontece quando a descarga de efluentes em rios e outros mananciais é feita com responsabilidade e ética ambiental, ou seja, quando o efluente é devidamente tratado e apresenta qualidade igual ou superior a da água do manancial. 
“Sem dúvida, o reúso é uma prática fundamental para colaborar com a sustentabilidade no que se refere ao uso consciente de um recurso vital para a sociedade. Com diferentes ações e atitudes é possível reduzir e/ou otimizar o consumo” - afirma Alberto Abdu, gerente Corporativo de Sustentabilidade da Bosch América Latina.
Segundo ele, desde a fundação da empresa, as questões ambientais, sociais e de governança corporativa são intrínsecas aos valores e às ações do Grupo Bosch. Assim, a sustentabilidade na empresa é baseada em objetivos concretos em todas as áreas de ESG e, globalmente, tem uma estratégia com seis pilares: proteção climática, água, economia circular, saúde e segurança, direitos humanos e promoção social e DEI (diversidade, equidade e inclusão).
Além disso, o grupo também tem definido metas robustas dentro do conceito de ESG e totalmente alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), tanto no que se refere aos seus processos produtivos, ao ambiente de trabalho quanto à criação de produtos e serviços que ajudam a melhorar a vida das pessoas. 
Na questão ambiental, o gerente ressalta que a empresa atua para garantir o sucesso dos negócios e, ao mesmo tempo, para preservar recursos naturais às gerações atuais e futuras. 
“Na planta da Bosch em Campinas temos uma iniciativa de autossuficiência no abastecimento de água industrial que trouxe para a unidade autonomia no abastecimento de água para os seus processos fabris por meio de um plano de gestão hídrica que resultou na redução de 50% do consumo para as atividades industriais e ainda garante que a água de boa qualidade seja utilizada apenas em casos que requerem condições de potabilidade” - conta Abdu.
Além disso, as medidas para reaproveitamento de água na Bosch envolvem demais ações focadas na preservação dos recursos hídricos, como: novos conceitos visuais de redes de hidrantes para facilitar a detecção e correção de vazamentos, bem como a redução da evaporação do sistema de água industrial.
Ademais, em 2021, a empresa foi vencedora do 15º Prêmio Fiesp/Ciesp de Conservação e Reúso de Água na categoria grande porte, com o case “Autossuficiência no Abastecimento de Água Industrial”. A iniciativa utiliza sistemas capazes de reutilizar parte do que é descartado como efluente, é feita a recirculação da água em processos produtivos. 
Em paralelo, a água potável das unidades, após ser utilizada nos restaurantes, lavatórios e chuveiros, por exemplo, é reutilizada na produção fabril ou direcionada até uma estação de tratamento de esgoto localizada dentro da empresa. “O trabalho também contempla o reaproveitamento da água da chuva, assim, cada pingo é canalizado até um lago artificial, cuja capacidade é de 65 milhões de litros” - detalha Abdu.

Reúso Indireto da água: Benefícios e principais métodos

Ele conta ainda que para que o projeto fosse viável, foram realizadas diversas ações de melhoria que garantiram a disponibilidade de água de reúso mesmo diante de uma estrutura fabril tão complexa. Além de todo o trabalho de gestão da água em toda a planta, os próprios colaboradores foram treinados e conscientizados sobre a importância do uso responsável da água, seja no trabalho ou em casa.
“A conquista do prêmio Fiesp/Ciesp é um importante reconhecimento do nosso compromisso com a preservação do meio ambiente e uma forma de inspirar outras empresas sobre a importância do tema e como é possível ter soluções que reduzem e otimizam o uso sustentável do recurso hídrico” - destaca o gerente da empresa.
O fato é que, o reúso indireto é um processo imprescindível quando se pensa na circulação, distribuição e manutenção dos estoques da água bruta para a garantia das mais diversas atividades e necessidades humanas. 
“Em tempos de mudanças climáticas, e do registro crescente de eventos extremos relacionados ao desequilíbrio ambiental global, a importância do reúso indireto é superlativa e vital, no sentido de assegurar as reservas hídricas e, consequentemente, o abastecimento da população e das atividades econômicas” - afirma Rocha. 
Por outro lado, é importante destacar que em ambos os tipos de reúso são estratégias importantes para enfrentar a escassez de água e promover a sustentabilidade. A escolha entre o direto e indireto dependerá das características locais, regulamentações, qualidade da água necessária e a aceitação social das práticas de reúso. As práticas de gestão da água devem ser adaptadas às condições específicas de cada região.
Na Braskem, por exemplo, é utilizada a técnica de reúso direto pela natureza dos processos. A tecnologia é feita por meio da parceria com a Aquapolo, principal responsável pela produção de água de reúso industrial na América do Sul e quinta maior do mundo. 
O diferencial significativo do projeto é o uso dos efluentes secundários da Estação de Tratamento de Esgoto ABC, da Sabesp, como matéria-prima para a produção contínua de água industrial de alta qualidade. Uma parte dos efluentes secundários, que originalmente seriam descartados no Córrego dos Meninos, é coletada para passar por tratamento terciário nas instalações produtivas da Aquapolo. 
Esse recurso tratado é então empregado em diversos processos, o que reduz significativamente a necessidade de água potável em aplicações industriais. Essa abordagem desempenha um papel relevante na promoção da sustentabilidade ambiental na região metropolitana de São Paulo. 
E quando o assunto é sustentabilidade e economia de água, a Braskem não mede esforços e alternativas para preservar esse recurso tão importante. Recentemente, a empresa participou do congresso mundial do PVC, em Edimburgo, para falar sobre as principais inovações e tendências futuras do PVC, além da cadeia de produção do material. 

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Um dos pontos abordados foi a utilização de aditivos mais modernos, muitas vezes derivados de fontes renováveis, tais como plastificantes produzidos à base de óleos vegetais modificados e para os quais o Brasil já tem posição de muita vantagem competitiva frente ao restante do mundo, além de sermos líderes em seu uso. 
Ademais, foram apresentados movimentos significativos da indústria no sentido da reciclagem. E não somente a mecânica, mas também inovações que começam a ganhar escala na reciclagem avançada (para a produção de matérias primas com objetivo de ter o PVC virgem novamente) e na química (por exemplo, com a reciclagem das matérias primas de garrafas PET para plastificantes reciclados).
Para quem não sabe, as soluções em PVC para saneamento, sejam para adução, distribuição de água potável ou sistemas para coleta e afastamento de esgotos, são bastante reconhecidas no Brasil, com longo histórico de sucesso no uso. A estabilidade química do PVC garante extrema durabilidade aos sistemas, o que aliado à total estanqueidade, reduz nos sistemas de adução e distribuição de água potável as perdas e traz maior segurança de proteção ao solo nos sistemas de esgoto. 
A tecnologia de montagem dos sistemas via ponta/bolsa/anel elastomérico permite, além da total intercambialidade com os sistemas tradicionais de ferro fundido, a facilidade nas montagens/instalações bem como manutenções rápidas e simples.
“A redução de perdas de água potável pode ser muito conquistada com a presença de soluções em PVC, já que a resistência mecânica de longo prazo, a durabilidade e a eficiência dos sistemas ponta/bolsa/anel são fortes aliados neste processo. Além disso, com a reciclagem do plástico, menos recursos naturais são demandados na produção de matéria-prima virgem, o que já representa uma importante economia de recursos, incluindo água” - enfatiza Antonio Rodolfo Jr, gerente de engenharia de aplicações e desenvolvimento de mercado da Braskem, que na ocasião esteve presente no evento. 
 

Contato das empresas
Bosch:
www.bosch.com.br
Braskem: www.braskem.com.br
Fusati: www.fusati.com.br