Efluentes são novas fontes de água para o planeta, não mais resíduos

A poluição em rios e represas escancara que é necessário limpar e tratar a água para usá-la e reusá-la. A poluição das águas superficiais e subterrâneas e a escassez de água forçaram o mundo a reutilizar água. Para diminuir o consumo de água potável


Efluentes são novas fontes de água para o planeta, não mais resíduos

A poluição em rios e represas escancara que é necessário limpar e tratar a água para usá-la e reusá-la. A poluição das águas superficiais e subterrâneas e a escassez de água forçaram o mundo a reutilizar água. Para diminuir o consumo de água potável em atividades menos nobres, reduzir a captação nos corpos hídricos e aumentar a água disponível, cresce o reúso de água, que reduz custos onde o valor do metro cúbico de água potável é alto. As certificações ambientais nas edificações disseminam o reúso. 
Aumento da população, expansão urbana e desenvolvimento industrial fizeram a demanda por água crescer. “A adoção de reúso reduz o impacto ambiental de projetos de grande escala, como represas e transposições de rios” – ressalta Emílio Bellini, diretor da Alphenz. 
Não são mais viáveis apenas fontes tradicionais. “O reúso de água é reconhecido junto da dessalinização como novas fontes de água para garantir o abastecimento futuro da população mundial” – aponta Thiago Forteza de Oliveira, diretor de operação da General Water.
Ainda há problemas de aceitação pública do reúso para fins potáveis. “Cada vez mais, os efluentes têm sido considerados como recursos hídricos, e não como resíduos. Essa mudança de visão é recente e se acentuou na última década” – pontua. Segundo ele, nos EUA, as Estações de Tratamento de Esgoto estão mudando nome para Estações de Recuperação de Recursos Hídricos, ficando clara a mudança de visão sobre os efluentes. “O reúso de água será cada vez mais praticado nas diferentes regiões do mundo” – afirma Thiago de Oliveira.
O reúso mitiga a escassez de água nas regiões áridas e semiáridas. “Os reúsos direto e indireto fazem parte de estratégia eficaz para regiões com escassez. Estes métodos maximizam a água disponível e estendem o ciclo de uso da água” – diz Bellini.
Reciclar a água diminui pressão sobre rios, lagos e aquíferos limitados pelo uso excessivo e contaminação. “Para cidades e indústrias, o reúso direto oferece fonte confiável e sustentável às atividades econômicas sem comprometer ecossistemas aquáticos. Na agricultura, a água tratada supre a irrigação para segurança alimentar sem esgotar fontes de água doce” – destaca Bellini. 
A conscientização da sociedade reduziu a aversão à água de reúso. Os avanços da tecnologia facilitaram a produção de água reutilizada de melhor qualidade. Tratamento e monitoramento da qualidade com sensores que transmitem dados por telemetria para controle a distância torna a água segura e eficiente, expandindo o reúso para mais aplicações. As tecnologias podem ser combinadas para atingir metas de reúso. 
As regulamentações protegem a Saúde Pública e os ecossistemas e a população entender melhor o que é uso sustentável da água. “O reúso indireto é versátil na resposta aos desafios hídricos globais” – menciona Thalita Flávio da Silva, analista comercial da Gmar Ambiental. 
No Brasil e em São Paulo, o reaproveitamento potável direto e indireto são saídas ao crescimento populacional, água potável poluída e secas. O bom é que o reúso atenua os problemas de escassez em diversas regiões brasileiras, principalmente nos grandes centros urbanos. Agora, a escolha entre reúso direto e indireto é multifatorial e exige avaliação criteriosa.

Empresas
A Petrobras pretende intensificar a substituição de água doce nova por água de reúso. “Um dos compromissos de ESG da empresa, reafirmado no Plano Estratégico 2024-2028, é o de reduzir a captação de água doce nas operações em 40% até 2030 comparado a 2021. Parte será alcançada por carteira de ações nas quais o reúso responde por cerca de 80% da redução prevista” – afirma Daniele Lomba, gerente-geral de licenciamento e conformidade ambiental da Petrobras.
A nova meta da Vale até 2030 inclui disponibilidade, qualidade, acesso à água e fluxo ecológico nas bacias hidrográficas onde atua. A empresa tem ações para controle de perdas, uso eficiente, redução de consumo e recirculação. Para a bacia hidrográfica, trabalha em parceria com o governo para que não falte água e colabora na preservação, controle de nascentes, purificação e tratamentos de erosão. A Vale alcançou sua meta de 10% de redução do uso de água em 2021 e, em 2022, pela segunda vez consecutiva, recebeu pontuação acima da média em mineração na avaliação CDP Segurança Hídrica. 

Urgência hídrica
O reúso da água é fundamental até para preservar a raça humana. “97% da água do planeta é salgada e está nos oceanos. Sobram 3% de água doce, mas 2,5% estão em geleiras, que não se tem acesso. Somente 0,5% é água doce para consumo e a maioria está nos aquíferos subterrâneos. Parece bastante, mas água para nosso cotidiano é muito pouca e tem usos múltiplos” – fundamenta o doutor em química analítica Wilson Tadeu Lopes da Silva, pesquisador de química ambiental e saneamento básico rural da Embrapa Instrumentação. 
Ficará mais evidente que reusar é preservar o meio ambiente. “Se não fizermos o máximo possível de reúso, chegará o momento em que a demanda por água no planeta superará a capacidade de fornecê-la à população – explana. 
O reúso da água faz parte das estratégias sustentáveis das indústrias. “A reutilização da água traz grandes benefícios e economia às empresas” – destaca Marcus Vallero, gerente de desenvolvimento de negócios da Veolia Water Technologies & Solutions para soluções de Reúso de Água & Waste-to-Biogas. 
O reúso traz economia de água e de gastos com ganhos ambientais aos empreendimentos. “À medida que se substitui água potável por água reciclada é possível atender mais consumidores com o mesmo volume de água. A substituição parcial da água potável por água de reúso é tendência irreversível” – afirma Sibylle Muller, CEO da NeoAcqua. 

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O reúso direto é decisivo à segurança hídrica regional. “Confiança e aceitação pública são essenciais para seu sucesso e expansão, exigindo esforços contínuos em educação, regulamentação e inovação tecnológica” – enfatiza Bellini, da Alphenz.

Eficiente, menos poluído 
Para o Prof. José Carlos Mierzwa, da engenharia hidráulica e ambiental da Escola Politécnica da USP: “Independentemente de se fazer reúso da água ou não, o uso de tecnologias mais eficientes reduz a poluição dos corpos hídricos naturais. A perda da qualidade de água de um manancial tem impacto econômico para a população muito maior do que os custos para tratamento de efluentes, sejam eles para reúso ou não” – adverte.
Trabalhar com reúso necessita ter critérios e conhecimento técnico. “Não pode contaminar o ambiente, a população, o trabalhador que manuseia. Qualquer tipo de doença precisa ser evitada” – enfatiza Wilson Tadeu. Segundo ele, é feito pouco reúso no Brasil. “Com as mudanças climáticas, esse cenário vai mudar. O aumento de eventos e secas extremas mostra a urgência de empregar o reúso no Brasil e no mundo” – alerta o pesquisador da Embrapa.

Reúso direto 
Após uso em uma aplicação, a água residuária gerada passa por tratamento para ser reaproveitada em níveis adequados em nova aplicação. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) define reúso direto ao tratamento e reutilização dos efluentes industriais ou esgoto municipal em aplicações industriais, irrigação e até abastecimento de água potável, se a norma vigente permite. Reúso direto para a gestão sustentável de recursos hídricos: 
• Economiza água; 
• Reduz a poluição; 
• Minimiza os impactos sobre os ecossistemas aquáticos; 
• Reciclar a água de forma segura e eficaz supre a demanda por água em áreas com escassez hídrica e conserva os recursos naturais. 
Fonte: Gmar.
A água de efluentes domésticos, industriais ou agrícolas passa por tratamento. Depois de tratados, os efluentes seguem do seu ponto de descarga até o local para ser reutilizado na aplicação desejada sem descarte no meio ambiente antes de seu uso. Numa agroindústria, a água tratada volta ao processo industrial. Na agrícola, a água residuária é tratada e reutilizada em irrigação. 
O reúso potável direto é planejado e seu efluente tratado pode ser usado para fins potáveis, com ou sem mistura com outras fontes potáveis, ou enviado à Estação de Tratamento de Água (ETA), onde será misturado com água bruta de manancial superficial ou subterrâneo para produzir água potável. 
Mediante tratamento para atender aos padrões de qualidade de água para cada uso, o reúso direto pode ser aplicado para:
• Recarga de aquíferos; 
• Até para fins potáveis ao consumo humano após tratamento avançado;
• Irrigação agrícola, fonte sustentável em áreas com limitações de água;
• Empreendimentos comerciais: nos shopping centers, para troca térmica, processos auxiliares e sanitários;  
• Industriais: água tratada para resfriamento, refrigeração, caldeiras, processamento, lavagem e outras aplicações diminui dependência de águas superficiais e subterrâneas;
• Aquicultura, produção de pescados e dessedentação animal;
• Diversos: construções e controle de poeira;
• Irrigação paisagística: parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de autoestradas, campus universitários, cinturões verdes e gramados residenciais;
• Irrigação para cultivos: plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos, plantas alimentícias, plantas ornamentais e proteção contra geadas;
• Urbanos não potáveis: combate ao fogo, vasos sanitários, ar condicionado, lavagem de veículos, ruas e pontos de ônibus etc; 
• Conservação de recursos naturais, fauna, flora etc.
Fontes: Alphenz, Embrapa, Gmar, NeoAcqua e Veolia.

Reúso indireto 
No reúso indireto, a água é reintegrada aos sistemas naturais. A água usada gera efluentes que são lançados, com ou sem tratamento, em corpos d’água onde a natureza degrada contaminantes. Pode ser planejado captá-la e usá-la em várias aplicações, inclusive abastecimento público. A água tratada dos efluentes domésticos, industriais ou agrícolas volta aos rios, lagos ou aquíferos. Depois, é captada e passa por tratamento novamente para uso. Etapa natural ou artificial de diluição ou adicional no meio ambiente melhora sua qualidade antes da reutilização. São dois tipos de reúso indireto:
• Reúso indireto planejado: água é infiltrada em aquíferos ou reintegrada aos corpos hídricos para uso posterior. Seu efluente tratado segue para rios, lagos ou aquíferos, de onde a água é captada e segue para ETA. Efluentes industriais ou esgoto municipal são tratados e descarregados de modo planejado e controlado nas águas superficiais ou subterrâneas para reúso diferente do original. O reúso indireto planejado requer controle sobre novas descargas de efluentes para que o efluente tratado seja misturado com outros efluentes que atendam aos requisitos de qualidade da água reciclada desejada.
Exemplo de reúso indireto planejado e controlado de água potável da Califórnia (EUA). Efluentes industriais e esgoto municipal são tratados e recarregam  reservatórios subterrâneos, que são monitorados, e suas águas enviadas às unidades de tratamento para produzir água potável e amplo espectro de usos. 
Reúso indireto não planejado: de forma incidental, fica sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico, como diluição e autodepuração. Os efluentes tratados são vertidos sem intenção de abastecer de forma controlada o ponto de captação. 
Caso clássico de reúso potável indireto não planejado. “Uma cidade lança efluentes tratados ou não a montante de um rio e outra cidade, a jusante, capta água do mesmo rio para tratamento e produção de água potável” – explica Thiago de Oliveira, da General Water.
Aplicações do reúso indireto: 
• Aumento da disponibilidade de água em áreas urbanas e regiões áridas ou semiáridas onde há escassez de água;
• Aumento da água disponível do manancial para abastecimento público de água potável; 
• Recarga de aquíferos potáveis; 
• Controle de intrusão marinha e de recalques de subsolo;
• Aumento de vazão em cursos de água, aplicação em pântanos, terras alagadas e indústrias de pesca; 
• Suplementação de reservatórios; 
• Aumento dos fluxos de rios; 
• Usos urbanos não potáveis; 
• Reciclagem e uso eficiente da água.
Fontes: Alphenz, Gmar e Veolia.

Diferenças
Para aplicações não potáveis, o reúso direto é usado com maior frequência para atividades industriais e edificações. “As principais preocupações são quanto à definição da qualidade necessária para água de reúso: aspectos técnicos, econômicos, de saúde e potencial para elevar a concentração de contaminantes específicos à medida que o reúso ocorre” – explica Mierzwa, da USP.
A elevação da concentração de contaminantes específicos é negligenciada. “O que compromete atividades, processos ou equipamentos nos quais a água de reúso é utilizada, o desempenho do sistema de tratamento e até inviabilizar o descarte do efluente” – relata Mierzwa. Os critérios para aplicação de reúso indireto para fins potáveis dependem de legislação nacional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já publicou diretriz sobre o assunto (https://www.who.int/publications/i/item/9789241512770).
Segundo Mierzwa, são duas modalidades para reúso potável:
• No reúso direto, água de reúso é injetada na estrutura de distribuição de água para abastecimento; 
• No reúso indireto, é utilizado manancial ou reservatório como atenuador ambiental, sendo, depois, captada para tratamento e distribuição. Condiciona-se à existência de manancial ou reservatório próximo ao local de produção da água de reúso.

Reúso direto
• Empreendimentos residenciais, comerciais e industriais com sistemas descentralizados próximos dos pontos de geração do efluente. Oferta de água restrita aos volumes de efluentes gerados nos empreendimentos;
• Nível de tratamento dependerá dos parâmetros de qualidade da água residuária e dos parâmetros para o reúso que se queira realizar; 
• Exige sistemas de tratamento e monitoramento mais sofisticados para que a água reutilizada atenda aos padrões do uso pretendido. 

Reúso indireto
• Só será possível após descarte em corpos de água e depende dos volumes descartados por concessionárias; 
• Estudar a distância entre os pontos de descarte do esgoto e de captação para novo uso para que a natureza possa degradar contaminantes; 
• Nível de tratamento dependerá dos parâmetros de qualidade requeridos pela nova demanda de água.
Fontes: Gmar e NeoAcqua.
 
Escolha

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A escolha entre reúso direto e indireto engloba aspectos:
• Técnicos;
• Econômicos; 
• Ambientais;
• De Saúde Pública. 
Fonte: Gmar.
Avaliação técnico-econômica:
• Disponibilidade hídrica;
• Qualidade da água; 
• Finalidade de uso a que se destina. 
Fonte: Petrobras.
Os critérios de escolha entre os dois métodos depende de multifatores:
• Objetivos de uso; 
• Disponibilidade de recursos; 
• Regulamentações locais;
• Considerações ambientais;
• Considerações de Saúde Pública.
Fonte: Alphenz.
Soluções de reúso direto, indireto ou combinação das duas e análise de impactos e benefícios definirão estratégia para atingir metas de segurança hídrica no curto, médio e longo prazo. Análise de vulnerabilidades do balanço hídrico e avaliação de riscos e oportunidades das variáveis externas:
• Disponibilidade e qualidade das fontes de água;
• Custos de produção ou tarifas aplicadas pela companhia de abastecimento;
• Marco normativo para descarga de efluentes. 
Análise de variáveis da água demandada:
• Volume e qualidade da água requerida;
• Usos e aplicações; 
• Políticas corporativas de sustentabilidade; 
• Metas de desempenho ambiental; 
• Autossuficiência hídrica.
Fonte: Veolia.

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Visando à maior segurança da qualidade da água potável. “Priorizar o reúso potável indireto porque o efluente tratado passa por atenuação natural de contaminantes por meio da diluição e tempo de retenção no corpo hídrico receptor antes de ser captado novamente para tratamento e distribuição como água potável” – explica Thiago de Oliveira, da General Water. Em regiões extremamente áridas, não se tem corpo hídrico receptor, tornando-se obrigatório reúso potável direto.    
 
Seguro e econômico
O reúso potável direto em larga escala é praticado hoje nos EUA, África do Sul, Singapura e Namíbia para abastecimento público. Este último, em operação desde 1968, é vital à capital Windhoek, que sofre secas severas, assim como outras instalações demonstram que a água tratada dos resíduos domésticos e municipais pode ser usada com segurança e economia para reúso potável. Na figura abaixo, barreiras de tratamento garantem água recuperada que atende aos padrões de água potável superior até à das fontes convencionais.  

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Monitorar a água captada e consumida nos processos industriais otimiza o tratamento para qualidade adequada da água. O reúso direto vem sendo usado nas unidades da Petrobras. “Nas torres de resfriamento, unidades que mais demandam água, nas redes de combate a emergências e na descarga de sanitários” – menciona Daniele Lomba.
A Petrobras já firmou parcerias para adquirir água de reúso externo de esgoto sanitário tratado das concessionárias. Em breve, será usada como água industrial em algumas unidades, caso do Gaslub (RJ), da ETE-São Gonçalo, operada pela Aegea. A partir do segundo semestre de 2026, a unidade deixará de consumir água potável para fins industriais, direcionando-a para consumo humano. 
Hoje, discute-se desenvolver sistemas de tratamento de efluentes com olhar para reúso. “Na agricultura, que não contamine o solo, as plantas, o alimento. Numa indústria, precisa ser adequada às exigências do processo industrial” – ressalta Wilson Tadeu, da Embrapa. Por imagens de satélite, segundo ele, consegue-se ver a preservação do manancial, o fluxo, a vazão e a pressão sobre os corpos da água, captações ilegais, sem outorga, mapear e até modelar qual está sendo usado adequado ou excessivo.
A Veolia vê com otimismo as mudanças normativas do Brasil de reúso para fins industriais, irrigação e reúso indireto potável. “O Plano Nacional de Recursos Hídricos 2022-40 estabelece o reúso como uma das soluções prioritárias para escassez de água, em especial no Nordeste. O Marco Regulatório vem se atualizando no Ceará, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia, onde, na última década, têm sido aprovada legislação que permite ‘reúso direto não potável’ de águas residuais” – informa Vallero. 
Mais recente, projetos industriais com reúso de contato direto com o produto foram implementados em São Paulo e no Paraná. “Órgãos reguladores avaliaram robustez e segurança das tecnologias avançadas na produção de água segura. Estes projetos de reúso direto encorajam outras indústrias a aplicá-lo” – menciona Vallero.

Demandas e desafios
Biorreatores, osmose reversa e desinfecção avançada melhoram a qualidade da água tratada, tornando-a adequada ao reúso indireto. Estas inovações tecnológicas removem com eficiência contaminantes, incluindo micropoluentes e patógenos. Sistemas inteligentes e sensores monitoram e respondem rápido às variações na qualidade da água. Big Data e Inteligência Artificial permitem melhor análise e previsão da disponibilidade e demanda de água.
O reúso indireto recarrega aquíferos em regiões com escassez. “O reúso indireto ajuda comunidades a gerenciar a variabilidade hídrica e a reduzir impactos de secas e enchentes” – expõe Bellini, da Alphenz.
A potabilização indireta libera água tratada em corpos hídricos ou aquíferos antes de ser captada para tratamento e distribuição como água potável. “A liberação controlada de água tratada em rios, lagos e estuários mantém os fluxos ecológicos dos ecossistemas aquáticos em regiões com estresse hídrico” – ressalta Bellini. 
Maiores desafios do tratamento de água para reúso potável direto ou indireto: 
• Controle de qualidade das fontes de contaminação;
• Avaliação de riscos e identificação de perigos; 
• Identificação e validação de medidas de controle; 
• Assegurar a qualidade da água tratada. 
Fonte: General Water.

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Até o presente, não existem iniciativas planejadas de reúso indireto. “A prática corrente é o reúso inconsciente, inclusive para fins potáveis, do lançamento de efluentes com tratamento adequado apenas para atender à legislação brasileira ou sem tratamento, caso dos esgotos domésticos de várias cidades brasileiras” – discorre  José Carlos Mierzwa, da USP.
Em São Paulo, a Cetesb aprovou em dezembro de 2022 a primeira diretiva do País: “Critérios e procedimentos para prática segura de reúso indireto potável de água de reúso de Estações de Tratamento de Esgotos Sanitários”, aumentando a disponibilidade do manancial de abastecimento público. 

Impacto hoje e futuro 
“O reúso direto e indireto são estratégias-chave para garantir um futuro no qual a água esteja disponível de forma sustentável para todos os usos” – afirma Thalita, da Gmar. O reúso direto e indireto são essenciais para:
• Enfrentar a escassez de água; 
• Promover a eficiência no uso;
• Proteger os ecossistemas; 
• Aumentar a segurança hídrica;
• Reduzir a poluição; 
• Desenvolvimento sustentável ao assegurar água suficiente às necessidades presentes e futuras;
• Aumentar a resiliência às mudanças climáticas e aos eventos extremos;
• Incentivar a inovação tecnológica; 
• Conscientizar sobre conservação da água; 
• Impulsionar políticas públicas e regulamentações para sustentabilidade. 
Fonte: Gmar.
A disponibilidade de água em quantidade e qualidade é essencial às operações da Petrobras: na produção e processamento de óleo, gás e derivados para geração de vapor, refrigeração, consumo humano etc. onde são gerados efluentes domésticos e industriais. A companhia empreende esforços para melhoria contínua: 
• Foram utilizados 36 milhões de m³ de água de reúso na Petrobras em 2023;
• Volume que abastece uma cidade de 650 mil de habitantes por um ano; 
• O que reduziu a pressão por água doce nas regiões em que a empresa atua.
“As cidades e as indústrias que já praticam o reúso planejado direto ou indireto ficam menos vulneráveis a eventos climáticos frequentes e impactantes à economia e à sociedade” – afirma Vallero. A Veolia, em 2023, com suas soluções, ajudou indústrias e multinacionais de diferentes setores a reduzir pegada ecológica e criar valor ambiental e de negócio:
• 80 milhões de metros cúbicos de água recuperada;
• US$ 65 milhões em poupanças econômicas operacionais;
• 15 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) em redução de emissões.

Tecnologias
O efluente passa por tratamento terciário para reúso nos processos industriais. São removidos sólidos e sais dissolvidos e utilizadas osmose inversa ou eletrodiálise reversa. A Petrobras racionaliza o uso e adota:
• Tecnologias pouco intensivas no uso da água;
• Minimiza o uso nas operações e processos e reusa;
• Identifica fontes alternativas, conforme disponibilidade hídrica local e viabilidade técnico-econômica e ambiental das ações.
Por meio de parceria com universidades e institutos, a empresa investe em soluções tecnológicas para otimizar o tratamento de água e efluentes. A Petrobras destaca sistemas de reaproveitamento de água* de suas instalações que ultrapassaram 156 mil m³ de água de reúso apenas em 2023:

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Sistemas com carvão ativado, ultrafiltração, nanofiltração e/ou osmose reversa e oxidação avançada, ozônio e/ou peróxido+UV, têm sido usados ou não com coagulação, floculação, sedimentação, flotação e filtração. Múltiplas barreiras associam tratamentos em série, redundância e redução de falha para maior confiabilidade da qualidade da água tratada. 
Para reúso direto e indireto, tecnologias de tratamento avançado garantem que a água atenda aos padrões de qualidade para reutilização em diversas aplicações. Destacam-se:
• Microfiltração e ultrafiltração removem partículas e microrganismos;
• Osmose reversa elimina sais e contaminantes químicos;
• Desinfecção avançada com ultravioleta (UV) e ozônio destroem patógenos e reduzem compostos orgânicos; 
• Biorreatores de membrana (MBR) combinam tratamento biológico e filtração para remover matéria orgânica e nutrientes; 
• Para reúso indireto: adsorção por carvão ativado e oxidação avançada removem micropoluentes e melhoram a qualidade da água. 
Fonte: Gmar.

Atuação hídrica  
Para interferir menos na água, a Vale busca melhores métodos e tecnologias e atende aos padrões de qualidade do ICMM para descarte de efluentes. Foram 397 M de m³ de água captada, ver Balanço Hídrico.

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Adota o indicador-base o 6.4.2 da Agenda 2030 das Nações Unidas que mostra a existência ou não de estresse hídrico na bacia hidrográfica:
Cálculo1 da razão entre:
Total de Água Doce captada na Bacia Hidrográfica
Total de Recurso Hídrico Disponível para Uso
Modelo de gestão hídrica da Vale: 
• Governança com processos e responsabilidades; 
• Rede de monitoramento e controle de qualidade da água; 
• Engajamento e apoio às comunidades para melhoria hídrica das bacias hidrográficas;
• Riscos hídricos mapeados e gerenciados.
Integração e automação de sistemas facilitaram a gestão por painéis iterativos.
Fórmula EH = TFWW / (TRWR – EFR)
EH = Nível de estresse hídrico em %.
TFWW = Total de água doce captada. 
TRWR = Total de água doce renovável: superficiais, subterrâneas e de outros países em m3/s. 
EFR = Caudais ambientais (água para vida aquática) em m³/s.

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O Instituto Tecnológico Vale identifica como os riscos hídricos afetam as bacias hidrográficas e as comunidades. Formas de análise e avaliação das pesquisas:
• Vazão máxima, disponibilidade hídrica e produção de água com modelagem hidrológica e sensoriamento remoto; 
• Cálculo de índices extremos de precipitação. 
• Dados de intensidade, duração e frequência de chuvas intensas; 
• Avaliação da qualidade ambiental de bacias de cabeceira e nascentes;
• Mapeamento das áreas suscetíveis a inundações. 


Contatos das empresas
Alphenz:
www.alphenz.com.br
CIRRA: biton.uspnet.usp.br/cirra
Embrapa Instrumentação: www.embrapa.br/instrumentacao
General Water: www.generalwater.com.br
Gmar Ambiental: www.gmarambiental.com.br
NeoAcqua: www.neoacqua.com.br
Petrobras: www.petrobras.com.br
Vale: www.vale.com.br
Veolia: www.veolia.com

 

Referências Bibliográficas 

J. LAHNSTEINER et al. Reutilização potável direta: uma gestão viável da água opção. Journal of Water Reuse and Dessalination. 08.1, 2018.
 

 

 

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