Economia de baixo carbono e a economia circular pela neutralidade climática

A neutralidade climática a longo prazo é objetivo de alguns países, regiões e até mesmo de muitas empresas. O Brasil, conforme anunciado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), tem o compromisso de reduzir as emissões de carbono


Economia de baixo carbono e a economia circular pela neutralidade climática

A neutralidade climática a longo prazo é objetivo de alguns países, regiões e até mesmo de muitas empresas. O Brasil, conforme anunciado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), tem o compromisso de reduzir as emissões de carbono em 50% até 2030, chegando a essa tão sonhada neutralidade em 2050, o que trará enormes benefícios. 
Neste contexto, os projetos de eficiência energética e o investimento em energias renováveis, como biomassa solar e eólica, são os caminhos que as companhias vêm utilizando para reduzir cada vez mais suas emissões, muitas inclusive, já buscam cumprir as metas de redução climática.
Segundo José Renato Bruzadin, diretor de desenvolvimento de negócios industriais e serviços energéticos da Veolia Brasil, o país tem tudo para liderar o processo de transição energética pelo qual o mundo está passando, os recursos naturais brasileiros são, com certeza, um diferencial para isso. 
“Grande parte do nosso território nacional é coberto por vegetação nativa e temos a maior disponibilidade hídrica do planeta.  Já a nossa matriz de energia elétrica conta com 85% de fontes renováveis e somos o segundo maior produtor de biocombustíveis. Tudo isso faz do Brasil um país relevante dentro do contexto energético global, quando falamos de economia de baixo carbono” – afirma Bruzadin.
Esse termo está cada vez mais em evidencia. 
A economia de baixo carbono ou economia descarbonizada visa promover iniciativas que reduzam o impacto das ações humanas no meio ambiente, como as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), responsáveis pelas mudanças climáticas. A ideia é o uso de energia proveniente de fontes renováveis com menor ou nenhuma emissão de CO2 e outros GEEs. Na prática, o propósito é combater o aquecimento global.
“A nossa vantagem é que possuímos clima favorável, o que facilita uma transação à economia de baixo carbono. A Maratona da Amazônia, um estudo coordenado pela Systemiq, indica que o Brasil tem potencial para mitigar 1,3 milhão de toneladas de carbono até 2030” – enfatiza Lívia Baldo, gerente da Tera Ambiental.
Além do benefício com o meio ambiente, esse movimento traz como vantagem a criação de empregos, especialmente nos setores de produção de energia renovável, tecnologias e equipamentos para mitigação de carbono nos processos, empresas e entidades voltadas à preservação ambiental, reflorestamentos etc. O setor de renováveis gera vagas 12 vezes mais rapidamente do que os demais setores da economia.
Ademais, a transição para este tipo de economia pode ser considerada uma vantagem competitiva com condições de gerar negócios, produtos e serviços com menores emissões de carbono, além de oferecer soluções para as necessidades de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Mas para caminhar nesse processo é necessário promover a transição energética, o mercado de carbono, a economia circular e a conservação florestal. “Por suas características naturais, o Brasil tem um grande potencial para se destacar. As grandes empresas, por sua vez, precisam cada vez mais incorporar ações voltadas aos pilares da EBC” – complementa Édison Carlos, presidente do Instituto Aegea.

Transição energética
É importante destacar que para que uma economia descarbonizada se estabeleça é fundamental que haja uma mudança estrutural nas matrizes, que elimine o carbono da geração de energia, tendo em vista que a participação das fontes renováveis na matriz global é de apenas 14%, de acordo com o Relatório Síntese do BEN (Balanço Energético Nacional) 2022, elaborado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética). 
Além disso, segundo destaca Lívia, é preciso investimento em processos de produção mais eficientes e utilização de tecnologias limpas. “Aliás, um dos aspectos que mais motivam nosso trabalho é que contribuímos para a transformação de passivos ambientais (efluentes, resíduos e lodo de esgoto) em ativos (fertilizantes) e, consequentemente, para a retirada de dióxido de carbono da atmosfera” – afirma Lívia Baldo.
Ela conta ainda que um estudo The Stern Review: The Economics of Climate Change aponta que ignorar a mudança climática acabará prejudicando o crescimento da economia. Os benefícios de uma ação prática para reduzir a emissão de carbono superam consideravelmente qualquer gasto.
Outro destaque é o papel exercido pela indústria no país, que cada vez mais vêm investindo em soluções de descarbonização.  Elas têm o desafio de atender à temática ambiental e às metas sem impactar o custo da produção. Antes, esse tema parecia longe: ninguém falava sobre mudanças climáticas e as soluções propostas eram consideradas custo. 
Atualmente, vários segmentos têm encarado como prioridade diminuir a emissão de gases prejudiciais à natureza. As empresas também estão executando planos para utilizar melhor os insumos e reciclar mais materiais, combatendo desperdícios. 
“É por isso que temos investido em soluções que contribuam para a redução da pegada de carbono e promoção da economia circular, para o setor industrial, urbano e agricultura, por meio da transformação de efluentes, lodo de esgoto e resíduos sólidos orgânicos em fertilizantes, compostos de expressivo valor ambiental e de excelente qualidade. Todos produzidos pela técnica da compostagem termofílica em escala industrial” – enfatiza Lívia. 

Economia circular e saneamento
A economia circular é um dos pilares da economia de baixo carbono e muito próxima do saneamento, por ser um dos setores mais relevantes na proteção ambiental. Seu objetivo é buscar a valorização dos resíduos, transformando materiais antes indesejados em novos produtos sustentáveis, de qualidade e alto valor agregado. 
Para a indústria brasileira, além da transição energética, que é um dos principais pilares para fazer o país avançar em direção às metas de redução de emissões de gases, a estratégia para uma economia descarbonizada está baseada também no mercado de carbono, economia circular e conservação florestal. 
Neste sentido, coletar e tratar esgotos têm um papel fundamental na conservação dos recursos hídricos do país, que por sua vez serão utilizados por diversas atividades fundamentais à economia e ao ser humano, como abastecimento das cidades, a geração de energia elétrica, produção de alimentos, transportes, lazer etc.
No tratamento para deixar a água potável ou para tratar os esgotos, por exemplo, um dos subprodutos gerados é o lodo. Esse tipo de resíduo, antes em sua maior parte enviado a aterros sanitários autorizados, hoje é visto com interesse por setores e empresas especializadas como fertilizante para o solo, por ser um material rico em matéria orgânica e nutrientes. “Por todo esse potencial, a prática de envio a aterros tem se reduzido nos últimos anos” – destaca Carlos.
Ainda segundo ele, é importante ressaltar que os processos de tratamento de esgoto emitem, para a atmosfera, por consequência natural, gases de efeito estufa, principalmente nos sistemas anaeróbios. Esses gases, além de poderem ser queimados, diminuindo, assim, o teor de poluição, podem também ser capturados e reaproveitados para geração de energia, reintroduzindo o subproduto poluente na cadeia de produção. 
Na Tera Ambiental, por exemplo, há projetos para contribuir com a reciclagem efluentes industriais orgânicos, detritos sólidos compostáveis e o lodo gerado pelo esgoto da cidade de Jundiaí, uma das 20 mais populosas de São Paulo, em fertilizantes orgânicos. Esse processo evita o acúmulo de resíduos e a exploração de recursos naturais, diminuindo a emissão de gases poluentes. 
Esses resíduos podem ser reaproveitados ao serem transformados em insumos orgânicos para a agricultura e em uso no meio urbano. “Oferecemos a compostagem para transformar lodo de esgoto e outros resíduos em fertilizantes compostos, contribuindo para reduzir, de modo geral, a emissão de gases do efeito estufa” – destaca a gerente da empresa.
Uma pesquisa realizada em 2019 pela CNI revelou que 77% das empresas brasileiras já desenvolvem alguma iniciativa da economia circular, que é crucial para a prática da economia verde. O que talvez esteja faltando é maior reconhecimento do governo e implementação de políticas públicas que estimulem cada vez mais essas soluções.

Na prática
Segundo Lívia, está no DNA da empresa aplicar o conceito de economia circular ao saneamento público e privado. Nesses segmentos, a descarbonização pode ser colocada em prática por meio da compensação ambiental, oferecendo uma alternativa ambientalmente segura, sustentável e definitiva que vai além das exigências da legislação a outros destinos mais comuns como os aterros sanitários. Ela conta ainda que a empresa pratica o conceito upcycling, oferecendo alternativas seguras e eficazes de transformação de resíduos, antes indesejados, em novos produtos de qualidade e valor ambiental.
A Veolia está trabalhando no desenvolvimento e implementação de soluções, tanto nos CGRs (Centros de Gerenciamento de Resíduos), que estão sendo transformados em Parques Tecnológicos Ambientais, como in loco, nas operações dos clientes industriais, fornecendo serviços em diversos setores, tais como farmacêutico, alimentício e de mineração.
Segundo Bruzadin, hoje, três dos seis CGRs no país já estão gerando energia elétrica através do biogás oriundo da decomposição dos resíduos. A ideia é ampliar esse escopo, bem como implementar a produção de biometano que poderá ser disponibilizado na rede ajudando clientes industriais em seus esforços de descarbonização. 
Isso leva a empresa desenvolver outras soluções para ajudar as indústrias a substituírem os combustíveis fósseis utilizados em seus processos produtivos, o que é uma questão importante, uma vez que elas representam 40% do consumo energético do país. 
“Atualmente, estamos desenvolvendo dois projetos que podem produzir até 150 mil m³/d. Vale ressaltar que o biogás possui em sua composição cerca de 50% de gás metano, que contribui para o efeito estufa. Isso quer dizer que uma tonelada de metano que deixa de ser emitida para a atmosfera, equivale a 28 toneladas de CO2. Essa redução pode ser comercializada no mercado através de créditos de carbono” – afirma. 
Paralelamente, há trabalhos com importantes players para gerar novas fontes de energia com foco especial na valorização de resíduos oriundos de seu próprio processo produtivo, numa abordagem de economia circular. 
Isso impacta diretamente na estratégia de descarbonização industrial dos clientes, abrangendo três escopos: mudar as matrizes de consumo de energia, trazer eficiência energética - proveniente de soluções de cogeração e/ou monitoramento - e envolver sua cadeia de valor de gestão de resíduos, ajudando a atingir o chamado aterro zero, o que significa transporte zero e zero emissões de destino final.
No caso da Aegea, a empresa sempre investiu na busca por soluções voltadas à economia circular, entre elas ações voltadas ao manuseio e reutilização do lodo gerado em suas operações, o que reforça o seu comprometimento com a sustentabilidade e com a melhoria da qualidade de vida por meio do cuidado com o meio ambiente. Este trabalho é evidenciado em diversas unidades do Grupo, como ocorre na Mirante, concessão de Esgoto em formato de PPP em Piracicaba, interior de São Paulo. 
Esse projeto é uma parceria com a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) e viabilizou o desenvolvimento de produtos de compostagem com cerca de 1,2 mil toneladas de lodo de esgoto, 180 toneladas de poda de árvores e 500 toneladas de grama cortada por mês que seriam descartados. 
Em 2022, inclusive, foi vencedor de um dos prêmios ambientais mais conceituados do Brasil - o Prêmio AMCHAM (Câmara Americana de Comércio). Assim como a unidade Mirante, outras unidades da Aegea também pesquisam usos sustentáveis para o lodo, tais como a Ambiental Metrosul (PPP na região metropolitana de Porto Alegre) e a MS Pantanal (PPP de esgotos em 68 municípios do MS). 


Contato das empresas
Instituto Aegea:
www.aegea.com.br
Tera Ambiental: www.teraambiental.com.br 
Veolia Brasil: www.veolia.com 


 

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