Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

Muito embora a água seja uma substância abundante em nosso planeta, especialistas alertam para um possível colapso das reservas de água doce pelo mundo. Face as alterações climáticas, o aumento exponencial da população, a poluição, dentre outros fatores


Muito embora a água seja uma substância abundante em nosso planeta, especialistas alertam para um possível colapso das reservas de água doce pelo mundo. Face as alterações climáticas, o aumento exponencial da população, a poluição, dentre outros fatores, esse bem essencial a sobrevivência humana, vêm se tornando uma raridade em vários países. A quantidade de água no mundo permanece constante, porém o seu consumo cresce de forma alarmante e a cada dia aumenta ainda mais sua procura, nações inteiras ao redor do mundo sofrem com a escassez. 
O desperdício, a poluição, o uso irregular, são alguns dos fatores que contribuem para o aumento dessa distribuição desigual. Uma das soluções encontradas passa pela busca das águas subterrâneas, porém, cuidados devem ser adotados para que essa busca não traga danos a natureza, assim sendo, tais águas em sua essência por vezes necessitam de serem tratadas, como é o caso do estudo em questão o qual aborda de forma sistémica todo o processo de “amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano”. 
Tornar essas águas saudáveis e próprias ao consumo humano, passa por ser um desafio e ao mesmo tempo uma oportunidade de poder levar água potável a populações que não dispõem desse recurso de forma natural, ou seja, não possuem recursos climáticos favoráveis, rios ou lagos. Palavras-chave: alterações climáticas. desperdício. consumo crescente. água doce. águas subterrâneas. equilíbrio químico. consumo humano.

1. Introdução
No âmbito do trabalho de pesquisa, o foco central é, apresentar um estudo prático sobre o tratamento de água para consumo. Para tanto, fora estudado as formas de tratamento de águas para consumo humano, sendo aqui relacionado a forma utlizada na captação de águas profundas e utilizando-se o método de “amaciamento e equilíbrio químico da água”, de modo a torná-la própria para o consumo, sem com isso causar danos ambientais ou desequilíbrio ao ecossistema local. Nesse sentido foram fixados vários temas, os quais foram abordados de forma sistêmica onde ficou exemplificado cada passo do processo, a fim de torná-lo o mais abrangente possível. 

2. Objetivos do trabalho
O objetivo deste trabalho está alinhado com os objetivos fixados quanto aos conceitos fundamentais das tecnologias relacionadas com os processos e operações de tratamento de água: físicos químicos e biológicos com o fito de adquirir qualificações que possam permitir a realização de análises e concessão de estações de tratamento de água e avaliar as metodologias adequadas à avaliação e comparação das eficiências das várias operações e processos unitários de tratamento numa estação de tratamento de água para abastecimento humano.
Em concreto, neste estudo, o objetivo passa por reunir informação sobre o amaciamento e equilíbrio químico da água distribuída para consumo humano através da rede pública, identificando meios de tratamento da dureza e equilíbrio químico em função das águas disponíveis no meio ambiente e identificando os principais problemas associados à dureza e falta de equilíbrio químico nas águas distribuídas para consumo humano, designadamente do ponto de vista da segurança alimentar, ambiental e econômico.

3. Enquadramento
3.1 Caracterização da água disponível no planeta

A água é uma substância química muito estável, composta por dois átomos de hidrogénio e um átomo de oxigénio; como substância, a água pura é incolor, não tem cheiro nem sabor. Esta é a única substância que existe na Terra em três estados: sólido, líquido e gasoso com temperaturas relativamente próximas; apresentam uma capacidade calorífica muito forte, e calores latentes de mudanças de fases muito elevadas, sendo um isolante térmico natural (regula a temperatura da Terra, tendo um papel primordial no que respeita à estabilidade da sua temperatura e dos vários fenômenos climáticos). Além destas propriedades, a água é um solvente universal (tem a capacidade de dissolver uma quantidade enorme de compostos), pelo que na natureza não existe pura.
A água existente no nosso Planeta ocupa cerca de ¾ da superfície da crosta terrestre, através de mares, rios e lagos, além de preencher cavidades subterrâneas da Terra formando lençóis freáticos, artesianos e aquíferos. Apesar de 75% da superfície do planeta ser recoberta por massas líquidas, a água doce não representa mais do que 3% do volume total existente e, deste apenas um terço – presente nos rios, lagos, lençóis freáticos superficiais e atmosfera é acessível.
Mas estar acessível não significa que possa ser utilizada diretamente pelo ser humano. As características que possui enquanto solvente universal permite-lhe dissolver uns cem número de substâncias, sendo que muitas destas são contaminantes perigosos, resultantes designadamente da atividade humana e do contato da água com matéria orgânica em decomposição que a tornam imprópria para o consumo humano, transformando-a num poderoso veículo de transmissão de doenças causadas principalmente por bactérias, vírus ou parasitas.

3.2  Tipos de água
É possível encontrar na natureza água própria e imprópria para consumo. Assim, os principais tipos são:
• Água potável: destinada ao consumo humano por apresentar as condições ideais para a saúde. Pode ser tratada ou retirada de fontes naturais, desde que seja pura.
• Água salobra: é uma água de aparência turva. Possui grandes quantidades de sal ou outra substância dissolvida. Não pode ser consumida pelo ser humano. É muito encontrada em regiões de mangue (áreas alagadas próximas ao litoral).
• Água doce: é a água que encontramos em rios, lagos, riachos, etc. Possui baixa quantidade de minerais e algumas impurezas (caso esteja contaminada). É uma água de cor marrom, pois possui também grande quantidade de terra dissolvida. Para ser consumida precisa passar por um processo de tratamento específico. Quando está limpa, costuma abrigar grandes quantidades de peixes. 
• Água salgada: é a conhecida água do mar. Possui grande quantidade de sais, principalmente o famoso sal de cozinha (cloreto de sódio). Não pode ser consumida pelo ser humano.
• Água contaminada: geralmente presente em rios e lagos que recebem esgotos ou resíduos industriais. Não pode ser consumida, pois apresenta microrganismos que transmitem doenças ou produtos químicos que prejudicam a saúde humana. Geralmente encontramos baixa existência de vida animal neste tipo de água.
• Água destilada: água com altas concentrações de hidrogênio e oxigênio. É produzida de forma artificial em indústrias pelo processo de destilação. Na natureza, ela se forma durante o processo de chuva. É uma água muito usada em baterias de automóveis ou como reagente industrial. Não pode ser consumida.
Água mineral: água que possui grande quantidade de minerais oriundos da natureza. Algumas destas águas possuem propriedades terapêuticas. Alguns tipos de águas minerais são próprios para o consumo, tanto que são envasadas e vendidas por empresas.
• Água poluída: é um tipo de água misturada com algum poluente. Neste caso, a água perde seu cheiro e cor natural, ficando imprópria para o consumo.  

3.3 Água para consumo humano
Segundo dados da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), em 2016, a capitação de água consumida total, ou seja, a quantidade por habitante por dia foi de 187 litros e Lisboa apresentou a quantidade mais elevada, com 281 litros, seguida de Bragança (244) e de Faro (243).  Em sentido contrário, o gasto médio por consumidor mais baixo registou-se em Viana do Castelo, com 144 litros por dia, e Leiria, com 163 litros.
A água consumida não se resume àquela que chega às torneiras das habitações, mas inclui também os gastos no comércio, na indústria e na agricultura. Segundo a mesma fonte, quando a análise tem por base a capitação de água consumida no setor doméstico, é em Évora onde se registra a capitação mais alta por habitante dia, com 175 litros seguido de Faro, com 153 litros. Viana do Castelo, com 101 litros de água por dia, e a Guarda, com 102 litros, apresentam os consumos mais baixos.
Os consumos domésticos de água seguem em média uma distribuição próxima da que é apresentada no gráfico circular seguinte Figura 1, e envolvem várias atividades que genericamente se podem agrupar em atividades relacionadas com a higiene pessoal, limpezas domésticas, regas para o preparo de refeições e alimentação.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

O consumo diferenciado entre regiões depende de variadíssimos fatores. Em caráter geral, estes fatores podem ser o tamanho, a taxa de crescimento da população, as características da cidade (turística, comercial, industrial), os tipos e quantidades de indústrias presentes, o clima, os hábitos e a situação socioeconômica da população.
Outros fatores, porém, mais específicos, como a qualidade da água e o seu custo (valor da tarifa), a disponibilidade do recurso, a pressão na rede de distribuição, e a ocorrência de chuvas podem também influenciar o consumo de água.

3.4  Estação de Tratamento de Água - ETA
Para se construir uma ETA (Estação de Tratamento de Água), deve-se compreender as seguintes atividades: definição dos processos de tratamento, disposição e dimensionamento das unidades e dos sistemas de conexões entre elas, disposição e dimensionamento dos sistemas de armazenamento.
Assim, para a elaboração do projeto da Estação de Tratamento de Água devem ser observadas     algumas condições, que são determinadas em função do tempo de funcionamento e com base num estudo técnico-econômico. De salientar que, a ETA deve ser localizada num ponto de fácil acesso, em qualquer época do ano, livre de enxurradas e acima da cota máxima de enchente, de modo que esta não comprometa a operação.
Na escolha do local para implantação da ETA, devem ser levados em conta a disponibilidade de vias de acesso, a facilidade de fornecimento de energia elétrica, o centro de consumo, o corpo recetor de descargas e a disposição do lodo dos decantadores. Neste sentido, particular atenção deve ser dada à natureza do solo, a fim de prevenir problemas de fundação e construção, e oferecer a possibilidade de situar as unidades acima do nível máximo de água do subsolo.

3.4.1 Etapas no tratamento das águas
• Captação:
a água passa por um sistema de grades que impede a entrada de elementos macroscópicos grosseiros (animais mortos, folhas, etc.) no sistema. Deste modo, parte das partículas está em suspensão fina, em estado coloidal ou em solução, e por ter dimensões muito reduzidas (como a argila, por exemplo), não se depositam, dificultando a remoção.
• Coagulação: visa aglomerar essas partículas, aumentando o seu volume e peso, permitindo que a gravidade possa agir. Isso é feito, geralmente, através da adição de cal hidratada (hidróxido de cálcio) e sulfato de alumínio, sendo agitada rapidamente. Esses materiais fazem as partículas de sujeira se juntarem.
• Floculação: a água é agitada lentamente, para favorecer a união das partículas de sujidade, formando os flocos. 
Decantação: a água não é mais agitada e os flocos vão se depositando no fundo, separando-se da água. O lodo do fundo é conduzido para tanques de depuração. O ideal é que ele seja transformado em adubo, em um biodigestor. A água mais limpa vai para o filtro de areia.
• Filtração: A água já decantada passa por um filtro de cascalho/areia/antracito (carvão mineral), onde se vai livrando dos flocos que não foram decantados na fase anterior e de alguns microrganismos.
• Cloração: A água filtrada está limpa, mas ainda pode conter microrganismos causadores de doenças. Por isso, ela recebe um produto que contém cloro, que mata os microrganismos. Na água, o cloro age de duas formas principais: 
a) como desinfetante, destruindo ou inativando os microrganismos patogênicos, algas e bactérias de vida livre; e 
b) como oxidante de compostos orgânicos e inorgânicos presentes.

4. Características químicas de água bruta 
O número de substâncias químicas que podem ser encontradas numa água é virtualmente ilimitado. Por este motivo, analisam-se alguns químicos que são representativos e importantes em termos de saúde, aspectos estéticos e de tratamento. No entanto, antes de mais, analisar-se-ão as propriedades gerais das águas brutas que podem influenciar o comportamento e as implicações da exposição aos químicos. O pH é uma medida da atividade do íon H+ presente na água, sendo que na maioria das águas potáveis a sua atividade é praticamente igual à sua concentração (AWWA, 1999). O pH da maior parte das águas naturais não contaminadas é controlado pelo dióxido de carbono e outros minerais e pode variar entre 5,5 e 8,5. Isto é importante, principalmente, porque os níveis de pH determinam, algumas vezes, se um químico é um potencial problema para a saúde (USEPA, 1990).
Uma água subterrânea apresenta naturalmente um valor de pH que é influenciado pela sua origem e pela natureza dos solos atravessados. As águas superficiais podem, como consequência da atividade biológica e algas, apresentar, em especial no verão, valores de pH anormalmente elevados. O controlo deste parâmetro é importante no que diz respeito, por exemplo, ao controle da corrosão e da dissolução de metais e à formação de incrustações, em canalizações e acessórios com os quais a água contacta.
Além disso, são relevantes as inter-relações com o ciclo do cálcio e parâmetros associados: anidrido carbónico, dureza, alcalinidade, temperatura, cálcio e magnésio. Valores de pH inferiores a 7 podem originar processos por vezes graves de corrosão de tubagens metálicas, que eventualmente se traduzem depois na existência de teores elevados de chumbo, cádmio ou de outros metais pesados, presentes por essa causa nas águas de consumo (Mendes e Oliveira, 2004). A alcalinidade de uma água é uma medida da sua capacidade de neutralização de ácidos. Em águas naturais o nível é controlado pela presença de carbonatos e bicarbonatos, sendo que as águas subterrâneas tendem a ter uma alcalinidade superior às águas superficiais, diferença que afeta os níveis de metais dissolvidos (USEPA, 1990). A concentração de carbonatos e bicarbonatos está diretamente relacionada com o pH da água e com a concentração de carbono inorgânico dissolvido, através da dissociação do ácido carbónico (AWWA, 1999).
A alcalinidade está intimamente ligada á dureza da água, sendo ambas expressas em equivalentes de carbonato de cálcio, e podendo os seus valores numéricos serem próximos. No caso dos efluentes domésticos e industriais, os valores da alcalinidade podem aumentar, devido a outras substâncias presentes. O fato da alcalinidade ser o resultado da presença em solução de sais de ácidos fracos e de bases fortes, tais como bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos, confere-lhe um forte poder 12 tampão, cujo significado em termos de tratamento de águas, quer naturais quer residuais, é muito importante (Mendes e Oliveira, 2004). A dureza de uma água indica o nível de cálcio dissolvido e em menor grau de sais de magnésio. Águas subterrâneas tendem a ser mais duras do que as águas superficiais, devido aos níveis superiores de dióxido de carbono dissolvido e relativamente baixo pH, o que pode provocar a dissolução de calcário nos aquíferos. As águas subterrâneas tendem também a ser mais deficientes em oxigénio, o que normalmente não se verifica nas águas superficiais 
(USEPA, 1990). O território português apresenta diferentes taxas de dureza nas águas, conforme se observa na Figura 2 e Tabela 1.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

Os teores observados variam, significativamente, com a natureza geológica dos solos atravessados, ou com os quais a água esteve em contato. Uma água dura aparece em zonas onde os solos sejam calcários ou dolomíticos. Uma água doce ou macia pode aparecer em regiões nas quais predominem solos graníticos (Mendes e Oliveira, 2004). 
Para além dos residuais de produtos químicos utilizados no tratamento da água, também os sistemas de distribuição podem libertar substâncias metálicas e não metálicas para a água, devido à corrosão de materiais, o que pode provocar potenciais efeitos adversos na saúde pública. No entanto, este tipo de corrosão pode ser reduzido ao ajustar o pH e a alcalinidade da água, salientando-se que o aumento da alcalinidade diminui a corrosão do chumbo e o aumento do pH reduz a corrosão do cobre (Isaac et al., 1997; USEPA, 1990). Os químicos inibidores da corrosão mais utilizados no tratamento de águas são os fosfatos e os silicatos, principalmente os fosfatos de sódio e/ou zinco, os silicatos de sódio e uma mistura dos dois. As doses utilizadas variam de 0,5 a 5 mg/L para os fosfatos e até 10 mg/L para os silicatos. A sua eficácia varia, dependendo da reação com a superfície metálica no sistema de distribuição, pelo que as concentrações de fosfatos e silicatos no consumidor podem ser iguais às concentrações no início da distribuição, se não ocorrer nenhuma reação (USEPA, 1990). 
A origem mais comum da dureza das águas são as rochas de calcário, formadas essencialmente por CaCO3. Os solos no Sul de Portugal são calcários ou dolomíticos, provocando uma maior dureza à água.
As zonas graníticas caracterizam-se por produzirem águas mais macias (Norte de Portugal). Uma outra característica importante das águas é a sua alcalinidade. Esta relaciona-se de forma bastante estreita com a sua dureza. Quanto mais alcalina for uma determinada água, maior é a probabilidade de se apresentar com dureza elevada. A Figura 3 traz uma amostra específica do pH das águas em Portugal continental.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

A mineralização ocorre quando a água, ao atravessar os solos e em contacto com estes, dissolve alguns dos seus constituintes, primariamente sais e compostos moleculares. 
O processo de mineralização que ocorre é facilitado pela dissolução de dióxido de carbono (CO2) Figura 4, da atmosfera, que ocorre durante a precipitação, e que facilita a dissolução do CaCO3, que de outra forma é muito pouco solúvel em água.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

Neste processo, a grandes profundidades, a elevada concentração de CO2 provoca a dissolução do calcário e leva à formação de grutas. Durante o processo de infiltração das águas nessas grutas, o CaCO3 pode voltar a depositar-se, com a evaporação da água, formando-se as estalactites (no teto) e as estalagmites (no chão) Figura 5.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

5. Utilização de CO2, para reduzir a dureza da água, no processo de amaciamento 

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

A presença de íons de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) é a principal causa da dureza da água. Esta também contém outros cátions, como alumínio e ferro, mas a sua presença tem um menor impacto. A dureza pode ser temporária, devido à presença de cálcio sob a forma de carbonatos/bicarbonatos na água (Ca (HCO3)), e permanente, estando esta última associada à presença de sulfatos e cloretos.
Quando a água contém uma elevada concentração de cal e magnésio, e estes não se separam ou precipitam corretamente para eliminar a sua dureza, dão origem à formação de cristais e incrustações nos circuitos, provocando manchas e obstruções que afetam o processo e aumentam os custos de manutenção associados (perdas de carga, manutenção de bombas, canalizações de equipamento mecânico de separação de sólidos, etc.).
O passo seguinte explica o processo de amaciamento (redução da dureza cálcica) através da utilização de CO2 , bem como a correta separação do precipitado formado para evitar incrustações ou perda de desempenho nas etapas posteriores de tratamento dessas águas.

5.1  Fundamentos da Dureza Cálcica da água e parâmetros a controlar
Normalmente, a dureza é medida em ºF (graus franceses) e 1 ºF equivale a 10 mg/l de CaCO3 (carbonato de cálcio). Por conseguinte, é possível classificar o tipo de água em função da sua dureza como:
• Macia: ≤2 ºF;
• Leve dura: ≤6 ºF;
• Moderada dura: ≤12 ºF;
• Dura: ≤18 ºF;
• Muito dura >18 ºF.
Ou seja, considera-se a água como muito dura quando esta possui concentrações superiores a 180 ppm de carbonato de cálcio.
Em processos industriais de determinados sectores e, em função da utilização de cal ou água de captação, existem concentrações superiores a 1500 mg/l de dureza de cálcio. Tal como referido anteriormente, a maior parte dos problemas conhecidos por água com elevado teor de dureza, ocorrem devido à formação de incrustações e bloqueios. As incrustações estão relacionadas com problemas de manchas e sujidade, para além de gerarem isolamentos térmicos. Estas incrustações provocam a diminuição da transferência térmica, que faz com que o aquecimento em processos térmicos seja mais demorado e consuma mais combustível. Em processos de refrigeração, faz com que o tempo necessário para o processo de arrefecimento seja superior, aumentando o consumo energético. Outro problema que apresentam é o aumento nos gastos de manutenção preventiva e corretiva, provocado pela necessidade de proceder a desincrustações.
Outro parâmetro importante a estudar, ajustar e controlar na redução da dureza cálcica e no controle ou prevenção de incrustações é o pH. O pH é a medida da acidez ou alcalinidade de uma dissolução. A escala do pH vai de 0 a 14 Figura 7, em que o pH de águas ácidas se situa entre 0 e 7, e de águas alcalinas, se situa acima de 7. O valor de pH 7 é considerado o valor neutro. O valor de pH é muito importante, uma vez que afeta o estado das dissoluções, ou seja, a forma como atuam os vários compostos passíveis de serem adicionados às dissoluções e os seus resultados.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

Um pH ligeiramente ácido na água é um precursor de corrosão devido à falta de sais e um pH básico é um indicador de possíveis formações de incrustações, depósitos, pelo que, a água dura está relacionada com a presença de cal e magnésio e com um pH alcalino, bem como com a alcalinidade medida em eq/l que a referida água pode conter.
Para determinar o carácter agressivo ou incrustante da água, geralmente têm-se em conta os diversos equilíbrios do ácido carbônico na água, a relação bicarbonatos-carbonatos, o pH, a temperatura, a concentração de cálcio e a alcalinidade; existem vários índices que englobam ou ponderam estes fatores para se obterem intervalos de valor que permitam definir o carácter dessa água; o mais utilizado é o Índice de Langelier, que relaciona o pH real com o pH de saturação em função da natureza e da caracterização prévia da água, Figura 8.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

Dependendo da natureza da água de captação ou das características da água residual, a acumulação de sais minerais nas diversas linhas de fluxo das diferentes indústrias ou ETAR provoca graves problemas de incrustações em poços, orifícios, tubos de revestimento, tubos de produção, válvulas, bombas, etc. e, consequentemente, uma redução significativa da produtividade, aumentando os custos de operação e manutenção.
Portanto, para reduzir a dureza, deve existir um equilíbrio do CO2 na formação de carbonatos para que a precipitação de um determinado pH ocorra sob a forma de carbonato de cálcio e, com uma correta separação do precipitado, seja possível reduzir a dureza sem que os processos posteriores sejam afetados por incrustações.

5.2  A influência do CO2 , nestes tipos de água e seu equilíbrio químico
Para evitar os problemas decorrentes da alta concentração de dureza cálcica ou das incrustações das águas caso o precipitado não seja separado corretamente ou dosado no ponto exato de CO2 , é necessário realizar um controle correto através da estabilização química da água, a qual consiste em ajustar o pH, a concentração de dióxido de carbono livre ou a concentração de carbonatos (CaCO3) da água para que esta alcance o seu equilíbrio de saturação de Ca(HCO3)2
As águas podem conter diferentes teores de CO2 livre, o qual influi no comportamento do carbonato de cálcio contido nessas águas. Diz-se que o CO2 de equilíbrio é a quantidade de dióxido de carbono que deve estar presente na água para manter em solução o bicarbonato que se encontra na referida água. Se existir um excesso de CO2, este ataca o CaCO3 para aumentar a concentração do bicarbonato e manter o equilíbrio; por outro lado, se existir uma deficiência de CO2, o CaCO3 precipita-se para diminuir a concentração de bicarbonato, aumentando assim o CO2 e restabelecendo o equilíbrio.
Se o teor de CO2 livre for superior ao CO2 de equilíbrio, existe excesso de CO2 , pelo que se considera que a água é agressiva. Se o teor de CO2 livre for igual ao de CO2 de equilíbrio, a água está em equilíbrio. No entanto, quando o teor de CO2 livre é inferior ao de CO2 de equilíbrio, existe deficiência de CO2 de equilíbrio, e diz-se que a água é incrustante.
Quando o CO2 se dissolve na água, reage com ela para formar ácido carbônico, o qual se dissocia em íons de hidrogênio e no íon de bicarbonato, seguindo a reação, abaixo demonstrada.

Amaciamento e equilíbrio químico da água para consumo humano

Em águas com elevada dureza cálcica, se o COfor corretamente dosado, ocorre uma precipitação dos íons que provocam essa dureza através da reação abaixo:

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Conclusão
O objetivo deste trabalho, visa centrar-se na revisão e discussão do conhecimento existente sobre os potenciais efeitos na saúde pública dos produtos químicos utilizados no tratamento das águas duras, e desta forma poder contribuir para uma melhor compreensão e eventual alerta para a adoção de medidas que permitam minimizar os seus potenciais efeitos.
A importância do estudo do Equilíbrio Químico no âmbito das buscas para uma melhor compreensão é inquestionável, devido ao seu caráter transversal. Alguns estudos indicam que a incompreensão do Equilíbrio Químico ou a incapacidade para transferir esses conhecimentos para novas situações, estão na base de dificuldades associadas ao estudo do comportamento de como essas reações podem impactar o ser humano, tanto em sua saúde quanto ao consumo e manuseio, ou até mesmo economicamente, uma vez que tais desequilíbrios químicos podem afetar economicamente as indústrias e até mesmo as pessoas de um modo geral, em tarefas corriqueiras, tais como lavar louças e tantas outras do seu dia a dia. 

Carlos Sérgio de Souza Pereira
Mestre em Engenharia Urbana
Universidade do Minho - Campus de Gualtar - Braga - Portugal
Tel.:  (11)  992 268 216
Emails.: engenheirocarlossergio2016@gmail.com e
c_pereira2017@hotmail.com

 

Referências bibliográficas:

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