Tecnologia avançada melhora qualidade da água das ETEs lançada em corpos d’água
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 59 - Fevereiro/Março de 2021 - Ano 10
Ao contrário de tempos atrás, hoje avançou muito a qualidade das águas produzidas nas ETEs e descartadas nos rios e lagos. As empresas, as novas tecnologias e soluções ambientais criaram um novo cenário para o País
Ao contrário de tempos atrás, hoje avançou muito a qualidade das águas produzidas nas ETEs e descartadas nos rios e lagos. As empresas, as novas tecnologias e soluções ambientais criaram um novo cenário para o País. Esse esforço em conjunto atinge positivamente o saneamento básico, em pauta no mercado devido ao Novo Marco Legal, Lei nº 14.026, sancionada em 15 de julho de 2020, porque potencializa diversos setores da economia.
É fácil perceber que fazer o tratamento da água de efluentes e esgotos para retorná-la aos rios e lagos é recurso valioso, principalmente no Brasil onde a universalização do saneamento caminha lenta e causa problemas de saúde e morte, inclusive de crianças em tenra idade. As vantagens são econômicas, sociais, de saúde, do meio ambiente, entre outras, que trazem crescimento e desenvolvimento ao País.
De acordo com o padrão de lançamento definido por Leis Federais, Estaduais e Municipais, são realizados três tipos de tratamento: Primário, Secundário e Terciário. As Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs) utilizam desde os processos convencionais até os mais avançados para garantir a qualidade das águas dos rios e lagos conforme as exigências das leis.
A Lei das Águas (9.433/97) define o enquadramento dos corpos receptores em suas classes e medidas estabelecidas que devem ser atendidas. “Em virtude de os parâmetros finais para descartes serem mais restritivos, é preciso utilizar tecnologias modernas para garantir maior eficiência na remoção de poluentes” – explica Daiane Porto, engenheira de processos da Allonda.
Existem várias tecnologias disponíveis nos mercados nacional e internacional para atender à qualidade requerida da água gerada nas ETEs para descarte em rios e lagos. “Tecnologias mais avançadas permitem que se obtenha água de reúso para diversos fins. Do ponto de vista tecnológico, não há problema algum. Do ponto de vista econômico, evidentemente, estas tecnologias implicam maiores custos de investimento e, às vezes, operacionais” – aponta Ademar Cesar M. Ferreira, diretor geral da H2O Engenharia.
A aplicação das tecnologias está ligada à exigência e fiscalização das agências ambientais e aos padrões corporativos de empresas sustentáveis. “As empresas de engenharia, fornecedoras de sistemas e tecnologias, estão habilitadas para atender a este desafio” – diz Ademar Cesar M. Ferreira.
Tecnologia fica barata
A automação é auxiliar e indispensável às modernas tecnologias e aos controles mais precisos de processo a distância das operações de tratamento. “Estas áreas e todas as ligadas à Internet das Coisas (IoT) avançam muito rápido. Os custos também baixam bem rápido. Haja vista que os custos atuais e os instrumentos disponíveis para estas informações são cada vez mais baratos” – relata o diretor geral da H2O Engenharia.
“Estas novas ferramentas propiciam às agências ambientais o controle da qualidade de rios e lagos, auxiliando-as na consolidação de dados que poderão ser incorporados às Políticas Públicas” – comenta Ferreira. Muitos fornecedores são internacionais, mas as empresas brasileiras têm integrado estas novidades nas suas linhas de produção. “Para isso, é preciso treinar as equipes de operação e de manutenção para que possam ajustar e conservar estes instrumentos e automações funcionando corretamente” – orienta.
Métodos avançados garantem máxima eficiência e exigem da estação automação moderna. “Para atender a toda essa evolução, são utilizados instrumentos inteligentes para fazer as medições que unem IoT e controle/status de funcionamento e manutenção inteligente” – afirma Daiane, da Allonda.
Esses instrumentos inteligentes informam ciclicamente ao sistema a necessidade de manutenção, evitando paradas não programadas, e detectam rapidamente incidentes, descontrole operacional ou danos em tempo real. Fazem a medição de vazões, níveis de pressões e temperaturas e demais parâmetros importantes para o processo escolhido, tais como analisadores de pH, turbidez, dureza, ferro, cromato, alumínio, sódio etc.
Dentro do exigido pelas legislações, estes controles permitem intertravamentos, dosagens e descartes confiáveis. “São essenciais os controles automáticos e monitoramentos de parâmetros locais e remotos que aumentam a segurança e mitigam riscos” – diz Daiane. Os instrumentos ficam conectados a um sistema supervisório – uma CPU local – numa sala de controle com telas gráficas do sistema e via remoto a distância.
Eles podem ser aperfeiçoados com o sistema CFTV para fazer o monitoramento visual em tempo integral. É possível ainda agregar o SQL/Node Red monitorado via smartphone, acrescido de banco de dados on-line conectado ao sistema que permite gestão dos dados, produtividade, segurança e assistência técnica ao cliente.
“Os Controladores Lógicos Programáveis (PLCs) têm softwares que acionam e controlam remotamente diversas manobras operacionais e de eficiência do efluente final das ETEs” – esclarece Leonardo Teixeira de Oliveira, supervisor comercial da Sanevix Engenharia.
“O controle remoto nas ETEs são sistemas automatizados que, por meio de um painel inteligente, monitoram o funcionamento de todos os componentes elétricos do sistema, acompanham a qualidade da água e mandam um alerta se precisar de algum ajuste” – explicam Nadina Manrique, gerente operacional da Delta Saneamento, fabricante dos equipamentos, e os engenheiros da Reviva Soluções Ambientais, empresa parceira da Delta que atua em assessoria e consultoria de questões ambientais.
As tecnologias dos painéis controlam o nível dos reservatórios; fornecem, em tempo real, medições de parâmetros na operação das ETEs; e acompanham problemas elétricos em equipamentos e bombas em telas gráficas, permitindo aos operadores fazer melhorias mais assertivas no sistema.
Avanço e evolução
Os avanços nos tratamentos são enormes. “Os projetos devem contemplar, desde o início, estes avanços para que não haja frustrações dos clientes, com adoção de soluções que não atenderão aos requisitos legais ou técnicos desejados. Hoje, as agências ambientais têm solicitado estudos de autodepuração, que são ferramentas auxiliares para preservar e melhorar a qualidade da água de rios e lagoas, mesmo recebendo efluentes e esgotos domésticos” – alerta Ferreira.
Há avanços constantes nos processos adotados nas ETEs para garantir alta eficiência na remoção de poluentes e melhorar a qualidade da água produzida. “É preciso adotar também tratamentos cada vez mais modernos que possibilitem o reúso dos efluentes tratados como premissas de projetos. O objetivo é minimizar os impactos nas fontes naturais de água” – alerta Daiane, da Allonda. Muitos Estados e Municípios adotam leis de descartes ainda mais rígidas que as Federais. “A intenção é garantir a qualidade dos corpos hídricos hoje e para as próximas gerações” – diz Daiane.
“Hoje possuímos tecnologias desenvolvidas para atender qualquer legislação ambiental no Brasil e no mundo” – afirma Oliveira, da Sanevix.
“Os sistemas estão em constante evolução com tecnologias mais eficientes e compactas que otimizam a área necessária, preveem situações reais e têm maior facilidade operacional” – destacam Nadina, da Delta, e os engenheiros da Reviva. Os avanços se referem à remoção de nutrientes, Nitrogênio (N) e Fósforo (P).
“A remoção de nutrientes é cada vez mais exigida devido à eutrofização dos corpos d’água causada pelo excesso de nutrientes” – advertem, tema já abordado pelas matérias da Revista TAE. Enquanto a remoção de carga orgânica (DBO) é fácil de atingir com as tecnologias normalmente adotadas, Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente (UASB) seguido de Lodos Ativados e Lodos Ativados convencionais.
Sistemas modernos
“Relacionar produtos e tecnologias pode fazer com que se deixe uma ou outra muito importante fora da lista. O essencial é capacitar as engenharias para que sejam adotadas as soluções mais convenientes, considerando caso a caso” – analisa Ferreira. Dependendo da região do País, deve-se buscar soluções alternativas e de aplicação local. “Precisam ser levados em conta ainda os diferentes graus de automação necessários à solução tecnológica requerida e a capacitação da equipe operacional, que pode variar conforme o local” – avalia o diretor geral da H2O.
De acordo com a necessidade específica de eficiência a ser atingida para cada situação, são propostos diversos tipos de sistemas, o que está ligado também ao local onde será descartado o esgoto tratado. Segundo Nadina, da Delta, e os engenheiros da Reviva, dependendo da condição do corpo receptor, o sistema precisa remover, além da carga orgânica (DBO), os nutrientes, como Nitrogênio e Fósforo, que exigem complementos e diferenciações para serem alcançados.
De acordo com as duas empresas parceiras, nos locais onde o descarte do esgoto é viável, considerando a vazão média de esgoto e as características do solo local, podem ser executados sumidouros ou valas de infiltração. Nesses casos, devem ser respeitados os limites de distâncias entre lençóis freáticos e poços artesianos. Mas, geralmente, eles dizem que os sistemas de tratamento mais simples (anaeróbios) já atendem às exigências desse tipo de descarte.
As tecnologias e produtos mais atuais e modernos usados hoje para melhorar a qualidade das águas produzidas nas ETEs para descarte nos rios e lagos se pautam em:
Sistemas de MBBR (Moving Bed Biofilm Reactor) – É uma variante de Lodos Ativados. Os tanques aerados possuem biomídias que combinam sistemas de biomassa aderida (biofilme) e biomassa líquida. O sistema eleva o desempenho, diminui áreas e adapta estações antigas de Lodos Ativados para aumentar vazões e eficiência do efluente tratado.
MBR (Membrane Bioreactor) – Ideal para estações que precisam atingir parâmetros de qualidade bem restritivos, águas para reúso nobre e com pequenas áreas para implantar a estação. Combina a degradação de matéria orgânica de Lodos Ativados com a filtração por membranas, removendo altos níveis de DBO, sólidos e bactérias.
Degradação e desinfecção por Ozônio – Substitui oxidantes tradicionais, como o permanganato de potássio, e compostos clorados na desinfecção de água que geram subprodutos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Cresce o uso de ozônio para degradar compostos orgânicos e inorgânicos e reduzir DQO e DBO, cor e turbidez.
Desinfecção por Luz Ultravioleta (UV) – Substitui o uso de compostos clorados para remover patógenos, bactérias e vírus.
Processos Avançados de Oxidação (AOP) – Pela oxidação por radicais hidroxilas, removem poluentes orgânicos: Diuron, NDMA, Atrazina, Geosmina, hormônios e 1-4 Dioxina.
Fonte: Allonda.