Novo Coronavírus em Águas Residuais: O papel da geologia médica e ambiental durante a pandemia

Faz algum tempo que os meios de comunicação noticiam a descoberta do novo coronavírus em águas residuais de grandes metrópoles


Novo Coronavírus em Águas Residuais: O papel da geologia médica e ambiental durante a pandemia

Faz algum tempo que os meios de comunicação noticiam a descoberta do novo coronavírus em águas residuais de grandes metrópoles. Smriti Mallapaty em artigo publicado na revista Nature em abril deste ano destacou o uso das águas de drenagem e tratamento de esgoto para a compreensão da verdadeira escala do surto de Covid-19. 
Aqui busco levantar a seguinte questão: Qual a relação entre uma pandemia global causada por um vírus, a geologia e a medicina? Em síntese, falamos aqui do uso puro e aplicado das bases de geoquímica ambiental e geologia médica para a compreensão do alastramento do COVID-19 ao redor do globo. 
Essas são duas áreas pouco conhecidas pela população em geral – e até mesmo no meio acadêmico pouco se fala em geologia médica, por exemplo. A geoquímica ambiental preocupa-se em compreender o meio ambiente através da química e, as vezes, estuda o papel de interferência da atividade humana na química ambiental. A geologia médica, por outro lado, lança bases de geoquímica ambiental – como os dados de contaminação ambiental de uma determinada região, para estudar os possíveis danos à saúde humana. Uma dúzia de trabalhos já foram publicados sobre a presença do novo coronavírus em águas de drenagem e esgoto – inclusive aqui na revista TAE na ultima edição. 
Duas pesquisas conduzidas no Brasil sobre a presença do novo Coronavírus no esgoto se destacam: Em Minas Gerais um estudo conduzido pela Agência Nacional de Águas (ANA) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) detectaram a presença do vírus nas águas do Ribeirão Arruda e do Ribeirão da Onça – o quais cruzam a capital, Belo Horizonte, e Contagem. Na segunda pesquisa, a FIOCRUZ em parceria com a Prefeitura de Niterói verificara a presença de material genético do vírus nas águas de esgoto da cidade.

O que isto significa?
É praticamente impossível mensurarmos a real quantidade de pessoas que foram – e estão sendo - infectadas com o Covid-19. Atualmente os dados mostram que o Brasil fez testes de Covid-19 em cerca de menos de 1% da população e, no entanto, já contamos com mais de 1 milhão de infectados. Obviamente este número de casos confirmados não reflete a realidade. Como a geoquímica ambiental e da geologia médica podem nos ajudar a estimar de forma mais realística a quantidade de casos? 
A detecção da presença de material genético do Covid-19 em amostras de águas residuais pode ser uma importante ferramenta na compreensão da real extensão dos casos no país – e no mundo. Encontrando-se material genético do Covid-19 em águas residuais sabemos que a proveniência desse material se deu em duas formas: urina ou fezes da população. Ainda, uma bacia de tratamento de água de esgoto ou rios/riachos urbanos – onde as amostras são coletadas, coletam águas residuais de centenas de milhares de pessoas a depender do centro urbano do qual analisamos. 
Estimar a real taxa de população contaminada a partir das águas residuais não é tarefa das mais simples. Há de se levar em conta parâmetros como: Qual a representatividade da minha amostra contaminada? – a bacia de águas residuais de onde eu a coletei está sempre contaminada nos últimos meses? Ou foi somente no momento da coleta? Qual a quantidade de material genético do Coronavírus expelida pelas fezes e urina? 
Um grande ponto levantado é a questão de que a análise da contaminação de águas residuais pode ser uma importante ferramenta para identificar precocemente possíveis locais com surtos de COVID-19. Afinal, sabemos de onde a água residual está vindo. Ou seja, contribui-se para dar a identificação indireta de novos centros de pandemia. Neste caso os órgãos de saúde teriam subsídios para alocação de recursos de forma antecipada.
Em síntese, esta é uma excelente aplicação da geoquímica ambiental e da geologia médica. Não está claro até o momento se as águas residuais contaminadas são capazes de infectar seres humanos. Aparentemente não. No entanto a aplicação da geologia médica e da geoquímica ambiental em águas residuais nos dá a dimensão – pandêmica que o COVID-19 tomou. 
 

Diogo Gabriel Sperandio 
Geólogo formado na Universidade Federal do Pampa. Atualmente é doutorando em geologia na Universidade Federal de Minas Gerais.

 

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