Tecnologia, Liderança E Método Japonês Frente À Inequação Da Falta<Br> D´Água

A falta de água parte do princípio da inequação: oferta e demanda. O papel de uma organização de saneamento é manter a inequação acima de 1. Sempre que a produção de água for inferior à demanda, instaura-se o tão prejudicial racionamento e a falta d’água.


A falta de água parte do princípio da inequação: oferta e demanda. O papel de uma organização de saneamento é manter a inequação acima de 1. Sempre que a produção de água for inferior à demanda, instaura-se o tão prejudicial racionamento e a falta d’água. No Brasil recente, os indicadores de perdas d’água, teimosamente, se apresentavam na casa dos 37%, com o agravante deste número poder ser ainda maior. Não basta ter água em nossos mananciais, é preciso que ela, uma vez potabilizada, chegue aos lares da população, com quantidade e qualidade asseguradas.
Para tal, os sistemas de abastecimento de água precisam ser muito bem operados e mantidos, e os gestores desse recurso devem se valer de adequados métodos e conhecimento técnico, que garantam a racionalização na produção, distribuição e comercialização do produto.
A tecnologia emerge como uma grande aliada da situação atual. Medidores inteligentes que trazem sistemas integrados de comunicação e detecção ajudam serviços públicos a medir, administrar e analisar o consumo de água, contribuindo para a própria conscientização do consumidor. É importante que as concessionárias tenham eficazes ferramentas que auditem os hidrômetros, capazes de comparar o uso da água em tempo real com o desempenho efetivo do medidor, e as características de intervalo de vazão. Isso permite a detecção dinâmica de medidores que não foram selecionados ou dimensionados corretamente, questão básica que ainda está em ampla discussão hoje.
Há metodologias que podem servir de exemplo para superarmos essa situação. O método japonês de planejamento Hoshin Kanri - HK, em uso no Brasil desde os anos 80, aplicado em mais de 800 empresas brasileiras, já orientou o governo brasileiro em épocas de crise energética em 2001. Estávamos na iminência de adotar amplo racionamento, quando o governo brasileiro seguiu o gerenciamento pelas diretrizes - ou HK, que definiu metas de cortes por regiões, por distribuidoras de energia e usuários.
O governo interviu na equação de oferta e procura de energia, solucionando o problema pela via da redução de 20% do consumo (quando o problema era o déficit de 20% na oferta). Evitamos o racionamento, pois o engajamento da população fez com que equilibrássemos a relação oferta e consumo.
Passada mais de uma década, nos deparamos com problema semelhante, porém com soluções confusas, difusas, tanto com relação à falta d’água quanto de energia elétrica. Considerando a escassez hídrica sem precedente, nem sempre temos alternativas de ampliação da oferta, associadas à ausência de Planos Diretores de Abastecimento, nos restando a alternativa de redução da demanda. Portanto, dada a crise instaurada, caberá à população brasileira reduzir consumo, ora pela via da dor (elevação de preços), ora pelo amor (atender ao chamamento do governo, por nele acreditar), ora pela consciência.
Hoje é melhor que o consumidor adote metas rigorosas de redução, estabelecidas pelo método japonês, diariamente lendo seu hidrômetro, autocontrolando assim seu consumo, adequando suas instalações e hábitos. É conveniente também que os operadores implementem seus programas de combate às perdas, principalmente por meio da ampliação do conhecimento tecnológico, liderança forte e método.
Trata-se de um esforço duplo, ambos com impacto na demanda. O método posterga o racionamento, deixando no ar crises reincidentes, na esperança de que nossos líderes tirem lições de mais este dramático momento.

 

Mário Augusto Baggio
Sócio gerente da Hoperações Consultoria em Gerenciamento Ltda,
especialista na formulação e execução de estratégias de redução de perdas
de água e de agregação de valor em companhias de saneamento públicas e privadas

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