A Questão Do Saneamento, Ou Da Falta Dele

Para garantir abastecimento de água potável para sua população, o Brasil ainda precisa resolver seu mais grave problema estrutural, o saneamento básico


Pouco mais da metade dos domicílios brasileiros estão ligados a redes coletoras de esgoto. Isso é muito ruim, e para dizer o mínimo, inadmissível para um país que caminha para ser a quinta economia do mundo. Mas pode ser pior ainda a questão do tratamento do esgoto. Cerca de 70% de toda essa sujeira é jogado in natura nos rios, lagos e no mar. Sim, só 30% recebe algum tipo de tratamento, o que é de derrubar qualquer IDH.
Se é possível complicar ainda mais a situação? É sim. O modelo convencional de tratamento de esgoto demanda o uso intensivo de água potável, recurso cada vez mais escasso, raro, e caro, que é usado para transportar o esgoto doméstico do vaso sanitário até as estações de tratamento.
Tem gente pensando nisso. Tecnologias alternativas têm sido aplicadas experimentalmente com sucesso no Brasil e no mundo para fazer isso sem o uso de água potável. Isso é pra lá de importante não só no que toca à redução de consumo da escassa água potável, mas também por que os sistemas secos não geram efluentes para contaminar nossos pobres e malcheirosos rios.
A professora Miriam Barros Teixeira, da UFF (Universidade Federal Fluminense) pesquisou alternativas para o tratamento convencional de esgoto para seu trabalho de dissertação do curso de pós-graduação de engenharia, e chegou ao sanitário seco, uma adaptação moderna da antiga gestão de dejetos, que permite a compostagem e a destruição de organismos que causam doenças. Além de não usar água e não contaminar os mananciais, o sistema favorece o uso tanto da urina quando dos dejetos sólidos como nutrientes para o solo.
Ela diz que em sua pesquisa as experiências que mais chamaram a atenção pelo mundo foram duas: A da universidade de Vancouver, no Canadá, que tem o selo de uma construção verde e transformou todo seu sistema de saneamento em sanitário seco. O modelo foi patenteado nos anos 70 e gera um composto que é usado nos jardins da faculdade. A outra é a da Mongólia, região de solo pobre, onde um conjunto de apartamentos de cinco andares (proporção considerada ideal na sustentabilidade) trabalha com esse conceito e obtém o material de que precisa para a fertilização da terra.
Nos Estados Unidos o sanitário seco é notícia mas não novidade, segundo a professora. Ela conta que nos anos 70 houve um forte apelo pela vida natural e o sanitário seco foi introduzido na cultura americana. Lá existem algumas marcas e equipamentos diferentes que podem ser encontrados no supermercado ao preço médio de 2.500 dólares, e montados em casa.
No Brasil, a professora destaca a experiência do IPEC Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, na serra de Pirenópolis, em Goiás, um lugar de arquitetura alternativa onde tudo está em harmonia com a natureza, e que usa o sanitário seco, batizado com o peculiar nome de húmus sapiens. Usa serragem para criar a proporção adequada de carbono, encontrado na serragem e nitrogênio encontrado nas fezes humanas, mistura que, com auxílio de oxigênio, e depois de compostada em duas câmaras, é usada como adubo orgânico na agricultura. Ela garante: Não tem mau cheiro.

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