Principais Problemas Causados Pelo Chorume

Chorume é uma substância líquida resultante do processo do apodrecimento de matérias orgânicas. Este líquido é muito encontrado em lixões, cemitérios e aterros sanitários. É viscoso e possui um cheiro muito forte e desagradável como coisa podre


Principais Problemas Causados Pelo Chorume

 

Chorume é uma substância líquida resultante do processo do apodrecimento de matérias orgânicas. Este líquido é muito encontrado em lixões, cemitérios e aterros sanitários. É viscoso e possui um cheiro muito forte e desagradável como coisa podre. Também chamado por líquido percolado ou lixiviado, é um líquido poluente, de cor escura, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos. Esses processos, somados com a ação da água das chuvas, se encarregam de lixiviar compostos orgânicos presentes nos lixões para o meio ambiente.
Tem uma grande carga orgânica (DBO) e também pode conter metais pesados e outras substâncias que estão junto com o líquido. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB, com informações até o ano de 2008, a disposição final de lixo nos municípios brasileiros é dividida da seguinte forma: 50,8 % em lixões, 22,5 % em aterros controlados e 27,7 % em aterros sanitários.
Um lixão é uma área de disposição final de resíduos sólidos sem nenhuma preparação anterior do solo sem nenhum sistema de tratamento de efluentes líquidos, ou seja, o lixo fica exposto sem nenhum procedimento causando diversas consequências ambientais e sociais negativas. Diante desse cenário, o chorume penetra pela terra levando substancias contaminantes para o solo e para o lençol freático. Moscas, pássaros e ratos convivem com o lixo livremente no lixão a céu aberto, além do contato direto de crianças, adolescentes e adultos que catam comida e materiais recicláveis para vender.
No caso do aterro sanitário existe um controle, que é feito pelo município, nele são descartados resíduos sólidos provenientes de residências, indústrias, hospitais e construções. Grande parte deste lixo é formada por materiais não recicláveis. Os aterros sanitários são importantes, pois solucionam parte dos problemas causados pelo excesso de lixo gerado nas grandes cidades.
Temos ainda o aterro controlado, normalmente é uma parte do lixão, mas que recebeu cobertura de argila, grama e captação de chorume e gás. Esse espaço é preparado para receber resíduos com uma impermeabilização com manta para melhorar os impactos negativos. Nele é feito a recirculação do chorume que é coletado e levado para cima da pilha de lixo, diminuindo a sua absorção pela terra ou eventualmente outro tipo de tratamento.
Robert Atademo, representante da Tera Ambiental, explica que no caso dos aterros existem dois tipos, o Chorume de Aterro Classe 1 e o de Classe 2. O primeiro caso trata-se do resíduo com a presença de contaminantes físicos e químicos, como óleos e graxas, metais pesados, entre outros, oriundos dos resíduos recebidos nesse tipo de aterro. Já o Chorume de Aterro Classe 2 é o líquido proveniente da matéria orgânica em decomposição nos aterros sanitários.
Caso não seja tratado, ele pode atingir lençóis freáticos, rios e córregos, levando a contaminação para estes recursos hídricos. Neste caso, os peixes podem ser contaminados e, caso a água seja usada na irrigação agrícola a contaminação pode chegar aos alimentos (frutas, verduras, legumes, etc), desta forma, destacamos o processo de tratamento do chorume como muito importante para o meio ambiente.
"O processo de decomposição inclui substâncias físicas, químicas e biológicas que, misturadas à água, dão origem ao chorume.
A decomposição desta matéria orgânica como citado, pode ocorrer nas mais diversas formas de descarte de resíduos, seja em aterros indústrias que controlam o chorume gerado, assim como os aterros sanitários, que depois terão que dar devido destino e tratamento", destaca Giltamir Moura Baptista, representante da Gimoba Ambiental.

 

Principais Problemas Causados Pelo Chorume

 

Aterros, lixões e principais problemas
Se descartado de forma inadequada no solo, o chorume ocasiona graves danos ao meio ambiente e à saúde pública. Robert explica que com baixa biodegrabilidade, alta carga de materiais na composição e compostos orgânicos tóxicos, este líquido residual, se não devidamente tratado, é capaz de atingir e contaminar o lençol freático, prejudicando desta forma os cursos e qualidade da água da região.
Com isso, perceber-se que os danos ambientais provocados pelo manejo inconsequente desse efluente alcançam sérias proporções, culminando em um ciclo completo de poluição da água, a contaminação vai desde sua origem até os corpos abastecidos, tornando-se nocivo aos animais e ao ser humano. 
Há duas possibilidades nas quais pode ocorrer a contaminação, uma é pela ação das águas da chuva outra é pela elevação do nível do aquífero através da infiltração de água. De acordo com Fábio Campos, professor de gestão ambiental da USP a profundidade do lençol freático é determinante para a existência de uma barreira de proteção.
O tipo de solo também influencia nessa mobilidade, solos arenosos não possuem capacidade de reter água ou contaminante em seus interstícios, já o solo argiloso é muito eficaz na retenção de líquidos, vale ressaltar também que a profundidade do lençol freático é determinante para a existência de uma barreira de proteção.
Ricardo Saad, engenheiro da MRA Serviços Ambientais explica ainda que o chorume por possuir uma carga orgânica elevada, se despejado na água superficial tira a vida do rio. Para ele a infiltração no solo, ocorre por negligência do homem, lixões ou aterros com uma construção fora de normas e também em cemitérios não tem a proteção do solo para ocorrer o depósito de cadáveres, portanto há a contaminação do solo e consequentemente das águas subterrâneas.
"Todo tipo de poluição causa riscos a saúde humana, pois pode ter uma grande pluma de contaminação, devido ao tempo que está sendo depositado o lixo ou outros materiais orgânicos e alguém pode estar consumindo essa água sem prévia análise e causa o risco a saúde humana. Também existe o risco desse chorume correr em canal aberto, podendo provocar contatos das pessoas com o chorume e contrair doenças pelo contato", completa o engenheiro.
Chorume de aterro sanitário é definido pela norma NBR 8419/1992 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) como efluentes líquidos gerados do resultado da percolação de água de chuva através dos resíduos sólidos dispostos em aterros sanitários, bem como da umidade natural desses resíduos. No entanto, a decomposição do lixo orgânico armazenado libera um líquido difícil de ser tratado.
Tais efluentes podem conter uma grande quantidade de matéria orgânica (biodegradáveis e não biodegradáveis – recalcitrantes), onde os compostos húmicos constituem um importante grupo, assim como os compostos nitrogenados, metais pesados e sais inorgânicos. De acordo com Fábio os compostos presentes no chorume se dividem em quatro grandes categorias:
Matéria Orgânica Dissolvida: correspondem, sobretudo, às macromoléculas de ácidos húmicos e fúlvicos, lignina e ácidos graxos. É justamente em função desses constituintes que o lixiviado assume sua coloração típica (escura), além de tensoatividade e alta capacidade de tamponamento, os quais afetam o comportamento das substâncias químicas no ambiente e modificam processos redox, solubilizando determinados metais e variando a toxicidade;
Compostos Orgânicos Xenobióticos: são os hidrocarbonetos aromáticos, compostos halogenados, fenólicos, alcoóis, aldeídos, cetonas e ácidos carboxílicos; os quais conferem alta toxicidade ao lixiviado;
Macrocomponentes Inorgânicos: são, sobretudo, os íons sódio, potássio, cálcio, magnésio, ferro, cloretos, sulfatos e amônio. Suas elevadas concentrações conferem uma alta condutividade ao lixivivado;
Metais Pesados: geralmente, estão presentes em menor quantidade, diminuindo ao longo do tempo de operação do aterro. A formação de sulfeto na fase metanogênica provoca a precipitação de boa parte desses constituintes.
Além disso, Fabio explica que a produção de chorume nos aterros sanitários sofre a influência de vários fatores, os quais afetaram sua composição e quantidade, ele cita alguns desses fatores: Taxa de precipitação anual; Presença de água superficial; Taxa de recirculação de lixiviado na célula; Irrigação da cobertura final; Características do solo e da vegetação de cobertura; Características do material de cobertura; Escoamento superficial; Infiltração; Evapotranspiração; Temperatura; Composição e umidade do resíduo; Profundidade da célula; Métodos de impermeabilização e compactação empregados e Características do solo.
De um modo geral, essas fases são em função do tempo de operação do aterro, sendo assim, os lixiviados de aterro sanitário podem ser classificados de acordo com a idade que o aterro sanitário possui em ChorumeNovo, oriundo de células com até 4 anos de operação, apresentam elevada concentração de matéria orgânica biodegradável (DQO superior a 10.000 mgO2.L-1, com relação DBO/DQO > 0.3 ), pH ácido devido a alta concentração de ácidos graxos.
No caso do Chorume Estabilizado, possuem menor concentração de matéria orgânica biodegradável (DQO < 4000 mgO2L-1, com relação DBO/DQO < 0,1) e elevada concentração de matéria orgânica refratária, pH alcalino devido ao aumento de compostos nitrogenados e intensa produção de gases.

 

Principais Problemas Causados Pelo Chorume

 

Tratamento
Tratar corretamente esse resíduo é obrigação estabelecida em lei, além de um compromisso com o meio ambiente. No entanto, de acordo com Robert há muitos indicadores que dificultam o processo: Volume muito variável com a combinação da chuva e do processo de decomposição do lixo; Elevada carga orgânica e poluidora na composição; Resistência aos métodos convencionais de tratamento; Destinação final do chorume tratado para um corpo d’água e Atendimento às normas e regras ambientais exigidas.
Fábio explica que os mecanismos de tratamento para lixiviado de aterro sanitário podem ser categorizados em:Processos Físicos: Filtração, Difusão e Dispersão, Diluição e Adsorção; Processos Químicos: Precipitação e Dissolução, Complexação, Troca Iônica e Reações Redox; e Processos Biológicos: Aeróbios e Anaeróbios.
"A recirculação do chorume na própria célula do aterro pode ser considerada um método de tratamento, na medida em que permite a diminuição do volume por evaporação e aumenta a degradação anaeróbia com a conversão dos ácidos orgânicos em gás metano e dióxido de carbono. Essa técnica é amplamente empregada em diversos aterros sanitários no Brasil, uma vez que as condições ambientais são bem favoráveis", explica professor.
O tratamento biológico é o mais comum na maioria dos aterros brasileiros e é considerado um dos mais eficientes, além de ser um processo relativamente simples e de baixo custo. Basicamente realizado em três etapas que utilizam lagoas anaeróbicas, aeróbicas e de estabilização. Além de matéria orgânica, o chorume contém elementos altamente tóxicos como os metais, cádmio, cobre, cobalto, chumbo, mercúrio, arsênio entre outros. Estes componentes químicos, em contato com o solo, são extremamente agressivos, contaminando solo, água superficial e subterrânea, comprometendo todo o meio ambiente.
"Os aterros também, conforme norma, devem estabelecer em seus projetos formas de monitorar toda a área, a fim de minimizar qualquer impacto ambiental através de um monitoramento diário tomando todas as preocupações. Existem diferentes tipos de tratamentos, como os tratamentos primários, oxidativo, biológico, separação com membranas, evaporação, dentre outros. Em um aterro sanitário, os tratamentos mais utilizados são o biológico, químico ou por oxidação", enfatiza Giltamar.
O emprego da técnica ideal de tratamento para lixiviado de aterro sanitário garante a redução do impacto do lançamento desse resíduo no meio ambiente. Entretanto, Fábio explica que a complexidade na sua composição pode acarretar em dificuldades ao se formular uma recomendação geral de tratabilidade. Variação nos Aterros Sanitários, em particular no tempo de operação, podem significar o emprego de diferentes tipos de tecnologias para cada situação.
"As tecnologias de tratamento de chorume de aterro sanitário podem ser classificadas como: Processos Biológicos ou Processos Físicos-Químicos, podendo haver variantes de combinações entre ambos os processos. De uma forma geral, os Processos Biológicos mostram-se mais eficientes para tratamento de lixiviados estabilizados, enquanto que os Processos Físicos-Químicos para lixiviados novos", completa o professor.
Ricardo destaca ainda que o processo de tratamento do chorume é muito importante para reduzir e adequar as cargas poluentes e reduzir os impactos ambientais causados por esse efluente líquido. No caso dos cemitérios, há a necessidade de definir melhor as diretrizes de montagem dos espaços, prevendo a coleta e tratamento do chorume, de acordo com a geologia do local.
"O tratamento do chorume deve obedecer todos os critérios de projeto de sistema de tratamento de efluentes, fazendo a sua caracterização do efluente bruto para posterior definição do tipo de tratamento necessário. Normalmente, somente o sistema biológico reduz consideravelmente a sua carga orgânica", completa o engenheiro.

 

Principais Problemas Causados Pelo Chorume

 

Principais dificuldades
A variação da composição média do lixiviado é em função da contínua estabilização da matéria orgânica ao longo do tempo, sendo regida pelos processos de decomposição, bem como pela taxa de infiltração na célula do aterro. Sendo assim, de acordo com Fábio, a tarefa de planejar e projetar uma instalação de tratamento de chorume de aterros sanitários exige o conhecimento da concepção de aterros, quantidade e qualidade do lixiviado gerado, o grau de tratamento necessário, e métodos de disposição final do efluente e de resíduos.
Entretanto, devido às suas características típicas, alguns problemas são comuns ao tratamento desse efluente, tais como: A presença de compostos orgânicos recalcitrantes e potencialmente tóxicos como fatores determinantes na seleção e utilização de tecnologias de tratamento; A variabilidade da composição dos lixiviados de diferentes aterros são tais que dificulta a existência de uma tecnologia que atenda a todas as situações; A influência de fatores climáticos e hidrológicos (regimes de chuva) na composição do lixiviado; e o fator da idade do aterro que pode intervir na quantidade e constituição do chorume.
Ele ressalta ainda que fatores como: taxa de precipitação anual, temperatura média, tipo de compactação, idade do aterro, entre outros, também influenciam na composição do chorume gerado, além disso, as cargas orgânicas e tóxicas podem comprometer por muito tempo a qualidade das águas superficiais e subterrâneas, situadas próximas ao aterro.
"Definitiva por si só, a questão das consequências para o ambiente, no entanto, não é o único argumento a favor do necessário tratamento do chorume. Diante da gravidade destes possíveis desdobramentos, a norma NBR 8419/1992  dispõe sobre as condições mínimas estabelecidas para a construção de um aterro sanitário, exigindo que o projeto inclua um sistema de coleta, drenagem e tratamento de líquidos percolados. O tratamento do chorume é questão de lei, sujeitando os descumpridores a arcarem com punições que vão desde multas à paralisação dos serviços do aterro", destaca Robert.
"As características do chorume gerado varia muito de um aterro para outro. Por isso há necessidade de fazer um bom levantamento das condições, uma boa caracterização dos efluentes gerados, antes de definir o tipo de tratamento. Assim como outros tipos de tratamentos, não dá para estabelecer que todo chorume é igual, completa Ricardo.

 

Contato das empresas:
Fábio Campos: www.usp.br
Gimoba Ambiental: gimoba25@yahoo.com.br
MRA Serviços: www.mraservicosambientais.com.br
Tera Ambiental: www.teraambiental.com.br

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