Soluções Ecológicas Para Tratamento De Água E Efluentes

Os problemas com a escassez de água têm impulsionado novas técnicas para se utilizar os recursos hídricos de forma responsável e inteligente. A medida que a agenda do Saneamento Ambiental se desdobra no Brasil


Soluções Ecológicas Para Tratamento De Água E Efluentes

 

Os problemas com a escassez de água têm impulsionado novas técnicas para se utilizar os recursos hídricos de forma responsável e inteligente. A medida que a agenda do Saneamento Ambiental se desdobra no Brasil, acompanhada com a carência de recursos hídricos, existe a prospecção de projetos cada vez mais ecológicos e integrados.
O cenário de fortalecimento das leis sob aspecto ambiental, bem como a segmentação de tecnologias e o aprimoramento de técnicas de controle ecológico, possibilitam a construção do conceito de "Estações de Tratamento de Esgoto Sustentável". Trata-se de unidades de tratamento de esgoto, devidamente legítimas, que atingem resultados operacionais com menos impacto ambiental, elevado nível de automação e dispositivos de controle.
Com a utilização de sistemas ecológicos é possível tratar e reutilizar tanto águas provenientes de pias, chuveiros, cozinha e lavanderia (águas cinza), quanto às oriundas de bacias sanitárias (águas negras). A água proveniente deste tratamento pode ser usada para a lavagem de calçada, rega de plantas bem como para descarga nas bacias sanitárias.
De acordo com Hiago Vilar, representante da EcoCasa, o tratamento do esgoto de maneira ecológica significa utilizar recursos da própria natureza para fazer a decomposição da matéria orgânica com o mínimo de aditivos químicos possíveis. Enquanto o método convencional compreende um vasto processo físico-químico para separar e tratar a carga orgânica presente no esgoto, as estações biológicas de tratamento utilizam um processo biológico em um ambiente controlado onde bactérias fazem a decomposição do esgoto.
"É evidente que existe a evolução e a tendência de uma Estação de Tratamento sob os modelos fabris com arranjo de etapas cada vez mais tecnológicas, contudo com a participação efetiva dos elementos disponibilizados pela natureza e a participação social, o apelo sustentável. Portanto, se avança em equipamentos que atingem a interpretação do meio ambiente, extraindo o recurso necessário, promovendo a preservação e estabelece a qualidade de vida com a difusão do Saneamento" – explica Carlos Gontijo, superintendente da Águas de Juturnaíba.
Existem diversas técnicas para o tratamento de esgoto. Carlos Marmo, supervisor do setor de gestão da implementação da programação de transferência de tecnologia da Embrapa, explica que o técnico especialista ou o engenheiro devem definir qual a melhor solução ou técnica para aquela situação. "São várias técnicas e centenas de tecnologias, tudo depende do tipo de esgoto a ser tratado e qual a finalidade de uso depois" – destaca. De acordo com o especialista, todo tratamento de esgoto é biológico, ou seja, uma estação de tratamento de esgoto tanto aqui no Brasil como na Suíça, se tratar esgoto e devolver para a natureza conforme a legislação é sustentável.

Os processos
De acordo com Vilar, o tratamento físico-químico torna o processo de tratamento de esgoto inviável para pequenas e médias escalas, além disso, este tipo de sistema requer a constante operação e monitoramento e são utilizados para finalidades muito específicas. Com o tratamento biológico, além das estações serem 100% automáticas, a água resultante pode ser devolvida para a natureza e em alguns casos é possível, inclusive, fazer o reúso aplicando-se técnicas de desinfecção e polimento após o tratamento.
O processo padrão de tratamento biológico de esgoto para descarte em corpos hídricos colabora diretamente para a recarga de tais corpos, já o reúso é sinônimo de economia e uma realidade cada vez mais próxima do Brasil que já chegou em diversos lugares do mundo. Todo este esforço e o fortalecimento do mercado de tratamento biológico e reúso são reflexos da real necessidade promovida pela crise hídrica. Em tempos de escassez, utilizar a tecnologia e a criatividade é a principal solução para garantir a sustentabilidade do ciclo hidrológico. Vilar destaca alguns tipos de processo:
Sistemas Anaeróbios – Neste sistema, o esgoto é lançado em um tanque séptico e em seguida encaminhado para o filtro biológico submerso (FAZ), onde bactérias que se proliferam em ambiente com baixo nível de oxigênio farão a decomposição da matéria orgânica presente no efluente. Com este método não é possível fazer o descarte da água em corpos hídricos. A água tratada deve ser lançada em um sumidouro, que fará a infiltração sistemática e segura da água no solo, que fará o restante da depuração. Ao chegar no lençol freático, a água já estará pura e carregada de minerais.

 

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Sistemas Aeróbios – Os contaminantes presentes no esgoto serão degradados a partir de injeção de ar (aeração), este processo poderá ser o único a ser utilizado no tratamento ou usado como complemento ao sistema anaeróbio. Desta maneira, as bactérias que se proliferam em ambientes com maior nível de oxigênio farão o trabalho de decomposição da matéria orgânica presente no esgoto e por último a água passa por um processo de desinfecção, que varia de acordo com cada projeto. Com a alta eficiência deste tratamento, a água pode ser descartada em corpos hídricos ou ainda encaminhada para um sistema de reúso. Este processo é natural e ecológico, não gerando impactos negativos ao ambiente natural.
Gontijo explica que o tratamento de efluente de forma ecológica, de uma maneira simplificada, consiste na remoção eficaz de contaminantes do esgoto associada à mitigação de impactos ambientais. Nas unidades de tratamento do esgoto doméstico, o processo convencional de digestão de efluentes, normalmente, busca atingir o desempenho de resultados a partir de técnicas processuais estruturadas, contudo com ações menos harmônicas, observadas principalmente no consumo de energia e produtos químicos, padrões de controle arrojado, possíveis emissões de odor e propensão a ruídos.
"Já as unidades de conceito sustentáveis, utilizam com práticas ecológicas evidenciadas na utilização de métodos de baixo impacto ambiental (odores e ruídos), tratamento modular (integrado e cíclico). Aplicação de uma operação menos crítica, com simplicidade no manejo e controle que atingem resultados a médio e longo prazos, bem estabelecidos" – completa.

Projetos
A utilização de lagoas com plantas aquáticas para o tratamento tanto de esgoto doméstico como o efluente industrial é uma realidade tanto nos Estados Unidos como no Canadá. O tratamento com plantas aquáticas é muito superior ao tratamento convencional de esgoto, seja anaeróbio ou aeróbio.
Águas de Juturnaíba, atuante no saneamento da Região dos Lagos no Estado do Rio de Janeiro, acompanha a tendência da aplicação de soluções ecológicas em seus projetos e processos operacionais. A Estação de Tratamento de Esgoto de Ponte dos Leites representa claramente a proposta de fatores sustentáveis integrados ao controle operacional e desempenho. A ETE é considerada a maior unidade que utiliza Wentland no seu tratamento na América Latina. Possui uma vazão aproximada de 200 L/s e atendimento populacional de mais 73 mil habitantes no município de Araruama.
O arranjo de etapas totalmente eficiente acompanha ações ecológicas sem qualquer dosagem de produtos químicos e mínimo consumo energético. A unidade é legitima sob o aspecto operacional e legal, pois acompanha as exigências dos órgãos ambientais e normas técnicas de engenharia.
Gontijo explica que o processo da ETE Ponte dos Leites se inicia a partir da remoção de material grosseiro (resíduo sólido doméstico, areia e gordura) estabelecido por grades e caixas de retenção de areia e gordura, posteriormente o afluente é conduzido a fase biológica com digestão orgânica e retirada dos sólidos dissolvidos nas Lagoas. Existe o desempenho da atividade microbiológica e atuação a atividade solar. E finalmente o processo se conclui no desempenho das atividades das plantas constituído em "canteiros alagados", chamados Wentland. Existem pelo menos 3 espécies de plantas atuantes na remoção de nutrientes (nitrogênio e fosforo) distribuídos nos jardins.
Outro fator sustentável aplicado neste processo é o direcionamento do resíduo de processo gerado. As plantas podadas são encaminhadas, assim como o lodo (biomassa de processo) removido são encaminhados para o processo de Compostagem, ativo no complexo da ETE Ponte dos Leites. O composto estabilizado, resultante da mistura de podas e lodos, pode ser disponibilizado na fecundação de mudas de plantas e recuperação de áreas degradadas.
A ETE Ponte dos Leites funciona constantemente (24h por dia) com monitoramentos reais, baixo custo, com mínimo impacto ambiental e desenvolvimento da fauna e flora local que fortalece, desta forma, a expectativa de uma performance operacional integrada a solução ecológica.
"Os aspectos ecológicos e sustentáveis aplicados na empresa Águas de Juturnaíba são evidenciados nas práticas de conscientização. Existe um ciclo constante de palestras que atingem públicos diversos (crianças, adolescentes, estudantes e pesquisadores acadêmicos) que difunde a proposta integradora do saneamento. A empresa promove projetos de preservação do meio ambiente como reflorestamento, despoluição de rios e a construção de hortas em escolas. Existem várias parcerias na reutilização dos resíduos do processo (plantas) na elaboração de artesanatos, que garante o empreendedorismo e o impacto social à comunidade local de Araruama"

 

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Tratamento e reúso de água
A preservação do meio ambiente e o consumo consciente de água passaram a ser itens de extrema importância no cotidiano. Segundo o Relatório das Nações Unidas, nas últimas décadas, o consumo de água aumentou 200% mais que o crescimento da população, e a estimativa é que a demanda cresça mais 55% até 2050. Se forem mantidos os mesmos padrões atuais de consumo, o mundo enfrentará um déficit no abastecimento de água de 40%, em 2030. 
De acordo com Vilar, a conscientização continua sendo o melhor caminho. Quanto maior a consciência sobre o que se descarta no esgoto, menor o prejuízo para as estações municipais. "Evitar o descarte de óleo, por exemplo, é uma atitude que pode salvar milhões de litros d’água. Já para empreendimentos afastados, o ideal é não fazer o uso de fossas negras, optando sempre por sistemas de tratamento anaeróbios com o correto dimensionamento" - explica.
Ele ressalta ainda que em um país que ainda não trata metade de seu esgoto, o modelo descentralizado (de estações compactas) tem se mostrado promissor para os próximos anos, dado a versatilidade e a eficiência do tratamento. "Este tipo de tratamento vem evoluindo bastante nos últimos tempos e que atualmente esta técnica permite remover acima dos 90% da matéria orgânica inicial, presente no esgoto doméstico, de forma natural e ecológica" – completa.
Outra grande tendência é o reúso, que também já é uma nova realidade no Brasil. O tratamento da água cinza é relativamente simples, dependendo do objetivo do reúso, podendo ser feito nas próprias residências, inclusive com aplicação direta no solo, para irrigação de árvores e jardins, desde que sejam seguidos alguns critérios de ordem sanitária. Já o efluente do vaso sanitário de água negra necessita de sistemas de tratamento mais complexos para reduzir sua carga de agentes patogênicos.
Para Marmo, economizar e criar mudanças no habito com ações simples de economia de água doméstica, banhos mais rápidos, controle de vazamento, podem ajudar em todo esse processo. "Em casa é possível reutilizar água de máquina de lavar, do banho etc, mas vale ressaltar que o reúso de esgoto precisa de um tratamento específico. Necessita passar por uma estação de tratamento, ou seja, ter um sistema que consiga dar qualidade para a água e evitar contaminação" - explica.
De acordo com o especialista da Embrapa, as técnicas para tratar esgoto de hoje são as mesmas de anos atrás, o que está sendo feito atualmente é implementação de soluções para remover produtos que antes não era possível, por exemplo, resíduos de remédio e hormônios. "Essa é uma tendência moderna, as estações de tratamento de esgoto contam hoje com processos que vão remover novos resíduos. A tendência é que as estações estejam melhorando seus processos, por meio de tecnologias específicas", completa.

 

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Contatos
Águas de Juturnaíba: www.grupoaguasdobrasil.com.br
EcoCasa: www.ecocasa.com.br
Embrapa: www.embrapa.br

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