Controle De Odor: Mercado Ainda Tem Muito A Avançar

O mau cheiro provocado pelas estações de tratamento de efluentes e esgoto chega a ser considerado um problema de saúde pública. Mas a boa notícia é que se trata de algo perfeitamente contornável. Por isso, os fornecedores de sistemas de controle de odor


Controle De Odor: Mercado Ainda Tem Muito A Avançar

 

O mau cheiro provocado pelas estações de tratamento de efluentes e esgoto chega a ser considerado um problema de saúde pública. Mas a boa notícia é que se trata de algo perfeitamente contornável. Por isso, os fornecedores de sistemas de controle de odor tentam traçar novas diretrizes para o setor. Às voltas com uma demanda aquecida, o mercado ainda derrapa e se retrai frente a tecnologias mais inovadoras - leiam-se: as mais caras, porém, muitas delas, viáveis. O que se atesta é potencial para avançar e incorporar novidades, indo além dos sistemas tradicionais.
Soluções para o controle de odor não faltam. No quesito inovação, a Eco Tech System prevê trazer ao mercado nacional o sistema de controle de odor pelo processo de fotoionização. Trata-se de um projeto (em desenvolvimento) com uma empresa internacional, cuja tecnologia é baseada na aplicação de luz ultravioleta (UV) e em um catalisador. A primeira parte do processo imita reações naturais que ocorrem na atmosfera superior, pela interação entre o ar e a radiação ultravioleta, proveniente do sol. O ar odoroso passa por uma câmara onde é exposto à luz UV intensa que, por sua vez, cria radicais livres, que imediatamente começam oxidando os compostos causadores do odor.
Por ora, o lançamento da Eco Techo System é um novo biofiltro. No formato de skid, o sistema pode ser totalmente montado e testado na fábrica. "Os tamanhos e capacidades serão padronizados com o objetivo de oferecer um sistema eficiente, simples de baixo custo de implantação e operação, quando comparado com outras tecnologias" – aponta o diretor técnico Jorge Pavan.
Para o controle de odor, a empresa conta com: sistema de controle pelo processo de oxidação química por meio de torre de absorção (lavador de gases), sistema de controle pelo processo de adsorção por meio de filtro de carvão ativado, e sistema de controle de odor pelo processo biológico por meio de biofiltros.
A menina dos olhos da Dux Controle de Odores tem nome e sobrenome: Gas Solution Neo. Essa tecnologia neutraliza o gás sulfídrico através de sistemas de nebulização. "Dentro da nossa linha é o produto mais difundido para o tratamento de efluentes" – comenta um dos porta-vozes da companhia, Allan Spaziani. Formulado à base de óleos essenciais, ele é atóxico e biodegradável. Além disso, possui características reagentes, que ao entrar em contato com as moléculas dos gases odoríferos e compostos orgânicos presentes na atmosfera, promove uma reação química nessas moléculas, e, por consequência, a neutralização destes gases, transformando-os em compostos inofensivos e inodoros.
Atenta às exigências do mercado, a empresa desenvolveu também uma nova tecnologia para combater o gás sulfídrico de uma forma mais rápida. Trata-se do Gas Solution EVO HS. Segundo a fabricante, sua fórmula apresenta uma taxa de reação alta, possibilitando uma aplicação móvel e eficiente no combate ao gás, seja na desinfecção e/ou na contingência de ambientes. A linha Gas Solution é capaz de realizar a neutralização de gases industriais presentes na atmosfera, sejam emitidos de maneira natural ou através de processos fabris.
O Odorcap, apesar de não se tratar de uma novidade, tem sido o destaque da Compass Minerals América do Sul Indústria e Comércio. Utilizado por empresas como a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e Companhia de Saneamento do Paraná  (Sanepar), o produto traz como característica primordial oferecer uma solução completa no controle de odor em esgoto sanitário e em efluentes industriais. "Começa na aplicação de químicos e é complementado com o monitoramento remoto da emissão dos gases que causam o problema de odor", explicam os porta-vozes da Compass, o coordenador técnico, Sidnei Ferreira Pires, e Wilson Luiz Oliveira, assistente técnico de vendas.
Ao ser incorporado ao efluente, o Odorcap faz com que as bactérias deem preferência pela busca do oxigênio existente na mistura das moléculas de nitrato, de modo a não atacar as moléculas de sulfato. Não por acaso, segundo Pires e Oliveira, trata-se do atual líder da categoria no que diz respeito ao odor proveniente de gás sulfídrico. Esse sistema une produtos químicos à base de uma mistura de nitratos ativados a equipamentos analíticos online de última geração, culminando em um processo logístico integrado.
Na prática, essa tecnologia atua diretamente na prevenção da formação do gás. Com ele, se faz o monitoramento do índice do gás poluente num determinado local, em tempo real, informando as equipes de controle das estações quanto aos níveis de concentração. "Podemos também armazenar, dosar e aplicar os produtos químicos necessários para a prevenção da sua formação, de forma automática" – completam.
Para se somar ao portfólio, há o Prodoxide, uma tecnologia para geração de dióxido de cloro. "Ele tem atuado também nesta área de controle de odor e desinfecção", contam. Os dois são produtos independentes, mas podem ser utilizados de forma combinada. "O Prodoxide ajuda a remover o biofilme formado em tubulações e tanques, por exemplo" – complementam. Vale dizer que as bactérias presentes nestes biofilmes podem contribuir para a formação e a presença das bactérias sulfato redutoras. Em 2016, a Compass Minerals adquiriu a antiga estrutura da Produquímica, responsável pelo lançamento do Prodoxide no ano passado.

 


De onde vem o mau cheiro

Os odores emitidos pelas Estações de Tratamento de Esgotos (ETE´s), em sua grande maioria, são formados por moléculas químicas que existem no esgoto sanitário e nos efluentes industriais. Estas moléculas são atacadas por microrganismos chamados bactérias sulfatoredutoras. Estas bactérias necessitam de oxigênio para sobreviver, e buscam em moléculas inorgânicas o átomo de oxigênio necessário para sua sobrevivência; acontece que a redução química dos sulfatos gera o gás sulfídrico, que segue para a atmosfera e provoca o mau cheiro, além de corrosões nas tubulações e danos à saúde pública, segundo os porta-vozes da Compass, o coordenador técnico, Sidnei Ferreira Pires, e Wilson Luiz Oliveira, assistente técnico de vendas.
A degradação da matéria orgânica contida no esgoto já se inicia dentro das tubulações do sistema de esgotamento, e esta degradação é responsável pela geração de compostos como a amônia, aminas, fenóis, aldeídos, além obviamente do composto principal dos odores: o sulfeto de hidrogênio.
Helvécio Carvalho Sena, químico doutor em engenharia sanitária e ambiental do departamento de planejamento e controle – TBP da Sabesp, explica que ao ser coletado, o esgoto doméstico passa pelas redes de esgotamento, onde não há o suprimento de oxigênio necessário para os microrganismos, de modo que se formam compostos que contêm o grupo sulfídrico (SH), denominado como mercaptana. Os compostos deste grupo funcional (SH), por sua vez, são extremamente mal cheirosos e o mais comum deles é o gás sulfídrico.
Como explica Daiane Honório, do departamento de marketing da Dux, normalmente, um sistema de coleta, transporte e tratamento de esgotos não gera odor em concentrações que possam afetar as pessoas. Porém, algumas condições, como o tempo em que o esgoto fica nas tubulações (tempo de detenção hidráulico – TDH) associado às temperaturas mais elevadas e à falta de oxigênio, estimulam o desenvolvimento de bactérias que reduzem os compostos que contêm enxofre, gerando o sulfeto de hidrogênio, substância que na maior parte do tempo causa o odor. "Porém há outras substâncias odoríferas também" – complementa.
Os locais onde são gerados os maiores níveis de odor em estações são: estações elevatórias, unidades de pré-tratamento, decantadores, sistemas de lodos ativados, adensadores de lodo, desidratação de lodo, disposição final de lodo, redes coletoras e locais com grande acúmulo de biofilme.



Problema recorrente
Não é de hoje que o odor é um transtorno nos sistemas de tratamento de esgotos públicos e privados. Por isso, ao longo dos anos, foram desenvolvidas diversas formas de lidar com essa questão, seja com a aplicação de produtos químicos, filtros biológicos ou lavadores químicos. O mais comum deles é o primeiro, porém, cada vez mais, outros métodos vêm galgando espaço entre os usuários. "Tudo depende do projeto desenvolvido pela estação e pelos responsáveis pelo projeto" – afirmam os porta-vozes da Compass Minerals.
Segundo Pires e Oliveira, para estações que já se encontram projetadas e são surpreendidas pelo surgimento do odor, muitas vezes, opta-se pela aplicação de produtos químicos devido à sua praticidade e à rapidez de ação. Isso ocorre porque outros métodos, às vezes, requerem obras civis e uma parada da estação. Por outro lado, conforme conta Pavan, da Eco Techo System, a aplicação de produtos químicos na rede coletora não resolve o problema totalmente, só minimiza as emanações, e tem custos relativamente altos.
Pavan faz um adendo. Segundo ele, as tecnologias para o controle de odor foram desenvolvidas considerando os esgotos como matéria orgânica, porém muitos produtos inorgânicos são despejados na rede coletora de forma indevida. Ou seja, a tecnologia a ser escolhida deve levar em conta o todo e eventuais variáveis.
É bem isso. Não há uma solução padrão. A escolha dependerá da substância que está sendo liberada do efluente industrial. Nas estações de tratamento de esgoto doméstico pode-se aplicar um determinado produto químico, se o problema estiver ao longo da rede de coleta. No entanto, também é possível instalar um lavador de gases, caso o problema seja pontual e a área disponível for pequena, conforme afirma Helvécio Carvalho Sena, químico doutor em engenharia sanitária e ambiental do departamento de planejamento e controle – TBP da Sabesp.
"Se for um composto orgânico volátil, uma solução bem interessante são os biofiltros" – complementa. Aliás, Carvalho de Sena chega a fazer apologia a este tipo de tecnologia. "É uma solução muito econômica em termos de operação. Enquanto os tratamentos térmicos e lavadores químicos são mais baratos em termos de investimento, mas tem alto custo de operação" - resume. Para ele, trata-se de um "método bastante eficaz", pois oferece a vantagem de operar com vários compostos, desde o benzeno até o gás sulfídrico (este último é responsável por 90% do odor de estações de tratamento de esgotos).
Mas nem por isso, o seu consumo é consagrado. "No Brasil, ainda é incipiente a utilização de biofiltros" – aponta, e revela que tem um estudo (em andamento) com essa tecnologia, na qual utiliza mídia com alta área superficial (20.000 m2/m3) que poderá ser aplicada para remoção de compostos, como mercaptana, ácido sulfídrico e compostos orgânicos voláteis. Em tempo, vale dizer que, em linhas gerais, o processo com biofiltros baseia-se na remoção de compostos através de microrganismos que se desenvolvem dentro do reator em condições controladas de umidade, matéria orgânica e nitrogênio.
De qualquer forma, o sistema tem pontos negativos também. Um deles, segundo Pavan, se refere à exigência de uma área para montagem muito maior do que os sistemas com lavador de gases, até porque nem sempre este espaço está disponível nas ETE’s (Estações de Tratamento de Esgotos) ou nas EEE (Estações Elevatória de Esgotos). No entanto, a seu favor, está o fato de que, nesse caso, o meio filtrante só requer controle de umidade, e sua vida útil é estimada entre cinco a 10 anos. Enquanto no sistema com lavador de gases, a dosagem de químicos é determinante para o perfeito funcionamento do sistema, portanto, exige-se especial atenção em seu monitoramento, controle e sobretudo manutenção e obviamente o abastecimento dos produtos químicos (soda cáustica, hipoclorito de sódio ou peróxido de hidrogênio).
Seria leviano apontar uma tecnologia como a mais eficiente. No entanto, no entendimento da Compass, na maioria das vezes opta-se pela dosagem de produtos químicos mesmo. Para Pavan, no entanto, as tecnologias mais modernas passam por aquelas que minimizam os custos operacionais, como os biofiltros e a fotoionização. Ele lembra também da tecnologia de controle dos odores com a aplicação de Ozônio (O3), capaz de substituir a dosagem de químicos no processo de controle por oxidação. Mas aí, há o entrave financeiro. "Os custos dos geradores de ozônio de alta capacidade ainda são muito elevados" – relata Pavan.
Carvalho de Sena tem outro ponto de vista. Ele tem notado a instalação de equipamentos de geração de ozônio em locais em que já há o confinamento dos gases. "Atualmente o custo de implementação e operação estão decaindo e são muito eficazes" - comenta.

 

Controle De Odor: Mercado Ainda Tem Muito A Avançar

 

Mercado
Justamente por essa variedade de opções em sistemas de controle de odor, o mercado é bastante competitivo. Mas isso não é um problema. Há demanda. Segundo Pavan, a procura por este tipo de tecnologia vem crescendo cada vez mais por conta das estações de tratamento de esgoto, que estão maiores e com demandas em expansão. "O setor está crescendo lentamente, porém com potencial grandioso para investimentos e inovações" – diz.
Em outras palavras, trata-se de um mercado a ser explorado. Porém, como alerta Daiane Honório, do departamento de marketing da Dux, o setor é retraído pelo precário saneamento básico nacional. Ou seja, as falhas no controle de odor, como se diz, são só a ponta do iceberg. "A falta de saneamento básico, que é um atraso imenso no país, de planejamento na ocupação urbana e de conscientização das empresas e ETE’s, quanto às leis ambientais, agrava ainda mais a situação" – afirma. E completa: "em alguns lugares, dificilmente o assunto sobre o controle de odor é abordado".
Carvalho de Sena traça um panorama do cenário. O controle de odor é o que ele chama de "quarta onda do saneamento", como se fosse uma última etapa de uma rota que começou com a oferta de água potável à população, passou pela coleta e o afastamento dos esgotos e depois pela conscientização sobre a necessidade de melhorias no tratamento do esgoto coletado. Apesar desse caminho já trilhado, há muito a percorrer. No âmbito público, trata-se de um "processo em consolidação", enquanto no privado, a adoção deste tipo de tratamento depende da fiscalização dos órgãos responsáveis. Ou seja, não é um conceito incorporado às diretrizes das empresas. "O controle de odores ainda é uma novidade" – resume.
Ele conta que no Brasil prevalece a postura de detecção de odor através do olfato humano. Dessa forma, segundo as legislações dos estados, em geral, prevê-se simplesmente que o odor não seja perceptível. "Infelizmente, não se adotou o critério mais técnico como o utilizado no exterior, chamado de Unidade Olfatométrica (UO)" – afirma.
De qualquer maneira, é consenso que o mercado de fornecedores de sistemas para controle de odores é bastante promissor e tem muito potencial para absorver tecnologias mais inovadoras. Essa é a aposta do setor.

 

Contatos
Compass Minerals:
www.compassminerals.com
Dux: www.duxgrupo.com.br
Eco Tech: www.ecotechsystem.com.br
Sabesp: www.sabesp.com.br

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